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Vozes: Que neste 8 de março possamos reconhecer nossa força

Em 2022, busquemos a esperança, as possibilidades, as lutas que vamos encampar e ganhar; é tempo de revolução

Young woman flexing muscles in front of large superhero shadow on pink background (Klaus Vedfelt/Getty Images)

Young woman flexing muscles in front of large superhero shadow on pink background (Klaus Vedfelt/Getty Images)

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Publicado em 8 de março de 2022 às 13h28.

Última atualização em 8 de março de 2022 às 13h40.

Por Isabela Rahal*

“Elas são fáceis porque são pobres”. Todas nós nos enojamos com a frase desumana e misógina do deputado estadual Arthur do Val, ou Mamãe Falei, diante de refugiadas ucranianas — mulheres que perderam tudo em uma guerra cruel — objetificando-as, tratando-as sem qualquer respeito.

Nos enojamos não apenas pela falta de humanidade na fala e nas ações, mas também porque momentos como esses nos geram gatilhos e lembranças de experiências anteriores que nós mesmas passamos. Toda mulher já foi desrespeitada e objetificada, todas nós sofremos violência — muitas vezes em seu momento mais vulnerável.

É triste, se não revoltante, que esse acontecimento se passe dias antes do Dia Internacional da Mulher. Um lembrete doloroso de que estamos muito longe de um mundo justo e com igualdade de gênero. Os tempos andam sombrios, os retrocessos nos cercam. A resiliência às vezes tem falhado — passamos por tanto. E homens como o Mamãe Falei sentem liberdade para fazer o que fazem porque acreditam que somos frágeis. Se aproveitam de mulheres vulneráveis. Acreditam que não vamos reagir.

A deputada estadual Isa Penna, recentemente, se pronunciou sobre o assédio que sofreu no plenário: “Eu não sou a deputada que sofreu um assédio. Eu sou a deputada que reagiu a um assédio”. Quantas vezes você não reagiu? Se reergueu? Superou desafios e dores que achou que seriam insuperáveis? Somos tão fortes. Principalmente quando caminhamos juntas.

E é precisamente o que fazemos em momentos como esses que nos define como sociedade. É a resposta que damos a esses momentos que ditam os rumos do nosso país. É justamente por isso que, nesse dia 8 de março, trago um apelo: não deixemos que a dor tome esse dia. Ressignifiquemos os nossos protestos. Nós somos sobreviventes, determinadas, resilientes.

Narrativas podem nos fazer ganhar ou perder o mundo. Por muito tempo nos foi contada a história de que somos mulheres frágeis. Descreveram sensibilidade como fraqueza, determinação como teimosia, assertividade como histeria. É mentira. Somos fortes, somos muitas, e reagiremos.

Em 2022 precisamos de uma revolução: de revolta contra o poder estabelecido, contra instituições políticas machistas, contra homens misóginos que nos dizem que não temos capacidade de liderar e nos defender. Mas a revolução só começa com a compreensão do tamanho da nossa força como grupo, com a segurança de nossas capacidades de lutar de volta. Reconhecer a força que já habita em nós é urgente. Exaltá-la.

Proponho que, neste ano, não nos vejamos (apenas) como as mulheres que se indignaram e sofreram com as declarações de um deputado misógino. Proponho que sejamos as mulheres que reagiram, e cassaram o deputado misógino por suas declarações. E esse é só o começo.

Vamos além: proponho que, em 2022, busquemos a esperança. As possibilidades. As lutas que vamos encampar e ganhar, porque podem ser difíceis e custosas, mas não são impossíveis. Nesse dia 8 de março faço um apelo para que, mais do que nunca, reconheçamos a nossa força — e possamos gritar aos quatro cantos o quão grande ela é. É tempo de revolução.

*Isabela Rahal é diretora de articulação política da ONG Elas no Poder

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