Mulheres no poder representam as nossas dores (courtneyk/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2022 às 17h50.
Temos a necessidade urgente de ter mulheres em mais locais que podem mudar a nossa vida. Precisamos debater o assunto cada vez mais. Essa semana um anestesista estuprou uma mulher enquanto ela estava anestesiada no meio da cesária. Enfermeiras acharam estranho o quanto ele anestesiava as pacientes, pois elas não conseguiam nem pegar seus bebês quando nasciam, e ele ainda fazia movimentos estranhos atrás do pano que fica na frente das pacientes. Após duas cirurgias com ele, elas resolveram tentar gravar para saber o que estava acontecendo. Foi aí que descobriram que ele abusava da mulher, a ação filmada durou cerca de dez minutos, ele estava a um metro de distância da equipe e não se intimidou.
Foram mulheres que se uniram para saber o que ele fazia, foram mulheres unidas que conseguiram defender outras mulheres, foram mulheres fortes que conseguiram gravar e denunciar o que esse homem agressor estava fazendo. Sabemos que corpos de mulheres são violados até em necrotérios, e o The Intercept Brasil fez um levantamento que revela que somente em nove estados brasileiros foram registrados 1.734 casos de alguma violência sexual, entre 2014 e 2019. São 1239 registros de estupro e 495 casos de assédio sexual, violação sexual mediante fraude, atentado violento ao pudor e violação ofensiva ao pudor, estamos falando apenas de nove estados.
Para podermos mexer na estrutura desse país precisamos de mulheres no poder, mulheres fortes e quererem que a vida das outras mulheres melhore, para conseguirmos sentir seguras, pois hoje não estamos nem em serviço de saúde, a gente tem medo de andar na rua, de ir a um show, de ir à faculdade, para escola, para um encontro com os amigos, para uma consulta médica, a gente tem medo de parir e até mesmo que o nosso corpo seja violado no necrotério.
É necessário que tenhamos novas políticas públicas, para que combater a violência contra a mulher, para que tenhamos mais segurança nas ruas, no transporte público, para que essas mulheres consigam trabalhar, estamos tendo diversos exemplos de quanto somos vulneráveis e isso incluiu os nossos direitos, para que a gente consiga que o direito que temos hoje seja mantido, e ainda ampliado e melhorado, precisamos de outras mulheres no poder e para isso é muito importante que a gente conheça as candidatas para o Senado e Câmara, tanto estadual quanto federal que representem o que precisamos, não basta ser mulher, tem que ser mulher que siga o melhor para o direito das mulheres sem colocar qualquer religião na frente das decisões.
Toda e qualquer ideia de restrição de direito das mulheres é uma brecha para que fiquemos sem nenhum direito, os direitos das mulheres foram conquistados através de lutas e não através de uma concessão dos homens e uma naturalidade das coisas. Este ano temos eleições e é importante que além de votar no cargo de presidente e governador, a gente tenha cuidado em analisar todos os cargos, pois eles são responsáveis por todas as decisões importantes no país.
Mulheres no poder faz com que tenhamos pessoas que representam as nossas dores, pois nenhum homem sabe o que passamos, as nossas dores e as nossas necessidades, muito melhor do que termos que nos juntar para irmos atrás de um deputado para ser voz ao nosso pedido é termos representantes que já pensem nisso antes mesmo de precisarmos pedir, exemplo disso é o projeto de distribuição de absorventes, o projeto de lei de empresas sem assédio da Isa Penna, precisamos de mulheres no poder também para combater as diversas tentativas e incansáveis de alguns homens que querem tirar os direitos que já temos, como aconteceu na audiência pública para investigação de mulheres que abortam após estupro.
As mulheres no poder precisam ser na Câmara de Deputados, Senado Federal, Câmara de Vereadores, mas também médicas, enfermeiras, delegadas, juízas, promotoras, advogadas, motoristas, síndicas, quanto mais mulheres ocupando lugares, mais modificamos as estruturas que nos calam, nos agridem, nos ferem e nos matam.
Precisamos analisar as candidatas e fazer nossa parte nas próximas eleições para mudarmos tudo que estamos vivendo.
*Sabrina Donatti é advogada, especializada em Direito da Mulher e criadora de conteúdo
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