Jornalismo é importante para o desenvolvimento da política do nosso país e a construção diária da nossa democracia (AleksandarGeorgiev/Getty Images)
Bússola
Publicado em 5 de abril de 2022 às 15h00.
Por Juliana Barros*
É preocupante o aumento de casos de violência contra jornalistas no Brasil. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) fez um levantamento, em 2021, que mostra 430 casos de violência contra a classe, dois a mais que no ano de 2020. Um recorde na série histórica de registros, iniciados na década de 90. E um recorde que de maneira alguma podemos nos orgulhar.
Esses dados surgiram com base nas denúncias recebidas pela Fenaj e pelos Sindicatos de Jornalistas, mas ainda existem muitas agressões que não foram denunciadas e esse silenciamento também é preocupante.
A Fenaj também observou que os ataques virtuais e as agressões verbais estão sendo voltadas principalmente às mulheres jornalistas, que sofrem agressões com viés sexista, misógino e puramente machista. Sendo atacadas pela sua aparência, vida pessoal e até pela sua orientação sexual.
O relatório “Violência de gênero contra jornalistas”, produzido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), com apoio do Global Media Defense Fund da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) mostra que, em 2021, foram registrados 119 ataques contra mulheres jornalistas e ataques de gênero envolvendo profissionais da imprensa.
Sou jornalista formada, trabalho hoje na área de assessoria de comunicação política e me assusta ver como essa violência chegou a esse nível e como esses ataques e silenciamento afetam diretamente nossa democracia e nossa liberdade de imprensa. Parece que estamos recuando. Foram décadas para que as mulheres também ocupassem seus espaços no meio da comunicação e somos atacadas por fazer nosso trabalho.
Outro dado preocupante que o relatório traz é que os principais alvos dos agressores são moral e reputação das jornalistas, ataques homofóbicos e transfóbicos. Já houve, inclusive, casos de violência física contra mulheres e ataques onlines motivados por matéria relacionada a gênero.
Os pesquisadores ainda fizeram um filtro com as palavras mais utilizadas para ofender os profissionais do jornalismo. São elas: “vagabunda”, “puta”, “feia”, “velha”, “biscate”, “queima rosca” e “viado”. Outros termos que apareceram foram “loucas”, “mentirosas”, “fofoqueiras” e, com uma conotação mais ideológica, “militantes”, “jornazistas”, “comunistas” e “esquerdistas”.
A violência política de gênero também está nos bastidores, colocando assessoras e jornalistas que trabalham diretamente nessa pauta como alvos. A maioria dos ataques foi motivada pela cobertura jornalística da editoria de política e 52% dos agressores nestes casos são identificados pelas vítimas como agentes do Estado. O que também me faz questionar se essa é uma maneira de atacar diretamente nossa democracia com a proteção do próprio Estado.
Precisamos falar e agir contra a violência sofrida pelos profissionais da comunicação, principalmente as mulheres, alvos de agressões machistas. O jornalismo é importante para o desenvolvimento da política do nosso país e a construção diária da nossa democracia. Seja assessorando um mandato político, seja fazendo cobertura sobre os assuntos que envolvem a política legislativa e executiva. Não podemos nos calar!
*Juliana Barros é diretora de comunicação da ONG Elas no Poder
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