Na pandemia, houve um aumento no desenvolvimento de data centers em hyperscale, colocation e investimento por provedores em nuvem. (Divulgação/Divulgação)
Julia Storch
Publicado em 1 de janeiro de 2022 às 12h05.
O Brasil possui o principal mercado de data centers da América Latina, impulsionando mais de 40% do investimento total na região. Segundo relatório divulgado pela ReportLinker, em 2021, são cerca de 17 provedores terceirizados operando em mais de 44 instalações no país. Além do mercado ter gerado mais de US$ 680 milhões apenas em 2020. A aceleração da transformação digital, projetada pela pandemia da covid-19, aqueceu o setor e houve um aumento no desenvolvimento de data centers em hyperscale, colocation e investimento por provedores em nuvem.
Um dos fatores que não se pode ignorar é o fato do Brasil ser o país mais populoso da América Latina, com mais de 210 milhões de habitantes. Segundo o IBGE, os dados de 2020 indicam que o país possui cerca de 24,9 habitantes por quilômetro quadrado, o que já é um atrativo para o setor. Além disso, as empresas de cloud services querem e precisam estar perto dos seus usuários. Portanto, o Brasil se torna uma opção atrativa na hora de escolher um local para abrigar seu centro de processamento de dados.
Hoje, quando se fala em data center, logo se pensa em latência, ou seja, o tempo que os dados levam para viajar dá origem ao destino. Fica mais prático optar por um país que não atenda só o mercado nacional, mas aos países que estão próximos também. Segundo lista feita pela Data Centre Magazine, com o top dez principais, entre os países emergentes, mercados de data centers do mundo, São Paulo ficou em quinto lugar. O Brasil é o único país da América Latina a entrar no ranking. Ainda em 2020, São Paulo recebeu mais de US$ 295 milhões em investimento no setor.
A tendência é esse número crescer, principalmente com o leilão do 5G realizado. A chegada desta nova tecnologia acarretará um gigantesco aumento do tráfego de dados gerado pela Internet das Coisas (IoT), realidades virtual e aumentada, e Big Data. Os investimentos em mais espaços de armazenamento de dados ficarão ainda mais fortes.
A aplicação de uma internet mais potente no país, como o 5G, é fundamental. Já que, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), temos 78,3% de brasileiros conectados e o Brasil ocupa a 5ª posição no ranking de países em população on-line. Ou seja, a sociedade brasileira é super engajada em termos digitais. Com a pandemia da Covid-19, onde o consumo de dados aumentou, essa realidade ficou ainda mais evidente.
Para auxiliar toda essa demanda por conectividade e transferência de dados, é preciso da infraestrutura de data centers, como o Colocation, por exemplo, que esteja preparada para hospedar servidores de todos os tamanhos. Segundo o relatório divulgado em 2016 pelo departamento de Comércio Internacional dos EUA (International Trade Administration – ITA), o Brasil foi apontado como o quarto maior consumidor de data centers americanos, atrás de Canadá, Japão e Reino Unido. A expectativa é que esses números cresçam, o que mostra um potencial de atração para o nosso mercado, seguindo a tendência de que o consumo de dados está cada vez mais próximo da borda.
Outro item relevante é a natureza geomorfológica e geológica. Comparando a outros países da América Latina, o Brasil possui baixos riscos de desastres naturais, sendo um ponto importante e vantajoso ao país como escolha de implantações de data centers. Ainda possui uma extensão favorável a instalação de rede e uma área continental super conectada. Já que são três pontos diferentes de chegada de cabos submarinos: São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. Os estados recebem dados de diversos continentes, que permite maior tráfego de dados, com alta velocidade e com menor latência.
Ainda segundo o relatório divulgado pelo ReportLinker, um dos principais atrativos do país para o mercado de data centers é o fato de existirem mais de 75 instalações, que incluem colocation, telecomunicações e provedores de serviços, credenciadas pelo Uptime Institute Tier III. Este certificado garante o funcionamento ininterrupto do data center, evitando que ele seja desativado por falta de energia, por exemplo. É um número bastante expressivo e que colabora com a oferta de mercado, ou seja, mais um ponto a favor do Brasil.
Outro fator que se mostrou bem relevante ao setor, foi a introdução da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O que trouxe ainda mais credibilidade ao mercado, consolidando o processamento e armazenamento de dados em território nacional, visando o que é de mais importante: a segurança.
Essa junção de fatores, aliados a um mercado que historicamente tem um gap de alguns anos de infraestrutura e virtualização, colocam o Brasil como um dos principais países para atrair tal demanda. Apesar de todos esses benefícios, ainda é necessário investir mais em mão de obra especializada, já que a escassez do mercado de tecnologia da informação continua recorrente no setor. Além disso, outro ponto de atenção é a necessidade de instalação de mais capacidade, pois com a rapidez da aceleração digital e com a chegada do 5G, a tendência é precisar de cada vez mais espaços para armazenamento de dados.
O que também podemos destacar é que temos uma matriz energética favorável ao desenvolvimento da indústria, aliando o crescimento dos negócios à agenda ESG. Com um mercado de energia livre maduro, que viabiliza boas soluções de fornecimento através de fontes de energia limpa e renovável. Além disso, nossa infraestrutura de transmissão e distribuição de energia se destacam no cenário latino-americano.
*Vitor Caram é diretor de expansão Latam da Odata
Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn | Twitter | Facebook | Youtube