Mercado de carbono cresceu sete vezes em três anos (Qilai Shen/Bloomberg)
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Publicado em 30 de junho de 2023 às 21h00.
Última atualização em 30 de junho de 2023 às 21h04.
Por Luis Felipe Adaime*
Um mercado que hoje é sete vezes maior do que há apenas três anos em volume de transações, de acordo com a Ecosystem Marketplace — em dólares — não é qualquer mercado. Na esteira das crescentes preocupações com a agenda de sustentabilidade em geral e com o combate às mudanças climáticas em particular, o mercado de compensação voluntária de carbono avança como importante ferramenta para empresas e pessoas físicas se engajarem com essas pautas, que ganham visibilidade no mês de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. Seu crescimento, no entanto, poderia ser muito mais rápido, robusto e consistente se a presença da tecnologia nos processos de geração dos créditos estivesse mais disseminada.
Tecnologia de ponta é o que não falta. Desenvolvedores e empresas especializadas a cada dia colocam no mercado soluções sob medida para as mais variadas demandas ligadas a questões ambientais. Falta conectá-las — escolhendo as ferramentas certas para cada situação — aos mecanismos que produzem os créditos de carbono que depois serão vendidos para as compensações de pessoas e empresas. Parece óbvia a necessidade dessa conexão, mas ainda existem muitos obstáculos e gargalos que impedem o pleno desenvolvimento dos ativos de compensação de emissões.
Os créditos de carbono são gerados, entre outros meios, pelos projetos de conservação de florestas — como os que estão hoje em operação na Amazônia —, conhecidos como REDD+. Esses projetos precisam ser desenhados e geridos com a ajuda de metodologias e ferramentas que facilitem trabalhos essenciais como coleta e armazenamento de dados, mapeamento da cobertura vegetal e da biodiversidade e monitoramento de áreas de dimensões continentais.
A certificação desse tipo de projeto passa por quatro etapas fundamentais: diligência documental (análise legal), inventário florestal (que envolve o envio de técnicos para medição manual das árvores, com fita métrica), auditoria e emissão de créditos (depois da aprovação do projeto). Fica fácil imaginar que a adoção de metodologias e ferramentas digitais simplificaria muito essas tarefas, agilizando, por exemplo, a coleta e a verificação de dados, com redução de tempo e de custos. O uso exclusivo desse modelo analógico não é mais viável, considerando que na floresta há milhares de propriedades de áreas remotas, onde só se chega em longas viagens de barco ou por aeronaves de pequeno porte, e imensas áreas de mata fechada.
Perpetuar essa situação significa perder oportunidades oferecidas por uma demanda que aumenta exponencialmente. Travar os projetos mantendo processos e metodologias reféns de trabalho manual é um contrassenso diante da urgência do combate às mudanças climáticas e da preservação da biodiversidade. Isso sem falar que aumenta custos e limita a expansão da oferta de créditos de carbono exatamente em um momento em que mais pessoas e empresas querem comprá-los.
Na Amazônia, sem a adoção de tecnologias e ferramentas digitais, a análise de dados dos projetos geradores de créditos de carbono pode ter uma periodicidade anual, muito distante do desejável. A falta de um monitoramento em tempo real pode também prejudicar a credibilidade dos projetos e gerar incertezas para os compradores dos créditos em relação à integridade dos projetos de conservação.
Vale lembrar que os projetos REDD+ são importantes não apenas como um caminho para o combate às mudanças climáticas, à medida que representam alternativas de geração de emprego e renda para as comunidades locais. Mas, como em um círculo virtuoso, contribuem também com a agenda climática, por impedirem que os pequenos produtores rurais e proprietários de terras na Amazônia desmatem a floresta para plantar soja ou criar gado. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Serviço Florestal Brasileiro, cerca de 40% do desmatamento da Amazônia ocorre em pequenas propriedades rurais, em decorrência de falta de alternativas econômicas.
Estima-se que, apenas com a região amazônica, o Brasil poderia obter anualmente US$ 15 bilhões (2) em receitas com créditos de carbono oriundos de projetos de conservação florestal. Um dinheiro que de fato pode chegar, desde que o país consiga levar a tecnologia de ponta para o pé da floresta, onde ela é indispensável.
*Luis Felipe Adaime é CEO e fundador da Moss
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