A professora Rosely Marchetti Honório, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Infante Dom Henrique, finalista do Prêmio Educador Nota 10 (Luísa Granato/Site Exame)
Luísa Granato
Publicado em 16 de outubro de 2017 às 15h00.
Última atualização em 24 de outubro de 2017 às 16h40.
São Paulo - Em sua sala, o diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Infante Dom Henrique, Claudio Marques da Silva, mostra a lista dos livros mais vendidos em sebos pelo Brasil. Em primeiro lugar, está “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus. Ele comenta com satisfação a nova popularidade da escritora que, em breve, dará seu nome à escola da Zona Norte da capital paulista.
A mudança faz sentido. Carolina de Jesus, considerada a primeira escritora negra do Brasil, viveu na Favela do Canindé, onde, nos anos 1950, escreveu seu livro a alguns quarteirões da Emef Infante Dom Henrique.
Muitos alunos vivem na comunidade remanescente da antiga favela. E, assim como a escritora - que nasceu em Sacramento (MG) e migrou para São Paulo - nasceram em outros estados ou países antes de chegarem ali. Na instituição, 20% do corpo discente é imigrante ou descendente de sírios, peruanos, angolanos ou, em sua maioria, bolivianos.
A escola e os professores se esforçam para que o ambiente seja inclusivo para todos os alunos. Mesmo assim, nas aulas de história, a professora Rosely Marchetti Honório notou que, ao tratar de migração e trabalho escravo, surgiam comentários dirigidos aos estudantes migrantes por colegas da sala que eram influenciados por preconceitos.
Da necessidade de fazer um debate mais profundo sobre imigração, nasceu o projeto que rendeu a Rosely um lugar entre os 10 finalistas do prêmio Educador Nota 10 de 2017. A professora tomou cuidado para que o projeto estivesse relacionado ao trabalho escravo, considerando o contexto da escola e do bairro, onde fica um dos maiores pólos da indústria têxtil do Brasil.
O principal prêmio da educação brasileira dá destaque para os trabalhos mais inspiradores realizados em escolas do país. Criado em 1998 para valorizar a figura do professor, o prêmio chega à sua 20ª edição com um recorde de 5.006 projetos inscritos. Destes, saíram 10 finalistas que recebem R$ 15 mil cada e um vale-presente de R$ 1 mil para sua escola.
Em cerimônia marcada para 30 de outubro, o Educador do Ano será conhecido e receberá mais R$ 15 mil. A escola em que o projeto foi realizado também ganha mais um vale-presente de R$ 5 mil. O prêmio é uma iniciativa da Fundação Victor Civita, apresentada pela Abril e pela Globo, em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Este ano, o projeto também tem o apoio da Nova Escola, e tem como patrocinadores a Fundação Lemann, a SOMOS Educação e a Faber-Castell Brasil.
O impacto desses profissionais é tão grande que Meire Fidelis, diretora-executiva da Fundação Victor Civita, usa o discurso do professor premiado em 2016, Emerson Nogueira, para explicar a importância do prêmio hoje. “Lembro que ele usou uma frase do Paulo Freire: ‘Ensinar é impregnar de sentido tudo o que fazemos’. É um desafio incrível. E esses professores fazem com que o aluno não aprenda apenas para repetir, mas veja sentido no conteúdo para suas vidas”, diz. Para ela, premiar as boas práticas dá credibilidade e visibilidade para uma profissão tão essencial na vida de todos, mas que não é tão respeitada no dia a dia. “O objetivo primário é ensinar, mas não é só isso. O professor passa conceitos e valores que formam jovens com visões mais críticas”, explica Fidelis.
Rosely se lembra claramente de dois professores de Língua Portuguesa que influenciaram sua vida profissional. Ambos tinham uma característica em comum: sempre ouviam seus alunos. Para ela, no momento em que o professor se abre para contar sua história, ele dá maior significado para suas experiências, e abre o caminho para que os alunos também compartilhem as suas.
Quando chegou à Emef Infante Dom Henrique, em 2016, a primeira coisa que a historiadora fez foi se aproximar e conversar com seus novos alunos. A ligação criada no início culminou no projeto finalista do Educador Nota 10, em que a professora relaciona fortemente à história do bairro do Canindé com a realidade de seus alunos.
Em um primeiro momento, os alunos fizeram desenhos com o tema “família”, usados para uma roda de conversa em que a professora pediu para identificarem se havia migrantes representados ali. Depois, fizeram suas árvores genealógicas e entrevistaram um membro da família. “Muitos pensavam que migrante é apenas quem vem de outro país. Com isso, viram que a migração é uma característica de toda a comunidade humana e está presente em todas as famílias”, conta Rosely.
Lucas Araujo Silva, de 13 anos, se surpreendeu ao descobrir que tinha ascendência alemã por parte do pai e indígena pela mãe, ambos vindos do nordeste. “As pessoas sofrem com o preconceito e o racismo por virem de outra região.Temos que tratar os imigrantes bem, todos merecem um espaço”, disse o aluno.
A partir das primeiras atividades, a professora usou filmes, contos e fotografias para explicar os conceitos de preconceito, discriminação e racismo. Com a discussão sobre a mudança de nome da escola, Rosely aproveitou para usar Carolina de Jesus para fazer um paralelo entre a história da região e a da mulher, que migrou de Minas Gerais, lutou contra a pobreza e conseguiu realizar seu sonho de se tornar escritora.
Usando depoimentos de trabalhadores libertados do trabalho escravo e documentários sobre a precarização do trabalho em confecções, a historiadora trouxe o tema cada vez mais próximo da realidade dos alunos.Tão próximo que eles ficaram chocados ao descobrir que podiam encontrar pela região duas confecções que haviam sido denunciadas por precarização do trabalho pelo Ministério Público do Trabalho.
Eles partiram, então, para a parte final do projeto: uma intervenção. As turmas criaram panfletos informativos sobre como identificar e denunciar o trabalho escravo, que distribuíram pelo bairro, em comércios e para ambulantes. Rosely ficou muito satisfeita com a participação dos alunos, comprometidos em espalhar o que aprenderam no projeto. Na sala de aula, o principal resultado foi a melhora na relação entre os colegas, com mais integração e respeito.
“A educação é muita vontade, empenho e conhecimento. O resumo de tudo isso é a competência. E a Rosely sintetiza tudo isso”, elogia o diretor Claudio Marques da Silva.
O projeto está se repetindo este ano com duas novas turmas e a professora já inspirou um projeto extra vindo dos alunos. Mariana Victória Calle Quispe, de 12 anos, notou que muitos imigrantes ficavam isolados em seus próprios grupos e pensou numa solução: “Tive a ideia com uma amiga e fomos falar com a professora Rosely. Queríamos fazer um projeto para falar da nossa cultura e ensinar espanhol”, conta a aluna de família boliviana.
“Quando eu saio da minha casa, já penso que tenho duas maneiras de encarar meu dia: ficar reclamando, ou fazer uma aula boa”, diz Di Gianni de Oliveira Nunes. Para o professor de história, a motivação é a chave de tudo. E é isso que quer ver em seus alunos, não importa quem eles sejam.
Há 12 anos, ele tem encontrado formas de trazer a melhor experiência para seus alunos com o conteúdo. “Uma vez, ia dar uma aula sobre a invasão nazista em Guernica, mas o quadro negro estava rachado. Levei os alunos para o campo da escola e usei o espaço para a explicação. Por tradição, há oito anos dou essa aula assim”, conta Di Gianni.
Foi em uma aula sobre o império romano, no ano passado, que um aluno fez a pergunta que daria início ao projeto finalista do Educador Nota 10: a Bíblia poderia ser usada como uma fonte histórica? O aluno fazia parte da turma do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), em Lagoa da Prata, Minas Gerais, onde Di Gianni leciona há três anos. Todos na turma são detentos do regime fechado, têm defasagem de série e cumprem o final de suas penas.
Ao invés de encerrar o assunto, o professor usou aquela curiosidade para delinear um projeto de pesquisa e debate com os alunos. Sem acesso à internet, eles começavam sempre com a Bíblia, lendo as passagens e buscando paralelos na história, seguindo a cronologia apresentada no livro religioso e usando livros e revistas como fontes de pesquisa. “Não faz parte da matéria debater ou questionar a fé de cada um, mas podemos usar o texto para entender a sociedade da época”, explica o professor.
Di Gianni não esperava que os alunos se animassem tanto. “Eles se tornaram pesquisadores e arqueólogos dentro da própria cela”, ele conta. Até mesmo fora da sala de aula eles continuavam se dedicando ao projeto, fazendo uma leitura atenta da Bíblia e dos materiais de pesquisa, pedindo por filmes sobre o império romano e o Egito antigo para ver nas horas vagas.
Dos debates sobre os templos, locais e diferentes civilizações representadas na Bíblia, a classe começou a compreender melhor os conflitos atuais no Oriente Médio, como a destruição de patrimônios culturais pelo Estado Islâmico ou a tensão entre palestinos e israelenses. “Hoje, meus alunos conversam com a cabeça erguida. Um deles quer fazer faculdade de história. Além do conhecimento que adquiriram, eles cresceram pessoalmente, tendo melhor autoestima, oratória e interpretação”, conta Di Gianni.
A APAC é um projeto da Secretaria de Educação de Minas Gerais, mas que não abrange todo o sistema prisional. Após repercussão, o projeto vai se expandir para todas as turmas na EJA em que Di Gianni leciona. O professor foi convidado para aplicar o trabalho em outras unidades da associação.
Para ele, o melhor de ganhar o prêmio foi ver sua motivação passando para seus alunos da EJA e do Ensino Médio regular, que viram o trabalho ganhando destaque. “Nunca vou esquecer quando saiu a notícia de que ficamos entre os dez melhores. Uma mãe me ligou, falando que antes o filho dela só aparecia em página policial, agora aparece num projeto de educação em nível nacional”, conta ele. “A APAC representa um sistema prisional diferente, feito não apenas para punir, mas recuperar a pessoa. Pela primeira vez, meus alunos sentiram a educação que muda e sentiram satisfação em aprender”.
Paqueras e namoros fazem parte do amadurecimento, no entanto, a sexualidade pode se manifestar na escola de diversas maneiras, nem sempre positivas. A professora de geografia Gislaine Carla Waltrik se deparou com um desafio ao tentar ajudar um aluno que sofria bullying dos colegas. Ele estava sendo chamado de gay. De início, ela soube exatamente o que fazer: parou a briga, deu bronca nos meninos e exigiu uma explicação. Após o procedimento padrão, porém, Carla não tinha mais certeza do que dizer.
Em 30 anos de docência, ela sempre havia abordado sexualidade nas aulas - do ensino fundamental ao médio - mas o caso a instigou a atualizar sua formação para responder aos vários questionamentos que recebia de seus alunos e alunas. Decidiu procurar, então, a orientação da Secretaria de Educação, onde vem fazendo cursos sobre identidade de gênero nos últimos 10 anos.
Desse interesse por se aprofundar no assunto nasceu um projeto feito com alunos do segundo ano do Colégio Astolpho Macedo Souza. Gislaine pediu que os próprios alunos mapeassem como a sexualidade se manifesta no espaço escolar. No banheiro, alunos registraram desenhos e palavrões. O laboratório de informática foi relacionado com pornografia. A quadra de futebol foi colocada com área dos meninos.
Com os desenhos e fotos, estava aberto o espaço para conversar sobre as construções feitas ali e os temas que cada aluno trazia, como masturbação, expectativas sociais, homossexualidade, violência sexual, entre outros. “Acabaram surgindo relatos sobre violência e abusos. Os outros alunos acham que aquela realidade não tem relação com eles, que são apenas dados, até ter contato com a história dos colegas”, conta Gislaine. A professora entrou como mediadora do debate que se iniciou sobre o assunto.
“A aula de geografia trata do espaço e da relação das pessoas dentro dele. Tem gente que fica presa à ideia de que só trata de relevos e vegetação”, explica a professora de União da Vitória, no Paraná.
A professora propôs que os alunos traduzissem suas conclusões, dores e histórias de forma artística, com poemas e uma apresentação de teatro, em que uma aluna representa uma personagem contadora de histórias e lê os relatos feitos por seus colegas.
Segundo a professora, o corpo é o primeiro espaço que ocupamos. Ela se esforça para mostrar aos seus alunos como proteger seu espaço e respeitar o dos outros. Procurando por cursos novos, ela busca se aprimorar e tornar o seu espaço - a sala de aula - um lugar melhor. “O mundo nunca está pronto, nós que o fazemos”, disse ela. “Sou de uma cidade pequena, mas adoro estudar. E a gente tem a capacidade daquilo que quer”.
Há 17 anos, Elisângela Dell-Armelina Suruí chegou a uma aldeia em Cacoal, Rondônia, como voluntária para dar aulas em uma das 10 escolas nas terras indígenas do Povo Paiter.
Naturalizada do Espírito Santo, o Suruí em seu sobrenome veio com o casamento. Ela resolveu ficar no lugar onde conheceu seu esposo, teve três filhos e encontrou seu propósito na educação.
Embora nunca antes tivesse morado longe da cidade, Elisângela passou a fazer parte daquela comunidade, cuidando de seus jovens. Ano passado, ela encarou uma barreira na alfabetização de seus alunos: a língua.
O idioma materno do povo é o Paiter Suruí que, assim como outras linguagens indígenas, tem como característica a forte oralidade. Os alunos também falam o português, mas Elisângela notou a grande dificuldade que tinham em escrever na língua.
Daí surgiu a ideia finalista do prêmio Educador Nota 10: construir junto com a turma o material didático bilíngue para a alfabetização.
Seguindo o alfabeto, ela e os alunos da turma multisseriada (com crianças de 5 a 11 anos) buscaram objetos e histórias do seu cotidiano para o aprendizado. Para a letra A os pequenos desenham o cesto comum usado na aldeia, o Adoh. B é de Bork Ah, uma fruta da região.
O material didático sempre fora uma demanda dos professores para o governo, mas Elisângela percebeu que ninguém era mais indicado para aquela produção do que os próprios alunos. “Somente a gente que vive aqui tem como enxergar as necessidades que as questões culturais trazem. E também somos nós que temos o conhecimento para fazer esse material”, disse ela.
Em conjunto, eles escolhiam os objetos retratados e os enunciados de exercícios. Os maiores escreviam os textos e participavam da correção e tradução. Quando terminavam uma atividade, ela era passada aos mais novos.
A professora observou que a produção escrita da turma melhorou muito em ambas as línguas: Paiter e português. Ao participar ativamente da confecção de um livro, eles passaram a entender melhor o enunciado dos livros didáticos. Ela ficou orgulhosa quando um aluno sugeriu que, além do alfabeto em português e Paiter, fosse incluída a linguagem de sinais. A criança lembrou que não tinha colegas surdos, mas que existiam alguns em outras aldeias.
Com a premiação, a aldeia ganhou destaque e recebeu a visita do vice-governador de Rondônia. Com isso, ganhou atenção a necessidade de imprimir e reproduzir o material para que chegue a outras crianças.
Diogo Fernando dos Santos não acredita que ensinar é um dom. Para ele, é uma profissão como as outras, que exige certas habilidades. Com seu projeto, quis mostrar aos alunos que para escrever também não é preciso ter um dom.
Quando recebia o texto de seus alunos do 5º ano, o professor percebia que eles escreviam apenas amontoados de ideias. O problema não eram os alunos, que em aula desenvolviam bem suas ideias, mas o trabalho que era feito com o texto. Para incentivar a escrita, eles precisariam também ler mais – e melhor. E ele sabia quem poderia ajudar: Clarice Lispector.
Com os textos para o público infantil da escritora, ele trabalhou os elementos da escrita e da narrativa com as crianças, permitindo sempre que eles tivessem a própria leitura e pudessem desmistificar a escrita. “Trazendo Clarice, queria que eles tivessem contato com um texto de qualidade, mas que não fosse intocável. Assim, eles poderiam identificar o estilo da escritora e aprender com ela para, no final, terem autonomia para colocar suas ideias no papel”, explica o professor de Pindamonhangaba, São Paulo.
Mas ainda faltava alguma coisa, como ir além da análise e incentivar seus alunos a escrever? Ele colocou para a sala a questão e se surpreendeu com a ideia de um aluno de fazer um blog. “Não sabia mexer com blogs, mas ele me convenceu com sua argumentação. Disse que queria que não só os colegas e os pais lessem os textos, mas que estranhos também pudessem ver”.
Foi aí que nasceu o blog “Quem escreve sou eu”. Sem internet ou sala de informática na escola, ele levou todo o equipamento de casa para a sala e aprendeu a montar um site.
Após aprenderem a ler criticamente, seus alunos passaram para a produção de textos. Primeiro, planejaram uma história juntos, podendo escolher os elementos da narrativa que identificaram anteriormente, como personagens, descrições e narrador. E, então, escreviam. O texto era lido, comentado e reescrito. “Alguns chegavam a querer reescrever uma terceira vez, pois se sentiam evoluindo e queriam fazer melhor”.
Para Diogo, é fundamental que o professor tenha certeza do que está fazendo. “Temos que nos guiar pela teoria, não pela intuição. Assim, você vende bem o seu peixe e os alunos compram na hora”, fala Diogo. Ele deixou claro para os alunos qual era o cronograma do projeto e o que esperava com ele, e teve retorno da sala em entusiasmo na participação.
No começo da carreira, ele nunca imaginou que trabalharia com crianças, mas hoje não imagina fazer outra coisa. Quando era adolescente, passou no concurso para ser auxiliar em creche. Com o primeiro contato com a pedagogia, ele se descobriu na profissão e buscou a faculdade depois para poder assumir uma turma. Depois, se especializou em gramática e alfabetização.
O reconhecimento do seu trabalho com a premiação deixou-o felicíssimo. Para ele, só a atenção dos selecionadores já fez com que se sentisse mais valorizado como professor. “Esse é o Oscar da educação brasileira. Mas a conquista real já foi feita em sala de aula. O maior prêmio foi ver meu aluno com autonomia”.
Em fevereiro de 2016, Adriane Gallo Alcântara da Silva começou seu trabalho como diretora na EMEIF Profª Coraly Julia Gonçalves Carneiro com uma missão: dar sua contribuição para tornar a escola um espaço melhor para alunos, pais e professores.
Conversando com as coordenadoras pedagógicas, Adriane entendeu que precisava que seus professores se sentissem mais valorizados e que um maior empoderamento do profissional poderia repercutir positivamente nas aulas.
Em sua carreira, Adriane sempre transitou entre a sala de aula e cargos administrativos. Ela começou a dar aulas com 18 anos para um turma de EJA (Ensino de Jovens e Adultos) em 1992, em que seu aluno mais velho tinha 73 anos. Recém-formada no magistério, a partir daí ela não parou mais sua formação, começando em seguida o curso de pedagogia. Hoje, depois de 4 pós-graduações e um mestrado, ela iniciou o doutorado.
Para o seu projeto finalista, Adriane decidiu aliar a experiência acadêmica com a vivência do cotidiano escolar. Em reuniões, a coordenação e o corpo docente identificaram juntos problemas e dificuldades na sala de aula. Eles ajudaram a moldar dois encontros de formação no início de cada semestre, com palestras direcionadas às principais demandas dos docentes administradas por professores universitários parceiros.
“É diferente de fazer um curso universitário, porque ali eles estavam articulando com dificuldades específicas vivenciadas na sala de aula”, explica Adriane.
Após atingir as metas do ano, o projeto não para. Para ela, a formação é constante, mas os resultados já são aparentes. Ela destaca que os professores estão mais motivados pelo maior intercâmbio de conhecimentos entre as áreas e a atenção que recebem pelo trabalho. Um sucesso inesperado foi uma integração além da sala de aula com a maior presença de pais no conselhos de classe bimestrais.
“Eles sentem que podem participar também e sentem orgulho de os filhos estudarem numa escola premiada”, fala a diretora. “A escola é mais viva quando todos os segmentos dentro dela interagem. Todos que trabalham dentro da escola fazem parte da educação”.
Para ela, o prêmio mostra que seu trabalho está no percurso certo, o da busca por uma educação cada vez melhor. “Não depende só do nosso trabalho, é preciso que os governantes olhem melhor para a educação”, diz Adriane e completa: “Mesmo assim, temos que pensar: o que posso fazer com o que tenho agora?”.