Tem quem torça o nariz, mas a TV aberta continua muito relevante (iStock/Thinkstock)
Bússola
Publicado em 3 de junho de 2022 às 17h20.
Última atualização em 3 de junho de 2022 às 18h12.
Tem quem torça o nariz, mas a TV aberta continua muito relevante — sobretudo no Brasil. O sucesso de audiência da novela Pantanal, na Rede Globo, é mais uma prova disso.
No início de maio, o remake obteve a melhor performance de sua faixa nas 29 semanas anteriores em São Paulo, marcando média de 30,3 pontos, com sintonia de 46,6% dos televisores ligados na região — o maior mercado do país. Tanta audiência vem se refletindo em fila de anunciantes ansiosos por mostrar suas marcas nos quase inexistentes espaços disponíveis no horário do folhetim, um fenômeno que se repete ano após ano no Big Brother Brasil.
É fato, portanto, que mesmo com o avanço dos serviços de streaming, as emissoras tradicionais sigam dominando o consumo de conteúdo nos lares. De acordo com o Inside Video 2022, estudo da Kantar Ibope Media, a chamada TV linear, as abertas e por assinatura (a cabo ou por satélite), são responsáveis por 79% do tempo de consumo dentro de casa — o streaming fica com 21%.
Na disputa por atenção, a concorrência é pesada — basta lembrar que há dez anos seria impensável imaginar que um jogo de futebol do Flamengo teria transmissão ao vivo em serviço de streaming, com comentários de influencers.
Nesse ringue que envolve grandes bigtechs, além da compra de direitos de transmissão e da criação de conteúdo de qualidade, a evolução tecnológica é outro fator uma questão de sobrevivência para que as TVs abertas possam se manter competitivas.
E o advento da TV digital tem tudo a ver com essa jornada. Em 2024, de acordo com o calendário fixado pelo Ministério das Comunicações (MCom), o sinal analógico será coisa do passado. Isso vai permitir que a TV aberta chegue a praticamente todos os municípios com qualidade superior de imagem e de som e interatividade. É o que se chama de TV 3.0.
Será um salto tecnológico. Do lado governamental, uma portaria do MCom, de número 2.524/21 estabeleceu um cronograma para ampliar o acesso ao serviço de televisão digital terrestre nas localidades onde ainda não houve o desligamento dos sinais analógicos de televisão, possibilitando a transmissão digital em alta definição (HDTV) e em definição padrão (SDTV), com recursos de interatividade.
Do lado do consumidor, para poder usufruir dos recursos da TV 3.0, será necessário, mais cedo ou mais tarde, a aquisição de aparelho com esse recurso — e a Copa do Mundo 2022 é um evento que costuma incentivar esse movimento dos consumidores que tenham essa oportunidade. Do lado das emissoras, há uma corrida para adaptar-se aos novos tempos.
É o que se viu na recente edição do NAB Show, feira anual produzida pela National Association of Broadcasters, realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos. A edição, na última semana de abril, contou com a participação de 154 países, e o que se viu foi muitos equipamentos voltados para a nova geração da TV digital.
É importante observar que antes de chegar plenamente à TV 3.0 há uma fase de transição — a chamada TV 2.5, que já permite alguns avanços de interatividade. Um deles permite uma publicidade mais assertiva e direcionada para o público, de acordo com a sua localidade — região, município ou mesmo um bairro. Ou até mesmo por perfil de telespectador.
Isso é fundamental para que a oferta de valor da publicidade da TV, sobretudo as regionais, possa ser mais competitiva, entregando valor para os clientes, que terão mais chances de mensurar os resultados o retorno de investimento.
De um modo geral, a NAB Show mostrou várias tendências. Uma delas é a prioridade aos softwares no lugar dos hardwares, das assinaturas em vez da venda de equipamentos. Outra delas é a automação dos processos, o que proporciona mais eficiência e melhoria da produtividade nos processos. Não menos importante é a autonomia na produção e transmissão de conteúdo — um exemplo disso é o aperfeiçoamento do chamado "Mochilink", pequenas mochilas, conectadas à rede de telefonia móvel, que permitem a transmissão diretamente da rua, o que possibilita um jornalismo mais assertivo nas grandes coberturas.
Em todo o mundo, o ecossistema está engajado, reagindo, com foco na longevidade do negócio Broadcast. E isso só ocorre com investimento — em tecnologia, em jornalismo, esporte e entretenimento de qualidade, em conteúdo autêntico e verdadeiro.
O público, hoje, tem muito mais opções de entretenimento na telinha ou fora dela. Claro, ele deseja, claro, uma boa qualidade de áudio e de vídeo, mas busca sobretudo uma programação que entregue uma dinâmica mais ágil e interativa. E é de olho nesse novo perfil que a radiodifusão vem orientando seus passos.
*Rogério Nery de Siqueira Silva é CEO do Grupo Integração, afiliada da TV Globo em Minas Gerais
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