Bússola

Um conteúdo Bússola

Retomada do varejo traz oportunidades no mercado de fusões e aquisições

Muitos empreendedores caem no erro de pensar que M&A é algo apenas para grandes empresas

Futuro do varejo depende da aprendizagem dos empreendedores (Thinckstock/Divulgação)

Futuro do varejo depende da aprendizagem dos empreendedores (Thinckstock/Divulgação)

B

Bússola

Publicado em 29 de agosto de 2022 às 14h30.

Última atualização em 29 de agosto de 2022 às 14h38.

Em um cenário marcado por dois anos de pandemia, o segmento varejista no Brasil teve um recuo e segue se recuperando do fechamento de lojas físicas, e agora, da perda de renda e da inflação. A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de São Paulo apurou que o comércio cresceu 24,8% no primeiro semestre de 2022, um bom resultado, porém comparado a uma base prejudicada por fechamentos e restrições ao funcionamento das lojas. Outro dado interessante é a perda do fôlego das vendas online, que durante esse momento anterior cresceu em níveis estratosféricos e agora tem uma estimativa de crescimento de apenas 5% neste ano, segundo pesquisa da Neotrust.

Além das questões econômicas do país, a redução das expectativas do e-commerce é atribuída à mudança nas políticas das plataformas, que restringem o frete grátis em razão da elevação dos custos de logística e aumentam preços de compras parceladas devido à alta dos juros.

Apesar dessa realidade, o empreendedorismo brasileiro é forte e segue em crescimento. Em 2021, foram abertas 204 mil novas lojas no país, com destaque para três setores: alimentação, utilidades e eletro e vestuário e calçados. O problema é que a maior parte dessas empresas surgiu de uma necessidade e nem sempre está preparada para enfrentar o mercado. Ao contrário de outros segmentos, o comércio não tem uma formação acadêmica específica. Trata-se de uma atividade que se aprende na prática do dia a dia.

Nesse sentido, o pequeno varejista, que normalmente está tão envolvido com a operação diária do negócio, não consegue se dedicar ao planejamento.

Naturalmente, as empresas maiores e bem estruturadas enfrentam melhor essa situação, pois têm reservas financeiras, acesso às linhas de financiamento, tecnologia e fazem retenção de equipes internas mais qualificadas.

Uma saída pouco considerada, mas bastante eficaz é o M&A (Mergers and Acquisitions), ou seja, o mercado de fusões e aquisições. Ao contrário do que muitos pensam, uma transação de aquisição não é algo restrito ao mundo das grandes corporações. Na verdade, pode ser um caminho interessante para o empreendedor que deseja crescer. Com isso, é possível expandir os negócios e o alcance de uma empresa “aproveitando” o que a outra já faz de melhor, ou unir esforços em atividades que às duas exercem de maneira estruturada.

Hoje, o fenômeno da concentração de mercado é baixo no varejo brasileiro, apesar de ser um termômetro de maturidade e concorrência de um segmento. Porém, o país não está fora dessa tendência mundial de fusões e aquisições — o que pode trazer escala e profissionalização aos varejistas.

Segundo a Gouvea Consulting, a participação média dos cinco maiores varejistas brasileiros passou de 22% em 2005 para 28,7% em 2019. O setor mais concentrado é o de bens duráveis, com 47,1%, seguido por supermercados (34,4%), farmácias (22,9%), vestuário (19,9%) e material de construção (11,1%). Como comparação, podemos pensar no competitivo e maduro mercado de supermercados na Inglaterra, que tem um índice de 66% de concentração, segundo o levantamento de 2022 da Statista.

A verdade é que a pandemia acelerou o processo de depuração do varejo, e apesar de muitos empreendedores caírem no erro de pensarem que M&A é algo apenas para grandes empresas, cujas transações em geral envolvem centenas de milhões de dólares, o processo de concentração veio para ficar. Uma das pesquisas que estamos finalizando na Hand já apresentou dados preliminares de pelo menos 300 fundos de investimento interessados em avaliar uma possível aquisição no varejo brasileiro, são investidores de mais de 30 países.

Atualmente, pequenas e médias companhias podem utilizar esse recurso para alavancarem seus negócios, iniciarem a consolidação de mercados e atraírem talentos que fazem a diferença para as atividades no médio e longo prazo.

Por exemplo, a nTime e a Compera, duas empresas pequenas da área de telefonia, entenderam que, para crescer, a melhor estratégia seria unir esforços e fazer uma fusão. Em 2007, elas juntaram as operações para fundar a Movile, que desde então passou a realizar diversos novos processos de M&A. Hoje, a companhia se tornou a maior no setor de mobile da América Latina.

Há muita oportunidade para M&A no mercado brasileiro, no entanto, os alvos não são tão atrativos, uma vez que a maioria das empresas não têm gestão e governança para permitir uma correta avaliação de seu potencial.

Para dar esse passo, é preciso entender exatamente o mercado em que a sua companhia está inserida e traçar uma estratégia clara. Isso vale tanto para quem quer comprar quanto para quem quer vender uma empresa, mas é um exercício de maturação de novas ideias que o mercado de pequenas organizações precisa executar.

O futuro do varejo depende de um processo de aprendizagem dos empreendedores, que precisam investir em inovação e na busca de crescimento e profissionalização para adotarem uma melhor governança. Assim, talvez possam ocorrer mais fusões para fortalecer o mercado e a vida do empreendedor.

*Marcos Andrade é conselheiro da Hand, uma assessoria independente e especializada na venda, compra e gestão de empresas.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Com retomada do setor de serviços, Gocil aposta em inovação

Bússola & Cia: Auxílio Brasil e Pronampe terão impacto positivo no PIB

Quer aprender mais sobre fundos de investimento? Aprenda com o Safra

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraEmpresasInvestimentos de empresasVarejo

Mais de Bússola

Bússola Cultural: Martin Luther King, o musical

Entidades alertam STF para risco jurídico em caso sobre Lei das S.A

Regina Monge: o que é a Economia da Atenção?

Brasil fica na 57ª posição entre 67 países analisados no Ranking Mundial de Competitividade Digital