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95 horas de trabalho na semana? É o "padrão pandemia" no Goldman Sachs

Em média, os analistas iniciantes vão dormir às 3 da manhã, têm 5 horas de sono e trabalham 95 horas por semana

Goldman Sachs (Brendan McDermid/Reuters)

Goldman Sachs (Brendan McDermid/Reuters)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 19 de março de 2021 às 11h02.

Última atualização em 19 de março de 2021 às 12h35.

“Eu não consigo mais dormir porque meu nível de ansiedade está fora de controle”, relatou um dos analistas do Goldman Sachs, o maior banco de investimento de Wall Street. 

Cansaço? Estafa? Burnout? Faça da pandemia uma oportunidade de reset mental

Nessa semana, um grupo de analistas no primeiro ano de trabalho no banco organizou uma pesquisa com 13 colegas de trabalho e organizaram uma apresentação com o nome de “Pesquisa de Condições de Trabalho”. 

Eles revelaram que um analista júnior leva uma rotina de trabalho insustentável. Em média, eles vão dormir às 3 da manhã, têm 5 horas de sono e trabalham 95 horas por semana.  

Segundo a apresentação, as condições de trabalho têm afetado negativamente a saúde física e mental dos profissionais. Ao avaliar de 1 a 10 os dois aspectos de saúde antes e depois de começar o serviço no banco, os respondentes viram uma queda de 6,7 pontos na saúde física e de 6 pontos na mental. 

No Brasil, como comparação, a semana de trabalho prevista na legislação brasileira é de 44 horas por semana. 

Segundo o Financial Times, um porta-voz do banco disse que os participantes da pesquisa foram "autosselecionados" e que a empresa está trabalhando com o grupo para endereçar suas preocupações. O representante disse que eles não estão em apuros, pois levantaram pontos válidos.

Os dados são relativos ao primeiro ano de trabalho desses analistas, que se passou durante a pandemia e o trabalho remoto. Para muitos, o home office significou o fim da divisão entre as horas de trabalho e o tempo dedicado à vida pessoal.

Uma análise de pesquisadores da Harvard Business School e da Universidade de Nova York com com 3,1 milhões de pessoas mostrou que o dia de trabalho ficou em média 48 minutos mais longo no mundo todo.

Na pesquisa, todos os respondentes disseram que as horas de trabalho afetaram o relacionamento com familiares e amigos, 77% acreditam ter sofrido assédio no ambiente de trabalho e 75% procuraram ou consideraram procurar terapia ou outro serviço de saúde mental.

Ao dar uma nota para sua vida pessoal de um a 10, a nota média entre os analistas foi de um.

Ao final do documento, os profissionais apresentaram um plano de ação: respeito ao máximo de 80 horas de trabalho por semana, agendar reuniões com clientes considerando uma semana de preparação e que não deveria ser esperado que eles trabalhem após às 9 horas da sexta e ao longo do sábado.

Longas horas, poucos resultados

Embora bilionários como Elon Musk e Jack Ma já tenham defendido as longas horas de trabalho, pesquisas mostram os altos danos e a baixa efetividade dos expedientes intermináveis.

Um estudo da Universidade de Columbia com 8 mil profissionais mostrou que os participantes sedentários por mais de 13 horas por dia tinham o dobro de chance de morrer prematuramente do que aqueles inativos por 11 horas e meia. 

Outro estudo, da University College London com 85 mil trabalhadores, mostrou uma correlação entre carga pesada de trabalho e problemas cardiovasculares.  

Por outro lado, as horas extras que estão custando a saúde do trabalhador não dão resultado: o professor de economia da Universidade de Stanford, John Pencavel, descobriu que quem trabalha 70 horas por semana entrega o mesmo trabalho que quem dedicou 55 horas de trabalho. 

Ao analisar o trabalho nas fábricas de munição em 1915 e 1916, Pencavel calculou que a produtividade por hora cai quando a pessoa começa a trabalhar 50 horas por semana.

Além disso, ele associa expedientes com mais de 12 horas com a alta probabilidade de cometer erros, o que causaria perdas maiores.

 

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