Empresa acreditava que foram mal orientados, mas não foi o caso (Liam Daniel/Netflix/Divulgação)
Bússola
Publicado em 20 de agosto de 2022 às 18h06.
Por Danilo Vicente*
Pouco após a série Bridgerton ser lançada na Netflix, em dezembro de 2020, Abigail Barlow, fã da produção, jogou uma pergunta no TikTok: “ok, mas e se Bridgerton fosse um musical?”. O próximo passo foi ela postar um clipe de si mesma cantando uma faixa de um musical imaginário de Bridgerton. Eram os primeiros compassos do que acabaria se tornando Ocean Away, a faixa final do disco The Unofficial Bridgerton Musical, em parceria com a pianista Emily Bear.
Incrível, não? Duas fãs de Bridgerton não só criaram uma canção de um pseudo musical baseado na série, como produziram um disco. Tudo isso com participação de seguidores no TikTok. Mais: foi tão boa a iniciativa que elas venceram o tradicional Grammy, na categoria Melhor Álbum de Teatro Musical.
Tudo perfeito, inclusive para a Netflix, que criou a série com base nos livros de Julia Quinn. A empresa, neste momento, elogiava os esforços da dupla, escrevendo: “absolutamente impressionado com o musical de Bridgerton tocando no TikTok”. A escritora Quinn e vários membros do elenco da série também expressavam entusiasmo. A Netflix concordava em não ficar no caminho do álbum de Barlow e Bear para “apoiar o que (a dupla) representou como a expressão de duas fãs de Bridgerton: apreço pela série”.
Foi feito apenas um pedido: que elas nunca se apresentassem ao vivo, pois haveria competição com eventos da Netflix. Barlow e Bear concordaram, assegurando à plataforma de streaming que não queriam se tornar conhecidas como as “garotas de Bridgerton”.
Em junho deste ano, no entanto, o representante da dupla informou à Netflix sobre uma apresentação no Kennedy Center, em Washington. Aí foi demais. A Netflix disse não, mas, incrível, falou que gostaria de conversar sobre o tema. Nada feito. A dupla disse que “não estava pedindo a permissão da Netflix e não atrasaria ainda mais o anúncio da apresentação para dar tempo às partes para discutir”.
A Netflix havia feito apenas um pedido à dupla. Um só. E até se dispôs a negociar quando o show no Kennedy Center foi anunciado. “Talvez elas tenham recebido maus conselhos, ou foram arrogantes, pensando que a Netflix não viria atrás delas depois que geraram tanta boa imprensa para a marca Bridgerton”, escreveu Laura Wheatman Hill no site Slate.
Até agora, Barlow e Bear ainda não comentaram publicamente o processo. Um problema adicional é que, se a Netflix vencer na justiça, pode-se abrir uma brecha para que outros fãs criadores de conteúdo sejam cobrados judicialmente.
Em uma declaração ao jornal New York Times , a Netflix afirmou que “apoia conteúdo gerado por fãs”, mas argumentou que Barlow e Bear deram muitos passos adiante, buscando criar múltiplos fluxos de receita para si mesmas sem permissão formal para utilizar Bridgerton”.
A gigante do streaming concluiu: “Nós nos esforçamos muito para trabalhar com Barlow e Bear, e elas se recusaram a cooperar”. A Netflix está certa. A proteção de direitos autorais é importante para todos. Do pequeno artista à grande empresa, é com os diretos autorais que o investimento pode acontecer.
Evidentemente, a Netflix estava apoiando as ações de Barlow e Bear porque com elas havia um acúmulo de divulgação de Bridgerton. Quando a soma passou a ser subtração, com a Netflix deixando de ganhar dinheiro, a situação mudou. Mas a dupla teve o sucesso subindo à cabeça. Desrespeitar o único pedido da empresa foi demais.
*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação
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