Mulheres rurais são responsáveis por cerca de 43% da renda das suas famílias (Natalie Behring/Bloomberg)
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Publicado em 22 de junho de 2023 às 17h40.
Por Juliana Barros*
Se acreditamos que "lugar de mulher é onde ela quiser", precisamos então falar da importância da mulher do campo na agricultura familiar e como ela enfrenta o machismo e a baixa valorização, mesmo desempenhando um trabalho que coloca comida na mesa de milhares de famílias brasileiras e, ao mesmo tempo, também participa ativamente do desenvolvimento de suas comunidades.
E temos dados que comprovam. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), na América Latina e Caribe, cerca de 60 milhões de mulheres atuam no campo, sendo responsáveis pela produção de 60% a 80% dos alimentos consumidos na região.
Uma outra pesquisa conduzida pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelou que, em 2019, a presença das mulheres no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), uma política pública que incentiva a venda de produtos da agricultura familiar, atingiu um índice de 80%, o mais alto já registrado no país.
E a contribuição das mulheres rurais não para por aí, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas são responsáveis por cerca de 43% da renda das suas famílias, superando a proporção observada em áreas urbanas.
As mulheres do campo também marcham! Um exemplo marcante do engajamento e da luta das mulheres rurais é a "Marcha das Margaridas", um movimento que reúne milhares de mulheres trabalhadoras rurais em todo o Brasil. Essa marcha, inspirada na líder sindical e ativista Margarida Maria Alves, tem como objetivo reivindicar direitos, denunciar injustiças e promover a igualdade de gênero no campo.
Essa ação tem sido um importante meio para amplificar as vozes das mulheres rurais e chamar a atenção para suas demandas. Elas reivindicam acesso a políticas públicas efetivas, combate à violência de gênero, melhores condições de trabalho, igualdade salarial, acesso à terra e à água, entre outras questões fundamentais para a garantia de seus direitos e dignidade.
Incentivos foram conquistados, mas ainda não temos o ideal.
Para avançar ainda mais, é imprescindível valorizar e fortalecer o papel das mulheres rurais, levando em consideração as reivindicações trazidas pela Marcha das Margaridas.
Existem leis e políticas públicas que buscam incentivar a participação destas mulheres e proteger seus direitos, como a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Lei no 11.326/2006), o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e a Lei no 13.001/2014, que estabelece diretrizes para a agricultura familiar, incluindo ações específicas para as mulheres.
Mas, é necessário reconhecer que esses incentivos são apenas um passo inicial. Ainda é preciso avançar na implementação efetiva dessas políticas e criar mais programas e políticas específicas que atendam às necessidades e desafios enfrentados por elas, promovendo o fim da violência e igualdade de gênero no campo de forma abrangente e consistente.
É hora de valorizar a base da agricultura familiar. Reconhecer e impulsionar as mulheres rurais não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia fundamental para alcançar a segurança alimentar e colaborar para o desenvolvimento sustentável do nosso país.
*Juliana Barros é diretora de comunicação da ONG Elas no Poder
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