Mulheres estão muito mais maduras em relação ao mercado e mais sólidas sobre as decisões e os riscos. (Denis Novikov/Getty Images)
Bússola
Publicado em 11 de março de 2022 às 16h31.
Por Carol Lacombe*
Em 2021, o investimento de venture capital no Brasil foi recorde: mais de 220 startups captaram um total de R$ 33,5 bilhões, de acordo com dados da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). Cada vez mais novos empreendedores estão recebendo investimentos cada vez maiores e maiores rodadas de investimento estão sendo registradas.
Entrei no setor em 2013, então acompanhei seu crescimento de forma bastante orgânica. Na época, não havia um volume considerável de players (ventures capital, investidores de fundos, investidores anjos, startups ou talentos em tecnologia) ou experiência compartilhada sobre o mercado. Hoje vemos mais pessoas com interesse no mercado de VC e de startups, assim como talentos mais experientes. Hoje, além da liquidez muito maior (mais capital disponível para investimentos), temos talentos especializados em tecnologia e venture capital muito mais maduros.
Saímos de uma época em que, literalmente, muitas pessoas colocavam seu carro à venda para empreender para um momento em que há mais capital para assumir riscos e gerar retornos mais significativos. Hoje, empreender é uma opção e não necessariamente uma necessidade. Pessoas estão voltando para o Brasil de grandes programas de MBA em universidades como Stanford ou Harvard ou até trocando carreiras promissoras em grandes empresas para se aventurar neste ecossistema. A cultura mais colaborativa e flexível, somada aos cases de sucesso, se mostram muito atrativas.
Com o anúncio do SoftBank Latin America Fund, novos grandes investidores, como Tiger, DST, Andreessen Horowitz, entraram ou aumentaram sua participação no Brasil, criando equipes locais, aumentando a oferta de capital e diversificando o perfil de investidores. Em relação a 2013, maior liquidez e maior quantidade de VCs permitiram que o empreendedor tenha mais possibilidades quando for realizar a captação de recursos, sem a necessidade de ficar refém de termos ou condições de investimentos que podem não ser saudáveis para o business.
Comecei num setor pouco óbvio: CleanTech. Tinha me formado em relações internacionais e, após trabalhar em uma consultoria de mudanças climáticas, achei que investir nessa área seria uma forma de contribuir para o impacto econômico de forma sustentável. Hoje, olho principalmente para setores com um alto potencial de transformação: educação, saúde, gaming e SaaS (software as a service).
A pandemia levou o governo a mudar questões regulatórias em setores como saúde e educação para viabilizar o acesso a serviços de forma digital, já que o acesso presencial passou a ser muito limitado em diversos serviços. As vendas pela internet subiram 27% só em São Paulo, segundo levantamento da Neotrust, o uso da telemedicina aumentou cerca de 80% durante a pandemia, segundo pesquisa do instituto Ipso MORI) e a procura por cursos EAD aumentou cerca de 50%, de acordo com dados divulgados pela ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância.
Empreender no Brasil tem pontos altos: o mercado é grande e ainda possui problemas estruturais e complexos. Cada mercado tem uma dinâmica distinta, apresentando inúmeras oportunidades para o empreendedor. Nem todos os negócios são altamente escaláveis ou usam de forma intensa a tecnologia, características necessárias de uma startup que busca captar com VCs. Muitas vezes, algumas empresas não preenchem os requisitos necessários para captar investimentos por meio de VC, mas isso não invalida, de forma alguma, o produto — talvez o veículo de financiamento seja simplesmente outro.
Sempre comento que a relação da empresa com o fundo de venture capital dura, em média, sete ou dez anos, muito mais que alguns casamentos. Por isso, deve ser baseada na confiança, no alinhamento de expectativas e na transparência. É o famoso “tamo junto” que determina o sucesso de VC, tanto para os empreendedores e empreendedoras quanto para os investidores.
Nós mulheres não somos mais estranhas no ninho, como éramos em 2013. Vi, ao longo destes anos, uma mudança positiva na questão de gênero: hoje existem muito mais mulheres em VCs, fundos de VC geridos por mulheres e o número de empreendedoras cresce exponencialmente. Fico muito feliz em dizer que hoje estou em board de empresas com mais mulheres e trabalho com mais cinco mulheres na Valor Capital, não sou mais a pessoa estranha
A Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor de 2020 (GEM) aponta que o Brasil é o sétimo país com mais mulheres empreendendo no mundo. Dos 52 milhões de empreendedores brasileiros, 30 milhões (48%) são mulheres. Ao lado do aumento numérico, aumentou também a segurança das mulheres em ocupar seu papel no empreendedorismo. Estamos muito mais maduras em relação ao mercado e mais sólidas sobre as decisões e os riscos que tomamos diariamente.
*Carol Lacombe é vice-presidente e diretora de Comunidade da Valor Capital desde 2019, está focada principalmente em investir nos setores de Educação, Saúde, Gaming e SaaS, além de ser responsável por criar a Comunidade da Valor
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