Criatividade gera perspectiva e é importante cultivar (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 13 de outubro de 2021 às 15h33.
Por Rodrigo Pinotti*
Caos é uma palavra bastante exata para definir a experiência da maior parte das pessoas com filhos quando o trabalho remoto se tornou uma realidade incontornável no começo da pandemia. Ninguém estava realmente preparado para passar meses a fio trabalhando de casa com crianças gritando, correndo, tropeçando nos fios, brigando “porque ele empurrou primeiro” ou tentando esganar o coitado do cachorro a um metro e meio de distância da sua call — ou tudo isso ao mesmo tempo.
Aprendemos bastante com a experiência, porém. Segundo pesquisa da Filhos no Currículo & MM360, 99% dos profissionais com filhos disseram ter desenvolvido habilidades profissionais durante o home-office a partir da relação com os filhos, com ênfase na paciência (ah vá), resiliência, criatividade, empatia e liderança. Desconfio que o 1% restante apenas não tenha entendido bem a pergunta. É impossível passar ileso por uma situação como essa.
A mesma Filhos no Currículo, criada por Michelle Levy Terni e Camila Antunes, tem promovido neste outubro, mês da Criança, a campanha #meufilhonocurriculo, pela qual os parcos leitores da coluna talvez já tenham sido impactados. A ideia é incentivar a reflexão sobre as habilidades que nasceram em cada um de nós depois da chegada dos filhos, com os relatos sendo publicados nas redes sociais.
Questionei a pequena pokémon de sete anos que temos em casa a respeito de sua opinião sobre o tema. Segundo ela, “quando você é bebê, você acha que tudo é seu, inclusive as coisas dos seus amigos, e quer pegar tudo. Depois, quando você vira criança, tudo é divertido porque você brinca bastante. Aí você vira adulto, e tudo é chato, igual agora, com você aí trabalhando.”
Não que seja necessariamente chato. O trabalho pode nos trazer desafios estimulantes e capazes de nos motivar, de nos fazer ir a lugares onde nunca fomos antes, a realizar coisas que nem sabíamos ser capazes. Mas é fácil se deixar levar pela rotina e perder a perspectiva. É fácil perder a imaginação que tínhamos quando éramos crianças. Sem imaginação, deixamos de ter expectativa, que, em resumo, é o que nos faz levantar da cama todos os dias. Afinal, se você não tem expectativa de que possa ir onde nunca foi antes, ou de que possa realizar algo que nunca imaginou ser capaz, qual é o ponto disso tudo? Se você parou de sentir aquele frio na barriga, é porque talvez esteja na hora de procurar uma motivação nova.
Então, se há algo que aprendo todos os dias com meus dois filhos além de que cachorros são mais elásticos do que você imagina, é que é preciso imaginar para se divertir. Seja para você fingir ser o Lobo Mau, seja para você enxergar até onde pode ir em determinada empresa ou carreira, é preciso ser um tanto criativo. Criatividade gera perspectiva.
Por outro lado, é preciso ter o pé no chão e aprender com o que a vida ensina, para podermos avançar e realizar coisas concretas. Antes de 12 de outubro, a pokémon ouviu minha esposa dizer que ia esconder os presentes para que eles os procurassem. “Mas é você quem compra, né?”, perguntou, com olhar sério. “Claro”, respondeu a mãe. “Tá bom. Só não vem falar depois que tem um reizinho ou um homenzinho mágico que traz os presentes do Dia das Crianças, inventando historinha que eu não vou acreditar.”
De fato, quando você começa a trabalhar, percebe que realmente não existe Papai Noel nem Coelho da Páscoa, embora alguém possa dizer que existam muitas mulas sem cabeça por aí.
*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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