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A faceta perversa da inteligência emocional no trabalho

Inteligência emocional pode ser relacionada a comportamentos manipuladores e maquiavélicos?

Marionete: reconhecimento de padrões de reação abre caminho para manipulação (Thinkstock)

Marionete: reconhecimento de padrões de reação abre caminho para manipulação (Thinkstock)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 25 de abril de 2016 às 15h08.

São Paulo – Conhecer a si mesmo, compreender os outros e suas emoções são poderosas habilidades e são típicas daqueles que têm inteligência emocional. O termo, desde 1995, ano do lançamento do best-seller Inteligência Emocional do americano Daniel Goleman - caiu nas graças do mundo do trabalho e é item obrigatório na análise de recrutadores.

É que, conforme escrevem Travis Bradberry e Jean Greaves em um livro mais recente sobre o tema, o Inteligência Emocional 2.0 (HSM), a inteligência emocional responde por 58% do desempenho em todos os tipos de funções no trabalho.

“É o maior fator preditivo do desempenho no trabalho e o mais importante impulsionador da liderança e da excelência pessoal”, afirmam Bradberry e Greaves no livro. Cada ponto adicional no quociente de inteligência emocional pode representar 1,3 mil dólares a mais no salário anual, de acordo com eles.

Mas  pesquisas revelam uma faceta obscura desta habilidade tão celebrada. Um estudo de pesquisadores austríacos publicado em 2014 indica que, em mentes narcisistas, a inteligência emocional pode ser usada para enganar os outros. Outra pesquisa similar divulgada no mesmo ano mostra que aqueles mais propensos a manipular pessoas se saíam melhor na hora de reconhecer emoções alheias.

Comportamentos maquiavélicos também foram analisados sob a ótica da habilidade com emoções cientistas relacionaram um alto quociente de inteligência emocional em maquiavélicos à maior chance de terem já envergonhado outras pessoas em público com o objetivo de autopromoção.

Ou seja, é a Ciência mostrando utilidades perversas para a inteligência emocional. “Hoje em dia, as pessoas estão tendo mais acesso a este tipo de conhecimento, inclusive aquelas pessoas que querem usá-lo para manipular”, diz Rubens Pimentel, sócio da Ynner Treinamentos.

O uso negativo da habilidade pode ser explicado de maneira bem simples: “eu te conheço e, portanto, sei o que te alegra, mas também o que irrita”. Esse reconhecimento do padrão de reação emocional das pessoas é que permite a manipulação.

A boa notícia é que apesar de já descrito pela Ciência este tipo de comportamento manipulador com base em habilidades emocionais ainda é extremamente raro. “ Poucas pessoas têm esse conhecimento em nível elevado combinado com um padrão ético questionável”, diz Pimentel.

Segundo o especialista, não basta ler o clássico livro de Daniel Coleman para se tornar um expert em inteligência emocional a ponto de ser capaz de manipular seus colegas de trabalho em benefício próprio.

“Conhecer-se é um trabalho enorme”, diz Pimentel. Para conseguir manipular, diz ele, é preciso ainda assim como gerenciar comportamento, manter-se o tempo todo consciente, identificar padrões de reações emocionais nos outros e daí agir para influenciar. “É possível, mas o risco de se deparar com pessoas que façam este tipo de coisa é raro. O que eu vejo hoje é que está faltando autoconhecimento e autocontrole”, diz o especialista.

Assim, o caminho ainda é longo para que este seja realmente um problema dentro das empresas. “Pessoas que fazem isto bem (manipulação) geralmente fazem institivamente”, diz Pimentel.

Mas, para quem já está receoso de ser vítima da manipulação daqueles com alto quociente de inteligência emocional, Pimentel dá um conselho: “ a melhor coisa é variar padrões”, diz. Assim, sua reação não será previsível, impedindo seu oponente de se planejar de antemão. 

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