Jovem: boa gestão das emoções é um traço típico dos líderes precoces de sucesso (Thinkstock/.shock)
Claudia Gasparini
Publicado em 25 de abril de 2016 às 16h49.
São Paulo - Ser chefe mais cedo do que a média dos profissionais é um privilégio que cobra o seu preço.
Há o evidente benefício de queimar etapas e não precisar esperar tantos anos para experimentar a liderança. Mas as armadilhas não são poucas - a começar pelo fantasma da insegurança.
De acordo com o coach Alexandre Rangel, sócio da Alliance Coaching, muitos jovens gestores temem não ter credibilidade perante seus pares e subordinados.
"O chefe inexperiente tem medo de ser chamado de 'garoto' pelas costas, mas muitas vezes isso não passa de um problema imaginado, uma fantasia", explica.
Em alguns casos, porém, a paranoia tem fundamento. Não é raro que profissionais mais velhos se sintam ameaçados e até boicotem o chefe mais novo por puro preconceito, observa Rangel.
Outro desafio está em lidar com uma equipe formada formada por ex-colegas. Segundo João Marcelo Furlan, CEO da consultoria Enora Leaders, é comum que um gestor jovem acabe liderando seus antigos pares de trabalho.
“Muitos podem fazer questionamentos como ‘Quem é ele para dar ordens?’, ou ter dificuldades para separar o velho amigo do novo chefe”, explica Furlan.
Mas como alguns profissionais conseguem derrotar os desafios trazidos pela pouca idade e ter sucesso em posições de liderança?
Para Rangel e Furlan, eles conseguem reunir pelo menos algumas das características listadas abaixo:
Uma das principais vantagens competitivas dos chefes jovens é a sua familiaridade com a tecnologia.
“Eles podem ser modernos, futuristas, inovadores, impulsivos, com a mente aberta para as possibilidades”, explica Rangel. “Se souberem usar todas essas características para facilitar a vida dos mais velhos, sobretudo, serão muito bem vistos”.
Competência preciosa em todas as idades e níveis hierárquicos, a boa gestão das emoções é o melhor instrumento para lidar com a desconfiança dos outros a respeito da chefia precoce.
Líderes empáticos e inteligentes emocionalmente conseguem entender que essas resistências são naturais e podem ser vencidas com habilidade e paciência, diz Furlan.
Outro sinal de inteligência emocional é o autoconhecimento, um traço essencial para a chefia em qualquer momento da carreira.
No caso do jovem, afirma Furlan, conhecer-se bem é fundamental para criar um estilo próprio de liderança. É também o que traz consciência sobre suas falhas e lacunas enquanto gestor, que deverão ser supridas com a ajuda dos demais.
Para se blindar das dúvidas a respeito de sua competência, muitos chefes jovens vestem uma espécie de "armadura" e caem no equívoco de ignorar a opinião dos mais velhos. Porém, diz Rangel, a melhor atitude é a humildade: bons chefes escutam os mais experientes, sejam eles superiores ou subordinados seus.
“No fim, a habilidade mais importante é o relacionamento”, explica o coach. “Mais do que qualquer outro, o chefe mais novo precisa ser aceito pela equipe, então precisa saber se comunicar e cativar os demais”.
De acordo com Rangel, um dos defeitos mais comuns dos gestores jovens é a inexperiência com o feedback. "Eles nunca precisaram dar um retorno para ninguém, então muitas vezes ignoram ou negligenciam esse processo", diz.
Quem reconhece o peso desse instrumento - e sabe usá-lo bem, apesar da falta de vivências prévias - costuma se destacar e permanecer no cargo de chefia.
Segundo Furlan a inexperiência pode ter o seu lado bom. Um chefe com poucos anos de estrada normalmente tem um "espírito jovem", isto é, uma vontade de quebrar paradigmas e criar processos originais de trabalho. Todo o seu apetite pelo novo pode ser muito estimulante para quem trabalha com ele.
A capacidade de entusiasmar a equipe também está ligada ao tipo de relação estabelecida pelo líder. “Como a maioria deles pertence à geração Y, um grupo culturalmente menos apegado à hierarquia, eles podem ser mais próximos dos seus subordinados e contaminá-los com a sua energia”, explica Furlan.