Evasão escolar: quase metade dos brasileiros não conclui o Ensino Médio (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
Bússola
Publicado em 14 de maio de 2022 às 15h00.
Por Claudia Vieira Levinsohn*
Foram dois anos de um período instável, de reclusão, de medo e incertezas. Passado o momento crítico gerado pelo covid-19, estudantes de todo o país retornam aos poucos à rotina do ensino presencial em escolas e universidades.
Embora os alunos demonstrem entusiasmo na volta às atividades escolares e ao convívio social, fica evidente que muita coisa não será como era antes, principalmente no que diz respeito ao emocional de estudantes de praticamente todas as faixas etárias.
O longo período de isolamento e a falta de interação social deixaram marcas principalmente nos jovens. O caso recente em Recife de ansiedade coletiva logo após o retorno às aulas presenciais acendeu um alerta sobre a saúde mental dos estudantes.
Um levantamento realizado pela rede estadual de ensino de São Paulo apontou que cerca de dois terços das crianças e adolescentes apresentaram sintomas de depressão e ansiedade. É nesse ponto que quero chegar. A atuação da família em parceria com as escolas é fundamental para a superação dos desafios impostos pela pandemia.
O assunto deve ser tratado abertamente, de forma natural e com dedicação integral em casa, nas escolas e nas universidades do país. É fundamental jogar luz às questões que envolvem a saúde mental de crianças e adolescentes — especialmente por serem fases em que ocorrem mudanças profundas de transições físicas, psicológicas, bem como sociais, ainda mais depois do período atípico pelo qual todos passaram no auge da pandemia.
Para tornar o presente mais tranquilo e saudável, aposto em cinco pontos cruciais: a diminuição da cobrança por uma recuperação veloz dos alunos, o incentivo ao diálogo, a manutenção de uma rotina saudável em casa, permitir ter momentos de descontração e lazer, além de elaborar estratégias que motivem os estudantes a não desistirem da aprendizagem e do próprio futuro.
Tão importante quanto a saúde mental, o equilíbrio psicológico, é a aprendizagem. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Península — organização sem fins lucrativos e atuante na área de educação — 57% dos professores entrevistados acreditam que o desafio se concentra primeiramente em resgatar a aprendizagem dos estudantes, que sofreram algumas dificuldades durante o ensino a distância. O balanço também identificou outra preocupação dos docentes: a falta de motivação. Ainda que 79% dos educadores acreditem que os alunos estão felizes na volta às aulas, 53% veem os jovens desmotivados para aprender.
Ainda com base na pesquisa divulgada pelo Instituto Península, 58% dos professores também apontam como essencial o acolhimento dos alunos em casa, promovendo, assim, maior participação da família no período que os jovens estão vivendo hoje no pós-pandemia. Noventa e sete por cento deles acreditam ainda que a prática de esportes pode desempenhar um papel fundamental no retorno às aulas presenciais. E para 33%, outra solução sugerida é incentivar o uso da criatividade a fim de diversificar as aulas tornando-as mais atrativas.
A mudança na forma como as matérias escolares e acadêmicas são ministradas e como as famílias se relacionam com os estudantes em casa podem ser grandes aliadas para este momento transitório.
Deixemos de lado os tabus em cima dessas duas palavras: “saúde mental” e vamos partir para a ação de mudança. Pais e professores devem ficar atentos aos sinais que nossas crianças e adolescentes demonstram e procurar ajuda profissional. Este é o caminho para tornar o futuro deles mais saudável e promissor.
*Claudia Vieira Levinsohn é mestre e especialista em educação
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