Neste domingo, a média móvel de novos casos registrados atingiu 186.363 por dia. (AFP/AFP)
Bússola
Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 15h23.
Por Marcelo Tokarski*
A terceira onda de covid-19 continua acelerando no Brasil, mas parece começar a dar sinais de alguma perda de força. A média móvel de novos casos continua subindo, e muito, mas em ritmo cada vez menor do que há algumas semanas, o que pode indicar uma possível desaceleração do contágio no país. Muitos especialistas dizem que em uma ou duas semanas teremos atingido o pico dessa onda por aqui, e os números parecem confirmar (ou ao menos indicar para) essa tendência.
Neste domingo, a média móvel de novos casos registrados atingiu 186.363 por dia. Na comparação com 14 dias atrás, ainda há um forte aumento de 174% no indicador. Mas esse forte aumento é significativamente inferior aos registrados entre 8 e 19 de janeiro, quando a média móvel, sempre na comparação com duas semanas atrás, aumentou algo entre 702% e 834% a cada 24 horas. Há quatro dias consecutivos, a taxa de crescimento do número de casos é inferior a 200%.
As leitoras e leitores podem achar estranho falar em redução com taxas beirando os 200% de aumento. Mas é preciso ficar claro que não se está dizendo que a pandemia parou de acelerar no país. O estágio atual é de desaceleração do crescimento, que ainda é expressivo. Claro que isso iria ocorrer um dia, pois é impossível algo crescer a uma velocidade de 700%, 800% todos os dias. Mas essa perda de aceleração é um fator importante para se compreender a dinâmica da pandemia no Brasil.
Desde que chegou por aqui, a ômicron se alastrou rapidamente. Basta lembrar que fechamos o ano de 2021 com uma média móvel de 8.112 novos casos registrados, volume 23 vezes inferior ao registrado hoje. Em 18 de janeiro, já havíamos atingido a média de 83.205 casos por dia. Rompemos a barreira dos cem mil dois dias depois. Nos últimos dez dias, a média cresceu mais de 80% e atingiu os mais de 186 mil novos casos neste domingo.
Próximos dias
Resta saber agora se de fato a taxa de crescimento do indicador vai seguir recuando. Ainda estamos falando de quase 200 mil novos casos por dia, o que tem provocado aumento na procura por hospitais. De acordo com o último levantamento divulgado pela Fiocruz, sete unidades da Federação (UFs) estão com situação crítica de ocupação das UTIs (acima de 80%): além do Distrito Federal (98% de ocupação), Rio Grande do Norte (83%), Goiás (82%), Piauí (82%), Pernambuco (81%), Espírito Santo (80%) e Mato Grosso Sul (80%).
Outra variável que preocupa é o aumento na média móvel de mortes por covid-19. Embora a ômicron em geral provoque uma doença mais leve e com menos riscos, principalmente porque a maioria da população já está vacinada, em números absolutos o volume de pessoas que precisam de atendimento hospitalar é muito grande.
Como já dito neste espaço na semana passada, no auge da segunda onda de covid no Brasil, a maior média móvel de novos casos foi atingida em 23 de junho de 2020, com 77.328 registros por dia. Hoje, o volume é 141% superior. Significa dizer que, proporcionalmente, se a taxa de incidência de internação entre os infectados for só 40% da anterior, o número absoluto de internações hoje seria o mesmo. Isso explica a pressão sobre o sistema de saúde.
Com parte dos hospitais sobrecarregados, a média móvel de mortes por covid-19 tem crescido de forma mais acelerada, hoje em ritmo maior que o do próprio contágio. Neste domingo, o país atingiu uma média de 537 mortes diárias, aumento de 207% nas duas últimas semanas. É a maior média desde 29 de setembro do ano passado.
Nesta terceira onda, a média móvel de óbitos começou a crescer apenas a partir de 8 de janeiro. Até o dia 18, enquanto os casos cresciam mais de 700% por dia, as mortes aumentaram abaixo de 100% diárias — sempre na comparação com duas semanas atrás. Desde o dia 19, essa taxa de crescimento passou a ser de três dígitos, ultrapassando a barreira dos 200% por dia desde a última quinta-feira. Nos três últimos dias, o indicador cresceu mais de 240% por dia. O número atual é cinco vezes superior ao registrado em 31 de dezembro.
Ao longo dos próximos dez dias, teremos mais certeza do comportamento das curvas estatísticas da pandemia. Se de fato o contágio estiver perdendo força — e foi assim em outras partes do mundo, onde o número de casos cresceu exponencialmente, mas também caiu rapidamente —, podemos estar diante do início de um arrefecimento da terceira onda. Mas, até termos certeza, todos devem se vacinar, tomar a dose de reforço e se proteger com o uso de máscaras, além de, na medida do possível, evitar aglomerações e locais sem grande ventilação. E que a tendência de boas notícias no front da pandemia se confirme.
*Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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