Soberania do ESG acabará pavimentando dois caminhos de negócios para quem quiser investir (Galeanu Mihai/Getty Images)
Bússola
Publicado em 17 de fevereiro de 2022 às 12h10.
Por Renato Krausz*
O mundo dos investimentos está mudando rapidamente e já dispomos de terminologia adequada para nomear todo tipo de capital envolvido na coisa, deixando claro se o aporte é responsável, sustentável, de impacto, filantrópico — e por aí vai.
Cada um deles tem suas particularidades, mas penso que no fim das contas a soberania do ESG acabará pavimentando dois caminhos de negócios para quem quiser investir: aqueles que precisam ser repensados para seguir existindo e aqueles que já nascem imbuídos do propósito de resolver problemas socioambientais graves e desviar a humanidade da autodestruição.
No segundo caso estão companhias cujo modelo de negócio está centrado exatamente em solucionar desafios que nos permitam sustentar nosso insustentável estilo de vida ou encontrar alternativas a ele. Um exemplo: empresas que mexem com valorização de resíduos, como a Orizon. Sem a atuação delas, nosso futuro distópico possivelmente se aproximaria daquele mostrado na animação Wall-E, em que a Terra é abandonada para virar um grande lixão.
Outro exemplo são as empresas focadas em energia renovável. Não importa se são gigantes do setor, como a Raízen, indústrias de grande porte, como a Aeris, ou startups notáveis, como a Solfácil, já podemos dizer que o futuro a elas pertence.
Falando em energia, a transição para uma matriz 100% renovável não é tão fácil. Crucificar os outros energéticos a essa altura do campeonato é dar um tiro no pé e ficar no escuro. Nessas horas, acaba sendo inevitável “engatar o vagão das ideias na locomotiva das necessidades” — frase brilhante que roubei do meu colega de Bússola Alon Feuerwerker.
Foi o que fez a União Europeia ao reclassificar a energia nuclear e o gás natural como verdes. O motivo é simples: não podemos abrir mão deles agora. Indo ainda mais longe nesse raciocínio, na COP 26, em Glasgow, os líderes mundiais só toparam assinar o acordo final depois de ter sido retirado do texto o trecho que falava em eliminação do carvão. E detalhe: o carvão é o mais sujo de todos os combustíveis fósseis, enquanto o gás natural é o mais limpo, e portanto considerado ideal como energia de base para a transição energética.
O que importa mesmo é que essas companhias e todas as outras podem, e devem, melhorar os seus indicadores socioambientais com a adoção de boas práticas de ESG. Uma distribuidora de gás natural é capaz de diminuir significativamente suas emissões ao substituir a rede de ferro fundido por polietileno, como fez a Comgás, em São Paulo.
Ou seja, a busca por fazer diferente e fazer melhor deveria ser o principal objetivo de todo mundo. O bom é que para ajudar as organizações a dar o pulo do gato existem consultorias extremamente preparadas. O ruim é que nem todas empresas estão devidamente empenhadas em fazê-lo.
A pesquisa feita no passado pelo Instituto FSB Pesquisa e pela consultoria Beon ESG Strategies com grandes e médias empresas brasileiras mostrou que 80% delas não publicaram relatório de sustentabilidade nos 12 meses anteriores, 71% não elaboraram sua matriz de materialidade e 69% não fazem gestão e acompanhamento dos temas de ESG. Mas é questão de tempo. Até porque elas querem continuar existindo.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também