Estados Unidos: nem sempre o conhecimento técnico é preponderante para as contratações de estrangeiros (Thinkstock/Jupiterimages)
Claudia Gasparini
Publicado em 17 de março de 2016 às 16h11.
São Paulo - Referência indesviável para o mundo dos negócios, os Estados Unidos são um destino bastante popular entre executivos que pretendem pavimentar uma carreira internacional.
No contexto de crise econômica e dificuldade de ascensão profissional no país, o projeto pode ser ainda mais vantajoso. Para Felippe Virardi, gerente da consultoria de recrutamento Talenses, a expatriação pode ser uma ótima forma de crescer e se diferenciar.
“O executivo que passa um tempo no exterior é visto pelo mercado como um profissional robusto, adaptável, que teve acesso a uma cultura e a metodologias de trabalho diferentes”, explica Virardi. “De volta ao Brasil, ele trará um olhar mais estratégico sobre os problemas enfrentados pelas empresas daqui”.
O problema é que muitas pessoas desistem da ideia de trabalhar nos Estados Unidos - ou em qualquer outro país - por acreditarem que os empregadores estrangeiros desvalorizariam sua experiência de trabalho "restrita" ao mercado brasileiro.
Há aí um grande equívoco, aponta Leonardo Freitas, sócio-diretor da Hayman-Woodward, empresa especializada na entrada e saída de pessoas físicas e jurídicas do Brasil.
Um profissional altamente especializado, como um executivo da área de TI com uma certificação específica da sua área, por exemplo, será muito valorizado nos Estados Unidos, a despeito de ter trabalhado apenas aqui, explica Freitas.
Mas não são apenas os especialistas técnicos que podem receber a acolhida do mercado norte-americano. “Um profissional de nível superior com méritos significativos em sua profissão, que vão de prêmios profissionais a um impacto comprovado na empresa onde atuou, tem boas chances com os headhunters de lá”, explica o sócio da Hayman-Woodward.
Segundo ele, o executivo com interesse em trabalhar nos Estados Unidos deve fazer uma petição para o órgão de imigração do país solicitando um visto de permanência, a partir de uma série de documentos que comprovem seu preparo para atuar profissionalmente no mercado de lá.
Esse pedido precisa ser muito bem embasado: por meio de empresas credenciadas, o governo norte-americano precisará avaliar currículo, histórico escolar, cartas de recomendações, entre diversos outros papéis.
Em muitos casos, é um bom caminho atuar como PJ (Pessoa Jurídica) e prestar serviços para grandes empresas. Para essa função é preciso ter nível superior e pelo menos sete anos de experiência comprovada após a graduação, segundo Freitas.
Outra opção muito comum entre advogados, contadores e economistas é oferecer consultoria para “family offices”. Nesse caso, os profissionais podem ficar no país na qualidade de paralegais por dois anos. “Quem for tributarista pode assinar balanços não-auditados e prestar consultoria para empresas americanas que queiram vir para o Brasil, só não podendo litigar”, explica o sócio da Hayman-Woodward.
Embora trabalhoso e exigente, esse movimento pode resultar em um forte impulso para a carreira do executivo brasileiro. Veja a seguir 5 conselhos para se dar bem profissionalmente em terras ianques:
1. Não tente fazer tudo sozinho
De acordo com Freitas, o ideal é que todo o processo de migração seja acompanhado por um advogado e por uma empresa credenciada oficialmente pelo governo norte-americano, que avaliará os documentos necessários para validar o processo.
Ele justifica sua orientação com um exemplo: não são raros os executivos que acreditam que ficarão “ricos” nos Estados Unidos, mas ignoram a considerável carga de impostos do país - aplicada aos seus ganhos lá e também no Brasil. “É importante contar com assessoria profissional para fazer um estudo de impacto tributário, para que o movimento de fato seja vantajoso para o executivo”, diz o especialista.
Além disso, é preciso lembrar que os Estados Unidos exercem um controle rigoroso de imigrantes ilegais, e brasileiros que entram com visto errado são penalizados invariavelmente. Para não se dar mal, é importante contar com a ajuda de um consultor para obter os documentos de entrada mais adequados.
2. Estude a cultura norte-americana
Conhecer a cabeça dos locais é essencial para se integrar mais facilmente ao mercado de trabalho nos Estados Unidos. Ao saber quais são as diferenças culturais mais sensíveis entre as duas nacionalidades, você evita gafes e age menos como um estrangeiro.
“O americano gosta muito da personalidade amigável e pouco tensa do profissional brasileiro, mas é muito mais rígido quando o assunto é a entrega”, explica Freitas. “Eles esperam que você seja pontual e cumpra prazos rigorosamente, não aceitam acomodações e nem desculpas para quebrar um compromisso”.
Segundo o especialista da Hayman-Woodward, aprender os códigos de comportamento dos norte-americanos é tão ou mais importante do que estudar a cultura organizacional da empresa onde você vai trabalhar.
3. Priorize a excelência em inglês (sobretudo na escrita)
Você pode ser um profissional impecável do ponto de vista técnico e comportamental, mas sua carreira nos Estados Unidos não irá muito longe se o seu nível de inglês for insatisfatório. Segundo ranking divulgado recentemente pela empresa de educação EF Education First os brasileiros ocupam o 38º lugar na proficiência do idioma entre 63 países.
Pode parecer incrível, diz Freitas, mas a verdade é que muitos executivos se lançam a uma aventura profissional nos Estados Unidos com várias deficiências no inglês, e seu domínio capenga do idioma causa estranhamento e até irritação em chefes e colegas de trabalho.
Para se dar bem, é fundamental conquistar fluência e adequação absoluta na comunicação com os nativos - sobretudo na escrita. “Eles não se incomodam tanto assim com sotaque, mas é preciso ter um texto claro e correto, já que boa parte da comunicação no trabalho acontece dessa forma atualmente”, explica o especialista.
4. Busque ter pluralidade nas suas experiências internacionais
Freitas explica que, para um empregador norte-americano, o currículo ideal de um executivo inclui pelo menos 10 anos de experiência de mercado e pelo menos uma pós-graduação, seja lato ou stricto sensu. Ter feito parte da sua educação nos Estados Unidos ajuda, mas não é obrigatório.
Outro atrativo importante é contar com experiências de trabalho em diversos países - que não apenas os Estados Unidos. “As empresas americanas valorizam muito quem traz bagagem acumulada em continentes diversos, como Ásia ou Oriente Médio, por exemplo”, explica o especialista da Hayman-Woodward. “Quanto mais plural a sua experiência internacional, mais atrativo se torna o seu currículo aos olhos deles”.
5. Invista em competências comportamentais
Profissionais altamente especializados em suas áreas são muito buscados pelas empresas dos Estados Unidos, mas nem sempre o conhecimento técnico é preponderante para as contratações.
Freitas afirma que os empregadores norte-americanos dão muito valor a profissionais com espírito empreendedor: mesmo que você não tenha o seu próprio negócio, é esperado que pense como “dono” da empresa onde trabalha. “Você tem que se adaptar ao estilo ‘do it yourself’”, diz.
Além disso, costuma se dar bem no país quem tem postura flexível e escuta aberta à diversidade de opiniões. “O brasileiro tende a ser mais aberto do que profissionais de outras nacionalidades”, explica o especialista. “É preciso explorar essa vantagem competitiva natural”.