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Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2013 às 14h06.
São Paulo - Há um mês, José Rodolfo Pfaffmann, de 25 anos, teve de tomar uma decisão crucial. Após um ano e meio como trainee, conhecendo, trabalhando e desenvolvendo projetos nos diversos departamentos da Votorantim Cimentos, ele precisou definir em que área se estabeleceria.
“É muito angustiante, porque, depois de receber um treinamento generalista, esse é o momento em que você tem de se especializar em algum setor. É muito sério, pois é isso que vai direcionar toda a minha carreira e todas as oportunidades que vou ter dali em diante”, diz José Rodolfo. “Se eu tomar a decisão errada, vai ser muito mais difícil dois anos depois querer mudar de área e recomeçar do zero em outro ramo do negócio”, afirma.
Durante o mês de junho deste ano, José Rodolfo teve de optar entre as áreas de suprimentos e transportes, as suas favoritas. “Gosto da parte estratégica, mas sou um pouco ansioso. Olho o corporativo, mas tenho vontade de pôr a mão na massa e ver as coisas acontecerem”, analisa.
O fim do treinamento marca a fase em que o jovem tem de definir o rumo que vai dar para sua vida profissional. Se até então a companhia estava aberta para prepará-lo e ajudá-lo na tomada de decisão, a partir dali espera-se que ele comece a dar retorno. Por isso, se futuramente resolver mudar de departamento, não vai encontrar um ambiente tão favorável nem todo o suporte que teve da empresa e dos funcionários durante o programa de trainee. Então, o que levar em conta na hora da decisão? A seguir, você confere alguns pontos que devem estar no seu radar.
Autoconhecimento
Além de dar visão sistêmica do negócio, um dos objetivos do chamado job rotation (a atuação nos diferentes departamentos da corporação) é facilitar a identificação do setor com o qual o jovem universitário tem mais afinidade. Para a consultora Marisa da Silva, da Career Center, durante esse processo o candidato deve aproveitar para conhecer ao máximo a rotina das pessoas de cada área, observar as características de quem trabalha no departamento e avaliar se também se encaixaria no perfil exigido.
“Na hora de decidir, você deve perguntar a si mesmo qual a sua velocidade. Gosta de ter tempo para pensar ou faz tudo ao mesmo tempo? Prefere planejar ou entrar em consenso? É mais reflexivo ou pragmático? Gosta de ter uma rotina ou não se importa de abrir mão da agenda para atingir metas?”, diz Marisa. De acordo com ela, no longo prazo, são esses os fatores que determinam a satisfação ou a frustração do jovem profissional com a área escolhida.
Para ajudar o trainee nessa decisão, é comum que o coach do programa lance mão de testes vocacionais. Um dos mais usados é o MBTI, que, com base num questionário, classifica cada pessoa entre 16 perfis. “Esses tipos de ferramentas dão suporte ao jovem profissional no processo de autoconhecimento e permitem identificar suas qualidades”, diz Marisa.
No mês de junho deste ano, também foi a vez de Fernanda Arechavaleta, de 25 anos, trainee do Grupo Santander, tomar sua decisão. “Tive de definir o próximo grande passo da minha vida profissional”, diz. Fernanda estava em dúvida entre áreas bem diferentes: uma em que trabalharia com oferta de cartões e outra em que atuaria em marketing e comunicação. A decisão veio após conversas com profissionais com quem ela desenvolveu um vínculo de confiança durante o treinamento.
“Numa dessas conversas, uma pessoa me fez questionar se algo que parece interessante durante o job rotation, que tem data para acabar, vai continuar parecendo interessante no longo prazo. Isso acabou me fazendo sentir que deveria investir na área em que me formei e com a qual tenho mais afinidade: comunicação”, diz.
Percebendo a frequência com que casos como o de Fernanda ocorrem, o Grupo Santander lançou em junho a plataforma interativa Caminhos & Escolhas (www.santander.com.br/caminhoseescolhas), voltada principalmente para universitários e jovens profissionais. Na plataforma, os internautas podem participar de oficinas virtuais, nas quais simulam como é atuar em diversas áreas corporativas de um banco. Também podem usar jogos de orientação de carreira, fazer um tour virtual pelas áreas do banco e participar de microblogs, fóruns e chats com especialistas.
Já nos primeiros dias no ar, a ferramenta teve 3 000 acessos provenientes de 11 países. “Nos últimos anos, vínhamos percebendo no nosso programa de trainees que o principal dilema dos jovens era fazer a opção. Então, em vez de esperar que isso aconteça ao fim do processo, resolvemos nos antecipar e ajudar o profissional a se preparar para a decisão. Quando ele entrar no programa de trainee, já vai ter conteúdo para fazer uma escolha consciente”, explica Marco André Ferreira da Silva, diretor de educação e desenvolvimento organizacional do Grupo Santander.
Crescimento profissional
As perspectivas de crescimento profissional também pesam na hora da escolha. Principalmente no início dos programas, boa parte dos trainees manifesta o desejo de ir para áreas estratégicas, ou com grande impacto no negócio, considerando que nelas haverá maior possibilidade de reconhecimento. Mas a consultora Fábia Barros, gerente da Foco Talentos, faz um alerta. “Muitos associam o reconhecimento a estar numa área grande. Mas o que costumo aconselhar é que a pessoa opte por um setor em que possa fazer a diferença. Melhor do que estar numa área grande e ser mais um é pertencer a um setor menor, no qual você possa assumir responsabilidades e ser decisivo”, afirma Fábia.
Foi essa percepção que norteou a opção de José Rodolfo Pfaffmann, cuja história mostramos no início desta reportagem. Com a ajuda do coach do programa de trainees e de uma consultoria de carreira, ele acabou optando pela área de transportes da diretoria de logística integrada da Votorantim Cimentos, na qual foi contratado para o cargo de analista. Nesse departamento José Rodolfo conseguiu conciliar planejamento e busca por resultados, tudo de que mais gosta.
“Cuido dos gastos da Votorantim com transportes e minha missão é otimizar a distribuição no Brasil, conseguindo um custo melhor”, explica. Ele hoje aplica na unidade um projeto desenvolvido durante o programa de trainee que visa a aumentar a produtividade da frota da companhia nos centros urbanos. José Rodolfo está tendo a oportunidade de tentar replicar os bons resultados do projeto em outras cidades. “Na hora de escolher um setor, há quem busque os de maior exposição. Eu busquei uma área na qual teria maior possibilidade de aprendizado e onde meu trabalho contribuiria mais.”
Para quem coordena os programas de trainees, a busca pelo reconhecimento profissional deve ser encarada como uma consequência do bom desempenho nas mais diferentes áreas. “Salário e posição são muito importantes, mas trabalhar focado apenas nisso não é sustentável no longo prazo. Queremos pessoas que trabalhem com paixão”, diz Marco André Ferreira da Silva, do Grupo Santander.