Carreira

7 Tendências no Mundo do Trabalho Pós Inteligência Artificial

Explorando Inovações e Mudanças de Mindset direto do SXSW 2024

Imagem gerada por @brunobcl pelo DALL-E (Autor/Exame)

Imagem gerada por @brunobcl pelo DALL-E (Autor/Exame)

Bruno Leonardo
Bruno Leonardo

Vice President of Corporate Education da Exame

Publicado em 13 de abril de 2024 às 14h01.

No SXSW 2024, vivenciei mais uma série de  aprendizados que moldam a forma como vemos o futuro do trabalho. Este ano, após compartilhar insights em eventos de download com líderes das principais empresas do Brasil, quero consolidar aqui insights de uma das palestras que mais me impactou, da Sandy Carter, onde ela destacou tendências cruciais em um mundo pós-inteligência artificial.

O SXSW continua a ser um evento que surpreende e inspira. Dentre as muitas apresentações notáveis, a de Sandy Carter, intitulada "Mind-Machine Merge: Seven Future Trends in a Post-AI World of Work", capturou especialmente a minha atenção. Sandy não apenas compartilhou dados robustos e perspectivas futurísticas, mas também conduziu sua apresentação com uma leveza e humor que tornaram os complexos temas de inteligência artificial acessíveis e cativantes.

Dos diversos insights que ela apresentou, destaco três pontos que Sandy enfatizou como essenciais para serem levados adiante:

  1. O futuro dos negócios será moldado por múltiplas tecnologias simultâneas, não apenas uma. Nesse mesmo sentido, a Amy Webb ecoa a visão que estamos vivendo um super ciclo tecnológico, similar à Revolução Industrial e à era da internet, porém agora, onde várias tecnologias, como IA, Internet das Coisas e Biotecnologia, irão transformar conjuntamente nosso mundo. Essa perspectiva reforça a ideia de que estamos à beira de uma era definida por uma convergência tecnológica sem precedentes.
  2. Precisamos adotar uma mentalidade de "AI first-thinkers", especialmente em posições de liderança, integrando a inteligência artificial no núcleo estratégico dos negócios.
  3. A necessidade de parar de resistir e começar a aprender. Um estudo recente do Edelman Trust Barometer de 2024 revela um cenário desafiador: enquanto apenas 30% dos líderes empresariais apoiam ativamente a adoção da IA como uma força transformadora para os negócios, 35% ainda resistem a essa ideia. Esse dado evidencia a importância de superar barreiras e preconceitos em relação às novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, que tem o potencial de reformular significativamente todas as esferas da atividade humana.

Além disso, Sandy também resumiu em sete tendências que já impactam, mas impactarão cada vez mais as inovações no “mundo pós-IA”:

Tendência 1: Velocidade das Transformações (Tudo é Exponencial!)

Não é novidade que o ritmo das mudanças tecnológicas está acelerando. Há cerca de 1 ano, o ChatGPT podia processar até 4 mil tokens, o que é aproximadamente equivalente a 3.125 palavras. A versão mais recente do ChatGPT, o ChatGPT 4, aumentou significativamente essa capacidade para 32 mil tokens, ou cerca de 25.000 palavras. Por sua vez, o Google lançou o Gemini, que representa um salto ainda maior, sendo capaz de processar até 700 mil tokens. Essa expansão nas capacidades de processamento reflete exatamente essa velocidade exponencial que estamos vivendo.

Tendência 2: O Futuro da Aprendizagem é Multimodal

O conceito de aprendizagem multimodal, que emprega diversas mídias para transmitir mensagens, já é discutido há anos, mas recentemente ganhou um impulso significativo. A aprendizagem multimodal utiliza várias modalidades ou canais sensoriais no ensino, não apenas escolhendo entre presencial ou digital, mas combinando-os. Durante a palestra, destacou que os modelos de machine learning hoje aceitam inputs de texto, vídeos, sons e imagens, tornando a experiência de aprendizagem mais rica e engajadora.

A principal questão levantada por Carter foi: "Como isso impulsiona a inovação no meu negócio e cria uma vantagem competitiva?" O desafio agora é como essas modalidades podem ser integradas de maneira eficaz para enriquecer a experiência educacional e profissional, tornando-a mais adaptável às necessidades do futuro.

Tendência 3: Realidade Virtual e Solidão ('AI Companions')

Esta tendência pode fazer os fãs da série de ficção científica 'Black Mirror' refletirem profundamente. Um dos pontos mais discutido também no SXSW, é que estamos vivenciando uma epidemia de solidão, com um aumento de cerca de 40% no número de pessoas que se sentem solitárias. Os 'AI companions' ou companheiros digitais, que fornecem interações sociais e empatia, podem oferecer soluções significativas neste novo mundo. Investir em experiências que criem ambientes imersivos e acolhedores onde as pessoas se sintam bem-vindas é uma estratégia promissora.

Porém, vale também a reflexão que a solidão não é um problema novo, como reforçado por Justin McLeod, Fundador e CEO do Hinge. Ele reforça que somos uma sociedade individualista e muito orientada para a conquista há muito tempo. Mas o que aconteceu nos últimos anos é uma mudança dramática. Quase completamente substituímos o tempo gasto juntos na vida real por tempo em experiências virtuais. E vários estudo conectam a felicidade exatamente à qualidade das nossas relações.

Na minha opinião, essa equação também precisa ter a humanização como foco e busca nas relações genuínas, não somente digitais.

Tendência 4: Tudo é Virtualmente Replicado (Gêmeos Digitais)

O “Digital Twin” é uma versão virtual do que temos no mundo real. Aqui, Carter discute as representações virtuais de objetos ou sistemas físicos e suas aplicações em vários setores. O uso de gêmeos digitais não se limita a uma indústria específica; sua aplicabilidade se estende desde a medicina até a engenharia automotiva. Por exemplo, o palestrante mencionou a Altair, conhecida por seus avanços na criação de gêmeos digitais de caminhões autônomos e como eles projetaram um caminhão de hidrogênio. Esses modelos virtuais são cruciais para testar, realizar manutenção e até simular colisões para ver o que aconteceria em casos de acidente.

Além dos veículos, os gêmeos digitais estão transformando o varejo e a gestão urbana. Como a experiência de usar o Apple VisionPRO para ver um gêmeo digital de uma loja, e não a loja real. Cidades como uma na Suécia estão utilizando gêmeos digitais de suas ruas para experimentar e planejar melhor a gestão do tráfego e do ruído ambiente, graças a dados coletados por sensores e processados por inteligência artificial.

A Tesla, por exemplo, cria um gêmeo digital para cada carro fabricado, o que auxilia na manutenção e no monitoramento da vida útil da bateria, além de criar gêmeos digitais das ruas para melhorar a navegação autônoma.

Tendência 5: A Tokenização de Tudo

Carter aponta que a tokenização, ou seja, o processo de converter os direitos de um ativo em um token digital que pode ser movido, registrado ou armazenado em um sistema de blockchain, vai aumentar cada vez mais. Ela citou como exemplo uma nova iniciativa da NASA, que está comercializando tokens de resíduos espaciais. A ideia é que alguém se responsabilize em jogar fora todo o lixo que está em órbita na Terra, além de se tornar dona de algo valioso, que veio do espaço.

Outro exemplo veio do setor da moda no Japão, onde a tokenização está sendo usada para verificar a autenticidade de roupas de grife no mercado secundário.

Além disso, a tokenização também está sendo aplicada na gestão de propriedades. Foi citado o caso de uma casa cujo título de propriedade foi convertido em um token no blockchain, simplificando significativamente o processo de transferência de propriedade, reduzindo a necessidade de assinar inúmeros documentos para apenas uma validação digital.

A tokenização não apenas facilita transações mais seguras e transparentes, mas também abre novas possibilidades para gerenciar e comprovar propriedade e autenticidade em vários setores, desde a moda até imóveis e além. Esta tecnologia oferece uma maneira revolucionária de pensar sobre propriedade e transferência de direitos no mundo digital.

Não há limites para o que pode ser tokenizado, então, na sua empresa, o que pode ser?

Tendência 6: A Convergência Tech Chegou (e Gera Mais Valor)

 A frase cômica que gira na internet “se juntas já causam, imagina juntas” nunca fez tanto sentido aqui. Para o futuro, daremos atenção à convergência geral das tecnologias. Não vamos usar só a IA, mas ela junto a outros elementos, integrando diversas tecnologias para agregar valor. “A IA pode se combinar com blockchain, em questões de transparência, segurança e identidade digital.”, é apenas um dos exemplos trazidos por Sandy.

Um caso prático mencionado foi o de uma empresa que utiliza a blockchain para tokenizar ativos e a AI para detectar fraudes e proteger transações. Esse tipo de aplicação mostra como a convergência tecnológica pode ser utilizada para resolver problemas complexos em serviços financeiros.

Além disso, discutiu-se sobre a utilização de AI para fazer recomendações baseadas em identidades digitais armazenadas na blockchain. Por exemplo, se alguém compra um BMW, um sistema poderia recomendar clubes de fãs de BMW locais ou eventos e educação relevantes, baseando-se nos interesses mostrados.

Essa convergência não se limita apenas a AI e blockchain. Outro exemplo inclui a integração de AI com dados de sensores, como os utilizados pela Amazon Web Services para analisar atletas em tempo real, prevenindo lesões e otimizando treinamentos com base em milhões de pontos de dados coletados.

Tendência 7: Novos Problemas Gerados pela IA

A inteligência artificial não é à prova de falhas. Essa não é uma conclusão tão difícil, afinal, vimos isso durante o último ano, em que o Chat GPT apresentou-se como um grande sucesso e se tornou uma ferramenta popular de uso de IA. Pudemos notar diversas falhas, como: ausência de dados, falta de confiança, alucinações e até conclusões com fortes vieses. Com isso, é nossa responsabilidade, enquanto AI first-thinkers, atuar para minimizar tudo isso. Entre as ações necessárias citadas pela executiva estão a checagem dupla de todas as informações e o comprometimento em levar o maior número de informações para alimentar a IA.

E na minha visão complementar, o letramento em IA é item essencial nas pautas estratégicas de nossas organizações. É crucial reconhecer que a alfabetização em inteligência artificial (IA) desempenha um papel fundamental na mitigação dos novos problemas gerados por essa tecnologia. Entender a IA não como uma mera ferramenta, mas como uma nova forma de inteligência, uma extensão da capacidade humana, é essencial. Isso implica ver a IA como um sistema complexo, que exige não apenas treinamento no uso de ferramentas que aumentam a produtividade, mas também na compreensão e implementação de regulamentações críticas, segurança de dados e maneiras de alimentar a IA com informações de forma abrangente para reduzir vieses existentes.

Esse processo de alfabetização deve ocorrer em toda a sociedade e ser adaptado para diferentes públicos. Para lideranças e níveis C-Level, é fundamental entender o impacto estratégico da IA no futuro de suas organizações. Essa compreensão deve então ser disseminada por todos os níveis organizacionais. Portanto, investir na capacitação e no desenvolvimento em IA é essencial neste momento de profundas transformações sociais e tecnológicas.

Adaptando Mindsets para Navegar nas Tecnologias do Futuro

À medida que avançamos em uma era de mudanças constantes, os modelos mentais de ontem estão colidindo com as tecnologias do amanhã. Essa realidade nos desafia a reconsiderar como abordamos a inovação e a aprendizagem em nossas vidas e em nossas organizações.

Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher, captura esse momento de transformação ao destacar: "Esta é a era do generalista criativo. Crescemos em uma época que dizia: obtenha um diploma, seja bom em alguma coisa e então desenvolva experiência nesse domínio. A IA nos permite extrair anos de disciplina, experiência e esforço necessários para ter desempenho decente em centenas de habilidades."

Este insight nos lembra que a adaptação é crucial. As organizações e indivíduos que conseguirem atualizar seus mindsets para alinhar-se com as velocidades exponenciais da tecnologia estarão melhor posicionados para prosperar no novo mundo do trabalho. Portanto, a grande preocupação que devemos ter não é somente com as novas tecnologias em si, mas com a nossa capacidade de adaptar nossos mindsets à velocidade dessas mudanças.

Concluir este olhar sobre o SXSW 2024 nos lembra que precisamos não apenas acompanhar as inovações, mas também evoluir a forma como pensamos e operamos em um mundo cada vez mais integrado e tecnologicamente avançado. A era do generalista criativo nos desafia a sermos mais adaptáveis, resilientes e versáteis, armados com um pensamento crítico e uma mentalidade de constante aprendizado. Além de sermos líderes que combinem gestão de mudanças e empatia para suportar toda transformação tecnológica que estamos vivendo.

E para quem quiser mais insights e tendências do futuro do trabalho para 2024, meu time da Exame Corporate Education fez um ebook resumindo o melhor do que vimos no SXSW. Acesse aqui para obter uma visão detalhada e preparar-se para as mudanças que vêm por aí. E vamos levar nosso lema para 2024: STOP RESIST, START LEARNING.

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