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Reforço escolar é o grande desafio para o futuro da educação

É hora de repor o conteúdo que foi perdido e cuidar da saúde mental de nossos alunos

Alunos da escola sofrem com atrasos e dificuldades na educação graças à pandemia (Germano Lüders/Exame)

Alunos da escola sofrem com atrasos e dificuldades na educação graças à pandemia (Germano Lüders/Exame)

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Publicado em 25 de outubro de 2022 às 18h30.

Última atualização em 25 de outubro de 2022 às 18h35.

Alto índice de evasão escolar, falta de concentração, defasagem na aprendizagem, crise de saúde mental. O cenário do pós-pandemia na educação do país é preocupante e os educadores correm atrás para minimizar os impactos e melhorar o desempenho dos estudantes. Há muito o que fazer. Especialistas vêm contribuindo com a divulgação de pesquisas que, mais do que comprovar o atual momento, podem ajudar a encontrar soluções que garantam a qualidade do ensino no futuro.

Levantamento recente do Ministério da Educação mostra que existe hoje um atraso na aprendizagem dos alunos e que muitos acabam regredindo em algumas áreas. De acordo com  os indicadores, o índice de crianças do segundo ano do ensino fundamental que ainda não sabiam ler nem escrever passou de 15% para 34%. A aprendizagem desses alunos também caiu em matemática, de 16% para 22%, o que significa que não conseguem fazer operações básicas, como soma e subtração. Os resultados ruins também se repetem no ensino médio, principalmente em português e matemática.

Mas é o ensino fundamental que mais preocupa por ser considerado uma etapa importante para o desenvolvimento do cidadão. Os problemas dessa fase poderão reverberar no aprendizado futuro, na formação social e no ingresso ao mercado de trabalho. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) - IBGE, o Brasil possui hoje cerca de 11 milhões de jovens analfabetos acima dos 15 anos de idade, o que indica que é preciso avaliar a qualidade do ensino prestado pelas instituições, já que esses alunos acabaram de concluir o ensino fundamental.

A conta de dois anos em que crianças e adolescentes ficaram praticamente paradas em casa, com mães e avós sem conseguir acompanhar o ensino por falta de tempo, de computador ou de internet, chegou e desafia especialmente os professores, que tentam entender e organizar os conflitos com muita paciência e dedicação. Esses profissionais, inclusive, passaram a ser mais valorizados porque os pais perceberam a importância da troca em sala de aula.

Há casos de alunos que deixaram de ser alfabetizados na fase em que deveriam, outros que estavam indo muito bem e agora regrediram, e ainda, àqueles que os problemas emocionais não deixaram avançar. Jovens que ficaram tanto tempo isolados e sem fazer nada, hoje têm dificuldade de se concentrar e de socializar e preferem fazer outras coisas.

A saúde mental é também muito importante para o aprendizado. Problemas de crianças com sintomas de depressão e ansiedade passaram a ser comuns, o que é algo novo no sistema de ensino brasileiro. Muitos alunos não conseguem atendimento psicológico na rede pública. Existem, ainda, outras demandas relacionadas ao bem-estar psicológico dos alunos, como a violência doméstica, sexualidade e gênero. Mais uma vez são os professores que tentam ajudar encaminhando os alunos para acompanhamento adequado.

É hora de resgatar a saúde mental desses jovens, de devolver a vontade de aprender, de trocar entre os amigos, e claro, é o momento de repor o conteúdo que foi perdido. Não adianta apresentar o teor da matéria atual sem trabalhar, em paralelo, o que deixou de ser aplicado. Mais do que isso. É importante investir na qualificação e na saúde emocional dos profissionais de ensino de forma que fiquem mais preparados para a tão desafiadora conjuntura atual.

A pandemia foi muito ruim em diversos aspectos, e não seria diferente na área da educação. Mas já podemos colher alguns aprendizados. Ficou claro que a tecnologia é um caminho sem volta. Utilizar plataformas online bem desenvolvidas funciona, porém não é um modelo para todos os alunos mais disciplinados e os adultos conseguem lidar melhor com o processo. Para crianças e adolescentes, as aulas virtuais precisam ser acompanhadas da vivência escolar presencial.

Por fim, compete às escolas tentar ajudar os alunos da maneira que for possível para diminuir a defasagem escolar; ao governo investir em políticas públicas que incentive a qualificação de professores e atendimento psicológico aos alunos; e a toda sociedade colaborar com nossos alunos para que não desistam de buscar uma educação de qualidade e que será fundamental para o seu futuro.

*Claudia Vieira Levinsohn é mestre e especialista em Educação

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