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Suspender registros de tokens de créditos de carbono é um retrocesso

A utilização do blockchain inova e melhora a segurança dos créditos de carbono

Inovação digitalizada de créditos de carbono causa dúvidas e polêmicas (ismagilov/Getty Images)

Inovação digitalizada de créditos de carbono causa dúvidas e polêmicas (ismagilov/Getty Images)

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Publicado em 28 de outubro de 2022 às 16h00.

Última atualização em 28 de outubro de 2022 às 16h08.

A tokenização de ativos tem impulsionado, nos últimos anos, a expansão dos mais diferentes mercados, incluindo o de créditos de carbono. Esse mecanismo inovador — que, em linhas gerais, transforma os ativos em tokens, unidades virtuais registradas em blockchain e negociadas em plataformas abertas — garante maior agilidade e transparência para as operações. Ocorre que, no caso específico do mercado de créditos de carbono, essa evolução está sob um importante risco de retrocesso.

Existe uma discussão, representada pela proposta de uma relevante plataforma global de registros de ativos digitais e colocada em audiência pública que se encerra no início de outubro, de suspensão de registro de tokenização para créditos de carbono. A ideia representaria o retorno a uma situação do passado em que os créditos de carbono disponíveis para negociação ficam sujeitos à opacidade nas transações.

Vale, aqui, uma breve explicação sobre créditos de carbono. Trata-se de créditos oriundos de projetos ou empresas que, pela natureza de suas operações, sequestram ou evitam emissões de carbono. Uma vez auditados, certificados digitais deste trabalho podem ser vendidos para compensar a pegada de carbono de organizações ou indivíduos.

No mundo, os mercados de crédito de carbono avançam em ritmo acelerado, acompanhando as demandas relacionadas ao combate ao aquecimento global; em vários países já há robustos mercados regulados. No Brasil, essa agenda também caminha, mas por aqui o mercado de créditos de carbono (fora o setor de combustíveis, no programa Renovabio) ainda é de adesão voluntária.

É fácil entender por que a exclusão do modelo de tokenização da plataforma de registros, conforme está sugerido na audiência pública, representaria um retrocesso. No sistema tradicional de negociação dos créditos de carbono, não se consegue evidenciar que um mesmo crédito não será negociado mais de uma vez, com evidentes prejuízos a alguma das partes envolvidas no processo.

Isso porque os registros manuais tornam mais difíceis as verificações dos caminhos que determinado crédito de carbono percorreu desde que foi gerado. Se, ao contrário, o crédito é tokenizado, ele passa a ser registrado em blockchain, sistema no qual não há o risco de duplicidade - cada token só pode ser registrado uma única vez, e essa informação fica pública, ou seja, disponível para todos na rede.

Além disso, a tokenização, por ter caráter digital, facilita o rastreamento do crédito de carbono que está sendo negociado.

Em outros termos: quando esse ativo é tokenizado, é possível saber exatamente qual projeto econômico gerou aqueles créditos, proporcionando assim mais segurança para quem está na ponta de compra desse mercado. Imagine-se, por exemplo, uma grande empresa listada em bolsa e que queira comprar créditos de carbono. Pelo compromisso que deve ter com a transparência e interessada em garantir credibilidade diante de seus acionistas, essa empresa precisa saber exatamente de onde vem aquele crédito — origem que a tokenização ajuda a assegurar.

Vale destacar que tokenizar créditos de carbono — portanto, colocá-los em blockchain — não os altera de forma alguma. Ao contrário, a tokenização adiciona uma importante camada de segurança ao crédito de carbono e, especialmente, às transações com esses ativos. Esse é um motivo mais que suficiente para barrar a ideia de suspender a tokenização na plataforma de negociação de créditos de carbono. Um retrocesso cujos efeitos certamente o mercado levaria muito tempo para superar.

*Luis Adaime é fundador e CEO da Moss Earth

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