Uma pesquisa da Robert Half aponta que 63% dos recrutadores já eliminaram candidatos por perceber inconsistências nas respostas (fizkes/Getty Images)
Repórter
Publicado em 22 de abril de 2025 às 19h15.
Mentir na entrevista de emprego pode até parecer uma tática de sobrevivência em tempos de alta competitividade, mas, na prática, pode ser o primeiro passo para o fracasso profissional. Uma pesquisa da Robert Half aponta que 63% dos recrutadores já eliminaram candidatos por perceber inconsistências nas respostas. Já o LinkedIn revelou que um em cada cinco profissionais admite ter “aumentado” ou “embelezado” alguma informação durante o processo seletivo.
Para entender por que essas mentiras são tão comuns - e o que elas realmente revelam sobre o mercado, Daniel Consani, CEO do grupo Top RH, em entrevista à EXAME, analisa os 10 maiores mitos contados nas entrevistas e o que está por trás de cada um deles.
Segundo levantamento da Michael Page, 45% dos candidatos usam essa justificativa genérica para explicar uma demissão ou saída repentina.
“Essa é a campeã das frases feitas. Muitas vezes, o candidato saiu por baixa performance ou incompatibilidade cultural, mas tenta suavizar. O problema é que os recrutadores já estão vacinados - eles querem transparência e maturidade para explicar o real motivo da saída”, diz Consani.
Um estudo da Robert Half apontou que 38% dos candidatos superestimam o próprio nível de inglês — e 27% são reprovados quando testados.
Para Consani, essa mentira sempre aparece. A boa notícia é que o inglês é fácil de testar, então é também a mentira mais fácil de derrubar. “A dica é: se está em desenvolvimento, diga isso. O mercado prefere a honestidade à pretensão”, afirma.
Em uma pesquisa do LinkedIn, essa resposta apareceu entre as três mais repetidas em entrevistas - e uma das que mais causam desconfiança.
“É uma tentativa de transformar um defeito em qualidade, mas soa artificial. Recrutadores querem autoconhecimento real. Assumir um ponto de melhoria verdadeiro, com um plano de evolução, é muito mais valorizado”, afirma o executivo.
Segundo a consultoria Page Personnel, 56% dos entrevistados se dizem ‘altamente colaborativos’, mas falham em dar exemplos concretos. Consani reforça que frases genéricas sem história perdem força. “O recrutador quer saber como você colaborou, com quem, em que projeto. A verdade está nos detalhes e nos números,” diz.
De acordo com a Robert Half, 33% dos profissionais que afirmam ter “disponibilidade total” recuam após receberem a proposta e conhecerem a rotina.
Essa resposta é dada no impulso para agradar, mas pode gerar frustração futura. “Honestidade sobre seus limites é um ato de respeito mútuo,” afirma Consani.
O LinkedIn Learning revelou que 40% dos profissionais alegam domínio de ferramentas que, na prática, usaram poucas vezes. “Mentir sobre habilidades técnicas é um tiro no pé. Empresas confiam no que você diz e esperam entrega. A verdade aparece já na primeira semana de trabalho”, afirma Consani.
A Robert Half indica que 29% dos candidatos se dizem prontos para cargos de liderança mesmo sem experiência gerencial.
Consani acredita que é importante, mas inflar competências pode virar armadilha. “O ideal é mostrar seu potencial e o que você já vem fazendo para se preparar para o próximo passo”, afirma.
Segundo o LinkedIn, 70% dos desligamentos involuntários ocorrem por desalinhamento cultural, e não por falta de competência técnica.
“Esse dado é um alerta. Muita gente diz o que o recrutador quer ouvir, mas não se pergunta se de fato se identifica com os valores da empresa. Autenticidade é o que sustenta uma boa escolha - para os dois lados”, afirma o executivo.
Mentir numa entrevista pode até parecer um atalho, mas, como explica o CEO do Grupo Top of Mind, é uma rota de alto risco:
“Recrutadores estão cada vez mais preparados para detectar inconsistências e mais atentos a aspectos como autenticidade e vulnerabilidade. O que diferencia um bom candidato, hoje, não é o discurso perfeito, mas a capacidade de ser real — com os pontos fortes e os pontos a desenvolver.”