Decisões de carreira (TanawatPontchour/Thinkstock)
Claudia Gasparini
Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 28 de dezembro de 2017 às 06h00.
São Paulo — Há pouco mais de uma década, a ideia de permitir horários flexíveis aos funcionários soava como absurdo aos ouvidos da maioria das empresas. Hoje, o empregador que não está aberto a essa ideia pode afastar seus melhores talentos, principalmente se forem jovens.
Essa é apenas uma entre tantas mudanças de comportamento que solaparam algumas “verdades universais” do mundo do trabalho — como o pressuposto de que um profissional sério começa e encerra o expediente sempre no mesmo horário, por exemplo.
Segundo o coach João Luiz Pasqual, muitos conselhos clássicos de carreira já não fazem mais sentido atualmente porque as relações profissionais se tornaram muito mais fluidas.
“O ambiente físico e psicológico das empresas se tornou menos controlador”, explica ele. “Ao mesmo tempo, a relação entre empregador e funcionário deixou de ser apenas financeira, comercial, e passou a envolver a busca por propósito, por significado”.
Menos formal, mais livre em alguns aspectos e certamente mais exigente, o mercado de trabalho passou a preferir a transparência à obediência. “As empresas não querem mais o funcionário que só fala o que elas querem ouvir”, afirma Carolina Cabral, gerente da consultoria Robert Half. “Preferem alguém sincero, que diga quando o negócio está no caminho errado”.
Diante de tantas mudanças, veja a seguir 5 conselhos sobre gestão de carreira que já ficaram completamente ultrapassados:
Segundo Cabral, da Robert Half, a estabilidade ainda é um fator observado pelos recrutadores quando eles avaliam um currículo. Passagens profissionais muito curtas podem dar a entender que o candidato é pouco resiliente ou que tem problemas de relacionamento.
Porém, a recomendação de ficar o maior tempo possível no mesmo emprego, para provar a sua capacidade de ser fiel a um empregador, não vale mais em todos os casos. “Se você não está subindo na hierarquia e sequer está recebendo novas responsabilidades, a sua permanência prolongada naquele emprego hoje pode ser vista como estagnação”, diz a recrutadora.
Ter um diploma, por si só, está fazendo cada vez menos diferença para novas gerações. Para se traduzir em oportunidades, a educação precisa fazer sentido dentro do seu plano de carreira. Por isso, diz Cabral, não faz mais sentido se apressar para fazer uma pós depois de acabar a faculdade.
“Deixe para fazer o curso no momento em que você tiver mais certeza do que quer”, recomenda ela. Para Rafael Souto, presidente da consultoria Produtive, o ideal é buscar a pós-graduação com pelo menos dois anos de graduação, à exceção de pessoas que já têm certeza do que pretendem fazer ou já atuam na área escolhida.“Quando você percebe que não tem conhecimentos que precisa ter, pode antecipar a especialização”, diz ele.
Já não é mais seguro se tornar um “hiper especialista” em uma determinada área da sua profissão, de acordo com o coach João Luiz Pasqual. “O mercado quer um profissional que entenda profundamente de um determinado tema, sim, mas não só daquele tema”, explica ele.
Isso advém do papel da interdisciplinaridade para a inovação e da valorização do “olhar de proprietário” pelas empresas, que agora querem um profissional preocupado com o negócio como um todo. Porém, o extremo oposto também não é uma boa ideia. Se você domina um grande leque de temas, mas não conhece profundamente nenhum deles, também corre o risco de ficar para trás.
Na época em que a relação entre funcionários e empresas era pautada apenas pela troca de dinheiro por trabalho, o empregador queria simplesmente ser obedecido. Hoje, remunera pessoas para pensar em soluções para seus problemas — e não importa o nível hierárquico. “O mercado hoje quer um profissional resiliente, mas não um mero executor de tarefas”, diz Pasqual.
Isso significa que as empresas não apenas aceitam ser contestadas em alguns momentos, como também esperam por isso. “Hoje é preciso assumir uma postura de protagonismo dentro da empresa, então você pode e deve se manifestar sobre o que julga importante”, recomenda o coach.
Você foi demitido porque cometeu um erro grave? Seu inglês não é tão bom assim? Antigamente, muita gente diria para você omitir ou distorcer essas informações no seu currículo ou na entrevista de emprego. Hoje em dia, a recomendação é oposta: ainda que a verdade soe mal, seja sincero.
Em processos seletivos, candidatos mentirosos são facilmente pegos pelo cruzamento de informações entre empresas e consultorias de recrutamento. Segundo Cabral, esconder uma falha é pior do que expô-la e buscar explicá-la. Ao contrário do passado, quando se valorizava uma figura idealizada do funcionário, o empregador atual prefere profissionais imperfeitos, mas autênticos.