São Paulo — Pense rápido: se você pudesse escolher um destino de intercâmbio para aprender inglês, qual seria a sua primeira opção?
Se você for como a maioria, provavelmente elegeria Canadá, Estados Unidos ou Austrália. Esses são os três países mais procurados na internet por brasileiros que querem fazer cursos no exterior, de acordo com um levantamento de maio de 2017 feito pela empresa de inteligência de dados BigData Corp.
Mas isso está mudando. Embora a preferência continue por países consagrados no imaginário do intercambista, certos destinos menos convencionais têm ganhado relevância por uma mistura de razões, explica Gabriel Passarelli, cofundador e diretor da agência Descubra o Mundo.
A primeira delas, claro, é econômica: com a crise, mais brasileiros têm procurado países cuja moeda local é mais fraca do que o real, e/ou com custo de vida baixo — pelo menos mais baixo do que o de cidades como Londres, Nova York ou Vancouver.
Outro motivo para fugir de lugares populares é evitar encontros com conterrâneos. “Não há tantos brasileiros em destinos pouco explorados, o que faz com que você tenha uma imersão mais profunda no idioma local, já que terá menos oportunidades de falar português”, explica Passarelli.
Ainda assim, destinos como África do Sul, Malta ou País de Gales ainda inspiram desconfiança e até preconceitos. Uma ideia comum é que um país menos conhecido não agregará tanto valor ao currículo quanto um lugar com mais status.
“O intercambista acha que o recrutador vai desmerecer um curso num país diferente, mas é bem o contrário”, diz Andrea Arakaki, diretora geral da Education First EF Brasil. “Na verdade, a escolha por um destino inusitado muitas vezes é vista como um indício de que o profissional é flexível e aberto ao novo”.
Outras vantagens (e desvantagens) dos destinos menos convencionais estão ligados às peculiaridades de cada um deles. Confira a seguir as principais características de 5 locais de estudo, selecionados e comentados por especialistas ouvidos por EXAME.com:
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1. Singapura
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1/5 Singapura (Kinsei-TGS/Getty Images)
Ao lado do mandarim, do malaio e do tâmil, o inglês é uma das línguas oficiais desta cidade-estado que serve como porta de entrada para a Ásia. “Estudar em Singapura é interagir com uma vasta gama de nacionalidades ao mesmo tempo, o que é muito valioso para experiência cultural do intercambista”, diz Arakaki.
Berço de startups e referência para o mundo corporativo, o destino é especialmente procurado por quem quer aprender inglês voltado para o mundo dos negócios. A diretora da EF Education First Brasil também menciona como vantagens o fato de Singapura ser uma cidade segura, moderna e com excelente transporte público. Não é preciso tirar visto para estadias de até quatro semanas.
Também há boas opções para quem gosta de compras, passeios culturais e até praias. A localização geográfica estratégica ainda abre a possibilidade de fazer turismo por países do sudeste da Ásia com baixo custo, como Bali, Tailândia e Filipinas.
O principal inconveniente da escolha, segundo Arakaki, tem a ver com a distância do país em relação ao Brasil. Além de o voo até lá ser longo e cansativo, a passagem de avião também é mais cara. “O custo de vida em Singapura não costuma ser considerado vantagem nem desvantagem, já que é relativamente próximo ao de São Paulo”, diz ela.
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2. País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia
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2/5 Edimburgo, cidade na Escócia (Facebook/The University of Edinburgh/Divulgação)
Ofuscados pela Inglaterra, os outros três países que compõem o Reino Unido são frequentemente esquecidos por quem só têm olhos para a terra da rainha Elizabeth II.
Mas País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte têm muito a oferecer, segundo Passarelli, a começar pelo fato de terem cidades com custo de vida bem mais baixo do que Londres ou mesmo Dublin.
“Outra vantagem importante é o fato de haver muito menos brasileiros do que os principais destinos de intercâmbio, e até menos do que em lugares mais incomuns como Malta ou África do Sul”, aponta o diretor da Descubra o Mundo.
Passarelli diz que em nenhum dos três há necessidade de visto para estadias de até seis meses, o que também pode ser considerado um diferencial. É tempo suficiente para explorar as montanhas, cachoeiras, trilhas e castelos da região, além de aproveitar a proximidade com outros países da Europa para visitá-los.
Para fazer turismo entre as aulas de inglês não sobram opções: em Cardiff, no País de Gales, há um museu especial para fãs da série “Doctor Who”; em Belfast, na Irlanda do Norte, existe um museu dedicado à memória do Titanic; e em Edimburgo, na Escócia, há uma grande quantidade de destilarias de uísque com visitação aberta para apreciadores da bebida.
É claro que nem tudo é perfeito. Embora seja o idioma oficial dos três países, o inglês falado no País de Gales, na Escócia e na Irlanda do Norte tem, em cada um deles, seus sotaques, particularidades e gírias com as quais o brasileiro não está acostumado —mas nada que dificulte o aprendizado da língua, promete Passarelli.
Como a moeda é a libra esterlina, a conta pode ficar bastante alta no final. Entre os três, o custo de vida é mais baixo na Irlanda do Norte, seguido por País de Gales e só então pela Escócia, a mais cara.
Outra desvantagem é o fato de que as cidades desses países são bem menores quando comparadas a grandes capitais, como Londres. O ritmo, portanto, pode ser um pouco “calmo demais” para algumas pessoas.
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3. África do Sul
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3/5 África do Sul (TripAdvisor/Divulgação)
Com custo de vida acessível e moeda oficial (rand) desvalorizada diante do real, a África do Sul tem ganhado adeptos entre intercambistas brasileiros em tempos de crise. Mas as vantagens do país não se resumem à questão financeira.
“O processo de visto não é tão burocrático quanto em outros países”, explica Passarelli. “Você não precisa do documento para estadias de até três meses e tem relativa facilidade para estender esse prazo se tiver interesse em ficar mais tempo”. Cape Town ou Cidade do Cabo é a cidade mais procurada pelos brasileiros.
Além de ter uma história rica e complexa, a sociedade sul-africana tem uma cultura afável e costuma ser receptiva com estrangeiros. O destino também traz boas opções de atividades ao ar livre, trilhas na natureza, safáris e esportes de aventura. Também existe a possibilidade de combinar o estudo com trabalhos voluntários na área social.
Passarelli menciona, entre as desvantagens, o fato de que o sistema de transporte não é tão bom quanto em outros destinos mais comuns de intercâmbio. “Não é possível conciliar estudo de idioma e trabalho remunerado e a segurança é menor do que em países mais desenvolvidos, é mais parecido com o Brasil nesse sentido”, diz ele.
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4. Costa Rica
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4/5 3 - Costa Rica (Foto/Wikimedia Commons)
Considerado o país mais próspero da América Central, a Costa Rica é uma escolha interessante para quem deseja estudar espanhol sem enfrentar os custos altos da experiência em cidades espanholas como Madri ou Barcelona.
“Além de custo de vida mais baixo, o país não exige visto para estrangeiros e é seguro”, diz Arakaki. “Outros atrativos são a hospitalidade da população, clima agradável o ano inteiro e a grande quantidade de praias e belezas naturais”, explica.
Para quem pensa em se divertir nos intervalos das aulas de espanhol, a principal oferta está ligada à natureza do país. Surfe, esportes radicais e trilhas ecológicas em parques nacionais estão entre as atividades mais procuradas pelos intercambistas.
O país, contudo, é alvo de preconceitos por ainda ser visto exclusivamente como destino de férias. Além disso, sofre com os óbvios problemas de país em desenvolvimento, com deficiências no sistema transporte público, por exemplo.
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5. Malta
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5/5 Azure Window, em Malta: rochedo serviu como cenário para série "Game of Thrones" (Foto/Thinkstock)
Em 2004, o minúsculo país ingressou na União Europeia e alguns anos depois entrou para o espaço Schengen, um acordo de abertura de fronteiras e livre circulação no Velho Continente. A inclusão de Malta no bloco europeu ajudou o país a se tornar um destino mais conhecido e atraente para turistas e estudantes internacionais, explica Bruno Passarelli, CEO da Descubra o Mundo.
“Malta começou a ser vista como uma boa alternativa porque não exige um visto específico para estadias de até 90 dias”, explica ele. “Outro grande atrativo é o baixo custo, que a torna um dos destinos mais acessíveis da Europa”. O custo de manutenção também é relativamente baixo.
O clima mediterrâneo agrada aos brasileiros mais friorentos: os verões são quentes e os invernos são amenos. Além disso, a beleza natural também costuma agradar, e um rochedo na ilha de Gozo foi até cenário da série “Game of Thrones”.
Entre os inconvenientes, é preciso lembrar que o arquipélago não apresenta o mesmo grau de desenvolvimento de outros países da União Europeia, e por isso conta com serviços públicos de qualidade relativamente baixa. Passarelli menciona a ineficiência dos transportes como um problema que incomoda muitos brasileiros, amenizado apenas pelo fato de que o país tem pequenas dimensões — 316 km² de área terrestre — e por isso pode ser facilmente percorrido a pé.
Outra desvantagem é a relativa falta de opções de lazer além das praias. Mesmo as maiores cidades podem ser bastante pacatas e vazias, o que pode entediar algumas pessoas.