Transformações na indústria automotiva devem afetar toda a cadeia de fornecimento (Marcelo Almeida/VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2021 às 18h32.
Última atualização em 26 de maio de 2021 às 18h43.
Por Bússola
A indústria automotiva mundial sempre passou por desafios, mas sempre se manteve em crescimento constante. Pelo menos até 2017. O enfraquecimento do setor começou a aparecer no ano seguinte, com a estagnação na Europa e Estados Unidos, e um ligeiro declínio de volume na China e no Japão.
Agora, além dos desafios rotineiros como margens baixas, estrutura de alto custo fixo e necessidade de capital significativo para desenvolvimento de produtos e tecnologia, quatro megatendências devem mudar drasticamente a indústria automotiva na próxima década, além de provocar instabilidade em todos os subsetores de fornecedores. Direção autônoma, eletrificação de veículos, conectividade e nova mobilidade são os novos adversários do setor, como aponta estudo exclusivo da consultoria Alvarez & Marsal para a Bússola.
“Estamos diante de uma grande transformação. Carros robóticos ou autônomos, veículos elétricos ou a bateria, integração do sistema de computador do veículo com dispositivos inteligentes, e caronas compartilhadas tendem a ganhar força nos próximos anos, enfraquecendo a indústria tradicional que conhecemos. Na Noruega, por exemplo, os veículos a bateria representaram 54,3% de todos os carros novos vendidos no país em 2020. A China planeja eliminar os carros a gasolina até 2035. Isso nos mostra que já estamos presenciando uma mudança de comportamento do consumidor”, diz Carlos Priolli, sócio-diretor da área de reestruturação A&M.
E essas tendências terão forte impacto no crescimento da maioria dos subsetores e base de fornecedores. Atualmente, quase 50% dos custos de um carro médio vêm de peças externas e de componentes do motor.
“Componentes como motores de exaustão mudarão definitivamente nos veículos futuros. O desempenho financeiro dos fornecedores tier-1, como fabricantes de chassis, carroceria, motor e escapamento, já apresenta queda na receita e margem Ebit. Analisamos um grupo de 39 fornecedores e constatamos que as vendas diminuíram na maioria dos anos. As margens Ebit atingiram um pico em 2017 de 7,2% para todos, e logo depois caíram para 6,7% em 2018 e 5,8% em 2019”, afirma.
De acordo com os dados analisados, a consultoria estima que a venda de veículos com motores de combustão interna será reduzida em 40% até 2026, sendo substituídas por veículos híbridos e elétricos. Essa tendência afetará toda a estrutura de custos dos carros tradicionais, que já está impactando a cadeia de suprimentos, pressionando o lucro da indústria. A participação de mercado de veículos tradicionais deve diminuir de 94% em 2019 para 51% em 2026, enquanto a de E-Mobility e híbridos subirá de 6% em 2019 para 49% em 2026.
No Brasil, a saída da Ford foi apenas o início de uma grande reestruturação que as montadoras devem passar. Como país mais afetado pela pandemia do coronavírus, com ociosidade do setor automobilístico em torno de 60%, as vendas de veículos novos caíram 26,16% em 2020, registrando a primeira e a maior queda nas vendas em quatro anos. Nos Estados Unidos e Japão, por exemplo, a queda foi de 14,7% e 11,4%, respectivamente.
A carência de investimentos, pesados custos burocráticos, os constantes aumentos do preço da gasolina e diesel, além de outros fatores de sensibilidade em relação ao setor, tornam muito desafiador produzir automóveis por aqui.
“O setor é altamente dependente de crédito para elevar as vendas e juros são fundamentais para a tomada de decisão de compra de carro”, diz Priolli.
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