Padrão de muitos vírus é ter novas variantes até mais contagiosas, mas não mais letais (Ricardo Wolffenbuttel/Governo de SC/Agência Brasil)
Bússola
Publicado em 29 de novembro de 2021 às 16h45.
Última atualização em 29 de novembro de 2021 às 17h12.
Por Marcelo Tokarski*
O mundo está apreensivo com o surgimento da ômicron, a mais nova variante do coronavírus que começa a se espalhar por todo o mundo. Identificada pela primeira vez na África há menos de uma semana, a cepa parece ser mais contagiosa que as anteriores e, até onde se sabe, seria uma forte ameaça à imunidade hoje garantida a quem já se vacinou contra a covid-19. Ainda não se sabe se a nova variante é mais perigosa, gerando casos mais severos, mas dados preliminares indicam que ela pode ter mais chances de reinfectar pessoas que já tiveram a doença.
Em menos de uma semana após sua descoberta oficial, diversos países — pelo menos 12 — já têm casos confirmados de infecção pela ômicron: África do Sul, Alemanha, Reino Unido, Itália, República Tcheca, Dinamarca, Portugal, Bélgica, Israel, Austrália, Hong Kong e Botsuana. Com o mundo praticamente todo reaberto, a livre circulação de pessoas faz a nova cepa se espalhar em alta velocidade.
Na tentativa de conter a propagação, diversos países, entre eles o Brasil, já proibiram voos oriundos de países africanos. Mesmo assim, o Brasil já investiga dois casos suspeitos de passageiros que desembarcaram em São Paulo e em Belo Horizonte vindos do continente africano.
O que toda essa situação nos mostra é que, como sempre foi dito aqui neste espaço, a pandemia não acabou. O Brasil vive um quadro muito melhor hoje (na verdade, menos pior, visto que ainda morrem de covid-19, em média, 230 pessoas por dia), com queda no número de mortes e de casos. Estamos com três de cada quatro brasileiros com pelo menos a primeira dose (62% da população já completaram o ciclo vacinal). Na população adulta, nove em cada dez pessoas aderiram à vacinação.
A incógnita agora é quando (a condicional se parece ser improvável) a ômicron chegará por aqui (se ainda não chegou) e quais serão seus impactos na situação sanitária do país. Podemos ter um aumento do número de casos, sem grande impacto em internações e, principalmente, no número de mortes. Foi mais ou menos o que aconteceu quando a variante delta se espalhou pelo país. Mas podemos ter um aumento de infecções com elevação dos casos graves, o que pode levar a um repique na curva de óbitos.
Futuro próximo
Para saber o que de fato irá acontecer por aqui, será preciso entender dois comportamentos da nova cepa: 1) se as vacinas já utilizadas no país darão conta de frear o contágio ou de reduzir os riscos de agravamento em caso de contaminação; e 2) se a ômicron é ou não mais perigosa que suas antecessoras, o que ainda não está clarificado pela ciência.
O que os cientistas dizem até agora é de certa maneira tranquilizador. Vírus costumam desenvolver novas cepas para continuar se reproduzindo (ou seja, continuar contaminando as pessoas). Caso as novas variantes sejam mais mortais, a velocidade de contágio cai, uma vez que os contaminados morrem e deixam de infectar outros. É o que ocorre, por exemplo, com o Ébola. Para seguir infectando cada vez mais pessoas, as novas cepas tendem a não ser mais severas. Ou seja, o padrão de muitos vírus é ter novas variantes até mais contagiosas, mas não mais letais.
Enquanto não temos essas respostas em relação à ômicron, a cautela será, novamente, a melhor política. Com a grande maioria da população já vacinada, fugir de aglomerações, usar máscara e, na medida do possível, evitar locais fechados são as medidas que, se não garantem, pelo menos reduzem as chances de uma eventual (re)infecção. Quando a ciência der suas respostas, saberemos se será necessário ou não adotar medidas mais drásticas. Até lá, o resto é especulação.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.
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