São Paulo — Hobbies são uma parte essencial da vida de qualquer pessoa. Além de gerar benefícios comprovados pela ciência para a produtividade, o exercício de paixões totalmente desvinculadas da sua profissão traz saúde e bem-estar.
Não é de espantar, portanto, que muita gente alimente o sonho de transformar a "atividade do fim de semana" em ofício. Isso significa borrar o limite entre obrigação e prazer, e se aventurar por experiências profissionais muito mais influenciadas pela emoção.
Às vezes dá certo, diz a coach norte-americana Joyce K. Reynolds. “Ao contrário do emprego, o hobby é escolhido apenas porque traz prazer, é aquilo que no seu íntimo você gosta de fazer”, afirma ela. Se você consegue transformar essa atividade numa ocupação sustentável e lucrativa, há boas chances de ser feliz.
No entanto, como qualquer outro processo de mudança de carreira, não faltam armadilhas pelo caminho. “Há um grande risco de se frustrar, desperdiçar tempo e perder dinheiro caso você aposte em algo inviável”, afirma Silvana Mello, diretora de desenvolvimento de talentos da consultoria LHH.
Se for impossível transformar o hobby em profissão, a saída é tentar entender quais são os motivos pelos quais ele traz tanto prazer a você — e tentar emular esses mesmos efeitos numa carreira mais sustentável. Se você ama o aspecto competitivo do tênis, por exemplo, pode buscar um trabalho em que os desafios e a disputa façam parte do seu dia a dia.
Ainda assim, afirma Silvana, mudanças baseadas em boa pesquisa e forte planejamento têm tudo para dar certo. Afinal, em alguns casos, o projeto fracassa apenas porque você não se preparou o bastante.
Está pensando em converter o seu hobby em carreira? Veja a seguir 4 riscos que merecem ser levados em conta antes de fazer a transição:
1. O que era divertido pode ficar insuportável
Segundo Alexandre Teixeira, autor do livro “Felicidade S/A” (Editora Arquipélago, 2012), o hobby pode se esvaziar de prazer — ligado a algo que os estudiosos do comportamento chamam de “motivação intrínseca” — ao ser comprimido numa estrutura formal de trabalho.
É fácil entender: você gosta tanto de cozinhar, por exemplo, que faz isso até de graça. Tudo muda quando entra outra variável na equação: a renda que você precisará obter com as suas criações culinárias. “A recompensa deixa de ser a atividade e vira o salário”, explica Alexandre. “E dinheiro costuma ser uma motivação de baixa qualidade para o trabalho”.
Outro risco está no fato de que hobbies costumam ser vividos numa atmosfera de relaxamento. Se você tira a atividade dessa “redoma” e a insere num contexto de prazos, cobranças e preocupações, o prazer pode virar tédio. Daí a importância de experimentar o hobby de segunda a sexta-feira, como num “test drive”. Só essa checagem permite saber se você está disposto a comer, beber e respirar o ofício, diz a coach Joyce K. Reynolds.
2. Você pode amar um hobby, mas não ser competente nele
Paixão e talento nem sempre andam juntos. De acordo com Carlos Aldan, especialista em treinamento e presidente do Grupo Kronberg, não é raro que alguém apaixonado por uma determinada atividade não seja bom o suficiente para desempenhá-la profissionalmente.
Em muitos casos, a falta de domínio pode ser compensada pelo esforço. Buscar cursos e aulas de aperfeiçoamento é uma atitude fundamental para transformar um hobby em carreira, qualquer que seja o seu nível de conhecimento da área.
Porém, é preciso considerar a possibilidade de não ter aptidão para o ofício. Nesse caso, afirma Aldan, pode ser melhor permanecer como um amador.
3. A atividade pode não ter viabilidade financeira
Talento é o que não falta para você? Mesmo assim, é preciso lembrar que até profissionais extremamente competentes por vezes não obtêm reconhecimento ou mesmo uma remuneração mínima para viver porque sua áreas simplesmente não têm mercado.
Segundo Reynolds, é importante avaliar de que formas você pode ganhar dinheiro com o seu hobby antes de transformá-lo em profissão — ou mesmo se a atividade tem qualquer possibilidade de se converter em renda.
Nem sempre a resposta é óbvia. “Faça pesquisas, invista em networking, converse com outras pessoas” orienta a coach. Se de fato é possível ganhar dinheiro, trace um plano de negócios para o seu talento e crie uma estratégia para vendê-lo.
4. Talvez você não esteja pronto para começar a "se vender"
Ao contrário de profissões tradicionais, um hobby convertido em carreira exige uma enorme capacidade de reinvenção e ousadia. Até porque, em muitos casos, a mudança significa abraçar a carreira de empreendedor.
Porém, nem todo profissional está pronto para gerir um negócio, diz Reynolds. “Você precisa ter perfil para vendas, ser ousado, confiante, capaz de se expor”, diz ela. “Sem isso, você terá dificuldade para convencer o mercado a comprar o seu trabalho”.
A coach também lembra que o profissional pode não estar preparado para a aventura do ponto de vista financeiro. Afinal, toda mudança de carreira leva tempo e pode exigir uma boa reserva na sua conta bancária até começar a se pagar.
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1. Hobbie que virou profissão, profissão que virou diversão
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1/9 (Thinkstock)
São Paulo – A palavra mais repetida nos depoimentos destes 8 profissionais que transformaram hobbies em carreira é paixão. Conseguir conjugar o verbo apaixonar-se durante o expediente é o melhor dos mundos, de acordo com eles. Desenho, pôquer, tecnologia, moda, artigos retrô são alguns dos exemplos de hobbies que ganharam dimensões mais profissionais na vida destas pessoas. Na opinião da consultora Alle Ferreira, o sucesso na empreitada vem da junção de amor (pela atividade) e de planejamento estratégico. “Além de identificar o que é um grande prazer, a pessoa deve olhar para o mercado de trabalho”, diz. O segredo, segundo ela, é pensar em como o que você ama fazer pode ajudar as pessoas. “É isso que faz um hobbie virar trabalho”, diz Alle. A seguir, veja nas fotos desta galeria, como estas oito pessoas conseguiram fazer exatamente isto:
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2. Felipe Mojave
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2/9 (Arquivo Pessoal)
Aos 20 anos, Felipe Mojave teve seu primeiro contato com o pôquer. Até então, diz ele, jogar futebol e tocar violão eram suas grandes paixões. Mas estudo, prática e talento para o jogo de cartas colocaram Mojave em evidência, o que abriu as portas para que o hobbie virasse profissão e mudasse seus planos de seguir a carreira iniciada no mercado financeiro. “Minha ascensão foi bem rápida, mas eu nunca tive a intenção de ser um jogador profissional de pôquer. Na verdade, eu me tornei um por conta dos resultados que eu obtive jogando, que acabaram chamando atenção do mercado e então vieram ofertas de patrocinadores”, diz. Hoje em dia percorre o mundo jogando campeonatos, atua também como instrutor em cursos, dá palestras, coaching e se diz incrivelmente mais feliz. “Posso fazer o que eu amo e controlar meu tempo. Acho que esse é o sonho de qualquer pessoa, tanto no quesito profissional, quanto pessoal. Eu já fui, em um mesmo ano, para 14 países diferentes jogar pôquer”, diz. Em janeiro, ganhou 170 mil reais em um torneio de pôquer nas Bahamas.
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3. Gabriel Ferreira
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3/9 (Divulgação)
A paixão pelo desenho pintou cedo na vida de Gabriel Ferreira, sócio do Kauai Studio, especializado em dermopigmentação. “Desenho desde que me conheço por gente”, diz. Mas o caminho até aproximar desenho e fonte de renda contou com algumas curvas, conta. “Sou formado em design gráfico, mas trabalhava com publicidade e marketing. Dei uma guinada aos 30 anos”, diz. Na época era diretor de arte, mas o dinheiro era a sua única motivação para trabalhar. Ele já tinha uma máquina de tatuagem, mas só tatuava, por hobbie, o próprio corpo e de amigos. “Virei a mesa e comecei a procurar cursos de tatuagem”, diz. A resposta estava perto de casa, no Kauai Studio. Foi lá que Ferreira conseguiu unir hobbie e profissão, com a ajuda de André Carbone, fundador do Kauai. Hoje também é sócio do estúdio. “Dermopigmentação é meu sustento. Foi vantajoso financeiramente e pessoalmente. Sou mais feliz e isso reflete na carreira”, diz.
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4. Deborah Moschella e Beatriz Bonas
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4/9 (Divulgação)
Formada em turismo, Deborah Dantas Moschella, de 21 anos, já desenvolvia uma carreira distante da sua iniciação acadêmica dando aulas de dança, quando a vontade de entrar (de vez) em forma trouxe uma oportunidade profissional. É que ela e a amiga Beatriz Bonas, de 25 anos, criaram um perfil no Instagram - o Team Mandinga - para ajudá-las a perseverarem na dieta saudável e da rotina de exercícios físicos. O hobby e os cuidados com a saúde ganharam contornos profissionais. Hoje elas participam de feiras, somam parcerias e pretendem expandir o nome Team Mandinga. “Começou em outubro do ano passado, e foi tomando proporções maiores. O público está incentivando e já conseguimos parcerias para falar sobre produtos”, diz.
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5. Luan Gabellini e Felipe Cataldi
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5/9 (Divulgação)
“Desde criança sou apaixonado por tecnologia”, diz Luan Gabellini, sócio-fundador da Betalabs. Aos 14 anos já desenvolvia sites como freelancer. Apesar de a aptidão ter surgido tão cedo na sua vida, Gabellini preteriu a faculdade técnica pela de administração e foi começar a carreira estagiando em banco, junto com o colega Felipe Cataldi. “Foi aí que começamos a pensar em juntar o hobbie da tecnologia e a vontade de abrir um negócio”, conta. Era o nascimento da Betalabs, empresa que desenvolve plataformas de e-commerce e de gestão em nuvem. Se tivesse seguido carreira no mercado financeiro, no curto prazo, a remuneração teria sido mais vantajosa. Mas, Gabellini tem certeza que fez a escolha certa. “Quando você trabalha com o que gosta, dá mais resultado”, diz.
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6. Thais Diniz
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6/9 (Divulgação)
Itens retrô rodearam a publicitária Thais Diniz, de 28 anos, durante muito tempo. Seus pais eram donos de um antiquário, mas o visual às vezes pesado de alguns itens antigos a incomodava. “Gostava de coisas antigas, mas coloridas”, diz. A empreitada de seus pais não deu certo e eles desistiram do ramo. Já formada e trabalhando na área de publicidade, Thais decidiu resgatar esta paixão pelo antigo. “Queria ter mais flexibilidade e colocar meu sonho em prática”, diz. Hoje é proprietária e administra a Be Vintage, loja de artigos retrô em São Paulo (SP). “Não é fácil, porque é você quem precisa fazer acontecer, mas com certeza, estou mais satisfeita e ainda moro bem perto da loja”, diz.
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7. Larissa Cerri
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7/9 (Divulgação)
“Sou advogada por formação e mãe blogueira por paixão”, diz Larissa Cerri, do blog We Love Cherry. Ela diz ter demorado a se descobrir profissionalmente. Dentro deste processo, o primeiro passo foi perceber o que não queria. Foi aí que o direito saiu da sua vida profissional e entrou o projeto de fazer scrapbooks para vender. “Mas logo vi que não era aquilo”, diz. O voluntariado e o trabalho como modelo preencheram um bom tempo da sua vida até que veio a gravidez, um sonho antigo realizado. “Fui mãe em tempo integral durante três anos”, conta. Com tantas experiências, aprendizados e muitas dicas surgiu naturalmente uma vontade de compartilhar o que sabia com outras mães e futuras mamães. “Foi daí que nasceu a ideia de criar um blog”, diz Larissa. A transformação foi difícil, mas ocorreu naturalmente, conta. “Nunca entendi muito de computador, nem fiz jornalismo, mas os desafios ficaram pequenos perto da minha satisfação com a nova profissão. Acredito que quando a gente faz o que ama, tudo fica mais fácil”, diz.
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8. Rodrigo Oliveira
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8/9 (Divulgação)
Rodrigo Oliveira, de 29 anos, ganhou a primeiro computador aos 11 anos. Com 14 anos, já desenvolvia e vendia programas de computador, um de seus hobbies preferidos. Na hora de escolher a faculdade, ficou em dúvida entre duas paixões: tecnologia e publicidade. Estudou TI, fez MBA em gestão de tecnologia. Fundou uma operadora de telecomunicações e call center, mas foi apenas quando criou a Vitamina Web, em 2008, que tecnologia e publicidade convergiram na sua vida profissional. A empresa faz sites promocionais e marketing digital. “É o que gosto de fazer. Não existe cansaço nem marasmo”, diz.
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9. Agora, veja transições de carreira que deram (muito) certo
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9/9 (Alessandro Shinoda)