É necessário fortalecer políticas públicas, promover incentivos e criar um ambiente regulatório que favoreça o investimento em turismo verde (RgStudio/Getty Images)
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Publicado em 1 de abril de 2025 às 10h00.
Por Alexandre Sampaio e Luciana De Lamare*
O ano de 2024 terminou com um alerta contundente: foi o mais quente da história recente, registrando temperatura média global 1,6ºC acima dos níveis pré-industriais. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos sinalizaram nova retirada do Acordo de Paris, aprofundando a urgência de ações climáticas em escala global.
Nesse cenário, o Brasil se prepara para assumir papel de protagonista. Com a realização da COP30 em Belém (PA), em 2025, o país tem uma oportunidade única de liderar a agenda do turismo sustentável — setor que representa cerca de 7% do PIB nacional e emprega milhões de brasileiros.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por meio do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur), e o Instituto Aupaba vêm desenvolvendo iniciativas que unem desenvolvimento econômico à preservação ambiental. O objetivo é claro: fomentar um modelo de turismo sustentável, com base na bioeconomia e na valorização das comunidades locais, especialmente na Amazônia.
O debate climático, cada vez mais pautado por temas como inteligência artificial (IA) e inovação, exige respostas concretas. Tecnologias emergentes, como a IA, podem ajudar a otimizar recursos, reduzir desperdícios e melhorar a gestão de destinos turísticos. Mas é fundamental que essas soluções estejam alinhadas à sustentabilidade ambiental, social e cultural.
A Amazônia, foco das atenções na próxima COP, concentra ativos estratégicos como biodiversidade, recursos hídricos e conhecimento tradicional. É também um território com forte potencial turístico, ainda pouco explorado sob a ótica da sustentabilidade. Transformar esse potencial em vetor de desenvolvimento requer investimentos, planejamento e, sobretudo, compromisso do setor privado.
O turismo sustentável oferece caminhos reais para preservar o meio ambiente ao mesmo tempo em que gera renda, empregos e oportunidades. Práticas como o ecoturismo, o turismo de base comunitária e a valorização da cultura regional mostram que é possível crescer sem destruir. Trata-se de uma agenda que conecta o local ao global, com impactos positivos para as economias regionais e para a imagem do Brasil no exterior.
A liderança do setor privado é fundamental nesse processo. Empresas e instituições que atuam no turismo sustentável já têm adotado medidas para reduzir emissões de carbono, investir em energias limpas e promover cadeias produtivas mais inclusivas. A CNC, por exemplo, apoia projetos de capacitação e certificação que ajudam destinos turísticos a adotarem práticas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Contudo, ainda há desafios significativos. É necessário fortalecer políticas públicas, promover incentivos e criar um ambiente regulatório que favoreça o investimento em turismo verde. O diálogo entre governo, iniciativa privada e sociedade civil é essencial para avançar de forma coordenada.
A COP30 será o palco ideal para apresentar soluções brasileiras ao mundo. Mais do que uma conferência, é uma vitrine internacional para mostrar que o Brasil tem ativos únicos e capacidade de liderar pelo exemplo. Isso exige mobilização desde já — com projetos concretos, metas definidas e parcerias efetivas.
Se o turismo for tratado como política estratégica de desenvolvimento sustentável, o país poderá não apenas diversificar sua economia, mas também reforçar sua diplomacia ambiental. O Brasil pode ser reconhecido globalmente como um destino que respeita o meio ambiente, valoriza sua cultura e promove inclusão social por meio do turismo sustentável.
Em um mundo em transformação, onde crises climáticas e transições tecnológicas se entrelaçam, o turismo responsável é mais do que tendência: é uma necessidade. Cabe ao Brasil aproveitar esse momento histórico para consolidar um novo modelo de crescimento — mais verde, mais justo e com maior protagonismo internacional.
*Alexandre Sampaio é diretor da CNC e representante do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade.
*Luciana De Lamare é presidente do Instituto Aupaba.
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