Chefe da equipe do Google Brain deixa o cargo após 10 anos (John Smith/Getty Images)
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Publicado em 19 de maio de 2023 às 11h07.
Última atualização em 19 de maio de 2023 às 11h07.
Por Alexandre Loures e Flávio Castro*
Nesses últimos dias muito se falou sobre a saída de Geoffrey Hinton, considerado o padrinho da Inteligência Artificial, que deixou seu cargo de vice-presidente de engenharia no Google e chefe da equipe do Google Brain, depois de mais de dez anos. Hinton, ao invés de se concentrar no estudo da IA governada por máquinas, centralizou suas pesquisas sobre redes neurais que imitam o cérebro e comportamento humano.
Os sistemas de aprendizagens profundas ganharam notoriedade e têm vivido um boom com a chegada do ChatGPT e seus concorrentes como o GoogleBard. A polêmica surgiu em uma entrevista que Geoffrey deu ao New York Times falando sobre os riscos da IA, tecnologia que ajudou a criar.
Uma de suas falas faz uma mea-culpa ao afirmar que ele se consolava com o fato de não poder controlar o avanço da tecnologia e que alguém a teria criado. “É difícil ver como você pode evitar que os maus atores a usem para coisas ruins.” Uma de suas preocupações é a disseminação de desinformação, mas não a maior. A longo prazo ele prevê que a IA possa eliminar a própria humanidade quando puder escrever e executar o próprio código. Sua pesquisa é pioneira e não podemos negar que poderá ser muito útil em várias áreas, contribuindo, por exemplo, para o aperfeiçoamento da aprendizagem, criando programas sob demanda de cada criança e servindo como tutor ajudando alunos com dificuldades e aprimoramento de práticas de estudo. Cientistas, nas mais amplas áreas, revolucionaram o mundo em que vivemos.
O universo tecnológico não existiria sem as descrições de Newton sobre os fenômenos físicos, estudos sobre a gravidade, a ótica e a mecânica, mas as descobertas e desenvolvimentos científicos têm causa e efeito.
Haveria avanço sem curiosidade?
Haveria avanço sem um árduo trabalho de pesquisa?
Definitivamente não. Arthur Galston, fisiologista e botânico norte-americano é considerado o criador do agente laranja que foi usado como arma para disseminar florestas na Guerra do Vietnã, acarretando prejuízos incalculáveis à população vietnamita.
Seus estudos e experiências tinham como propósito estimular a floração da soja. Em excesso, Galston advertiu que poderia ser altamente prejudicial.
Outros cientistas usaram suas descobertas para criar o herbicida poderoso que virou arma de guerra. O desenvolvimento da bomba atômica só foi possível graças à equação mais pop que existe, criada por Einstein: E=mc².
Ao compreender que massa e energia se relacionam, cientistas puderam desenvolver uma reação nuclear em cadeia.
A única contribuição de Einstein para isso foi criar a fórmula e alertar o então presidente dos EUA sobre a possibilidade de a Alemanha criar uma bomba de alto poder destrutivo.
Feito isso, começou a corrida armamentista e já sabemos o estrago que foi. Conhecimentos científicos e tecnológicos sobre energia nuclear contribuem significativamente para o desenvolvimento de áreas como indústria, agricultura, saúde e meio ambiente. Ferramentas conceituais, grandes descobertas e insights podem ser usados para fins destrutivos.
Descobertas científicas podem ser pervertidas.O que não podemos é confundir avanços importantes com mau uso.
O dilema é o seguinte: seria melhor não haver evolução?
Frear a pesquisa sobre a Inteligência Artificial é uma das melhores opções? Acreditamos que não.
Melhor pensar que agora é a hora de focar na responsabilidade, na educação e no uso da tecnologia voltado à melhoria da vida das pessoas. É utópico? Sim, mas utopia serve para isso: pensar que sempre é possível.
*Alexandre Loures e Flávio Castro são sócios do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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