Transformação digital precisa vir acompanhada de mudança de cultura (baramee2554/Thinkstock)
Bússola
Publicado em 5 de julho de 2021 às 10h03.
Por Diego Ruiz*
Mais de um ano se passou desde que o mundo foi assolado pela pandemia de covid-19. Para além da emergência sanitária, uma das grandes marcas desse período foi o salto não planejado, e muitas vezes no escuro, que as companhias precisaram arriscar na direção do digital. Não que nunca houvessem pensado nisso antes.
A transformação digital faz parte do planejamento das grandes empresas já há uns bons anos, impulsionada pelo velho motor da concorrência. Colocá-la em prática talvez estivesse em um calendário cheio de etapas que a pandemia acelerou a passos trôpegos.
O resultado não foi de todo ruim. Uma pesquisa realizada pela The Economist Intelligence com líderes do mundo todo, a pedido da Microsoft em maio deste ano, mostra que a pandemia acelerou a transformação digital nas empresas a uma taxa de 72%. Soluções em nuvem, inteligência artificial, machine learning e internet das coisas foram apontadas entre as ferramentas essenciais para este momento.
Mas ficaram para trás algumas questões que precisam ser respondidas por quem pretende avançar e sair da pandemia um corpo à frente. Transformação digital não trata apenas de contratar especialistas e fazer uso inteligente de dados – embora esses dois fatores sejam fundamentais para a soma. Nem, claro, de somente estruturar uma operação de e-commerce para seu negócio, muito menos de passar a fazer reuniões pelo Zoom ou pelo Teams.
Transformação digital exige mudança de cultura. E isso não se faz sem envolvimento do C-Level, da alta direção. Por envolvimento, entenda-se interesse, conhecimento, vontade e disposição para liderar a companhia para o futuro, alocando os recursos corretamente, com foco na competitividade.
É um desafio de governança, acima de tudo. Porque transformação envolve gente. E é aqui, então, que surge a pergunta: nossas lideranças estão de fato preparadas para essa mudança estratégica que pode ter impacto em todo o modelo de negócios?
Quando pensamos nas habilidades de um gestor moderno, pensamos em seu nível de habilidade digital? Pense: você contrataria alguém completamente analfabeto em finanças para ser o CFO ou o CEO de sua empresa? Mas e se ele for PhD em finanças mas não entender nada de como a tecnologia pode impactar os negócios da companhia nos próximos dez anos? Será mesmo esse o líder capaz de garantir que sua empresa se mantenha relevante nas próximas décadas?
Vamos a um exemplo prático de como o olhar inovador da liderança faz a diferença. A decisão de transformar a Magazine Luiza em uma empresa de tecnologia, em 2017, ocorreu no momento em que a empresa crescia a saudáveis 10% ao ano. Mas detinha apenas 6% do mercado digital, dominado na época por B2W e Via Varejo.
Sua vantagem competitiva estava em um movimento que havia sido feito dois anos antes: uma campanha para incentivar a cultura digital que chamava os funcionários a "adotarem o novo". Cada loja passou a ter acesso à internet e ferramentas digitais começaram a se espalhar pela companhia.
Em 2011, surgiu o Luiza Labs, um laboratório de inovação, que criou as bases para a transformação digital da Magalu. O resto é história. As ações dispararam 4.500% entre 2016 e 2019, o que tornou a companhia a que gerou maior retorno sobre o capital investido entre as empresas da bolsa, segundo um estudo da Economatica.
Hoje está presente em 17 estados do Brasil com mais de mil lojas, cerca de 18 milhões de clientes ativos e 25 mil colaboradores. Foi a primeira varejista do mundo a ter mais de 1 milhão de seguidores no Youtube.
Quando criamos a F5, as questões de que tratei um pouco acima estavam à nossa frente no Grupo FSB. Foi observando nossos próprios desafios como grupo que vislumbramos a oportunidade. Fizemos para nós mesmos cada uma dessas perguntas e, não, não existem manuais de respostas prontas. Mas há processos, metodologias e pessoas que podem nos ajudar a encontrar o melhor caminho dentro de cada cenário. Isso tudo ajuda a destravar o crescimento. A dar um salto que não seja no vazio.
Quando pensamos na pandemia, ainda há quem se pergunte quando voltaremos a viver em um mundo que se pareça com o que conhecíamos. Arrisco dizer que a resposta é nunca mais. E isso é bom.
Já fomos inoculados com nossa primeira dose de transformação digital – seja em que nível for. Seria uma pena ficar sem a segunda dose.
*Diego Ruiz é sócio do Grupo FSB e da F5 Business Growth, empresa dedicada a criação e gestão de novos modelos de negócios digitais, apoiando a transformação cultural e aplicando metodologias e melhores práticas da Nova Economia com foco na aceleração do crescimento
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube