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Passa: Como nos tornamos a geração dos dependentes algorítmicos?

Somos a geração de dependentes algorítmicos; sem eles, nossos negócios não existem, nós não existimos e tudo desaparece

 (Xando Franzolim - OIO/Reprodução)

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Publicado em 9 de outubro de 2021 às 09h00.

Por Ana Paula Passarelli*

Você tem duas maneiras de se lembrar da segunda-feira, 4 de outubro de 2021: ou você ficou sem chão, perdido e absolutamente consternado para conseguir fazer sua vida seguir adiante, dando refresh a cada 30 segundos no whatsapp, ou você se lembrará pelo resto da sua vida sobre o dia que você conseguir ficar uma tarde toda sem ser interrompido.

Quando discutimos sobre a Sociedade do Cansaço, entramos falando do território da atenção e sobre como ela tem sido furtada de nós. Nossa atenção virou capital e com isso vale a máxima de “quem grita mais será ouvido”. E pelo grito, adotamos o modo emergencial de viver, trabalhar e até descansar. Descanso virou emergência para que sigamos sobrevivendo. A que ponto chegamos.

Esse cansaço aparece no descuido com as informações, com a nossa rotina e com o nosso corpo. A gente desaprendeu o básico sobre viver e se organizar porque delegamos aos algoritmos os puxões nas nossas próprias orelhas. Sem notificações, é como se não tivéssemos para onde ir ou o que pensar. Sem o feed do Facebook e do Instagram, ficamos alheios aos acontecimentos do mundo e do país, lembrando que quase metade da população brasileira acredita que o Facebook é a própria internet.

O estudo Creators e Negócios 2021, feito pela Brunch em parceria com a Youpix, mostrou que mais da metade dos talentos e influenciadores brasileiros dependem exclusivamente dessas redes para manter seus negócios de pé. Empreendedores digitais se viram desnorteados sem o tráfego gerado pelos anúncios em redes sociais, isso porque foram pouco mais de seis horas fora do ar.

Somos a geração de dependentes algorítmicos. Sem eles, nossos negócios não existem, nós não existimos, nossas relações de amizade desaparecem, nossos compromissos parecem não existir.

Mas o memético “tropeção no cabo” foi o alerta para lembrarmos que fora do WhatsApp e nos stories estamos completamente dopados da hiper realidade digital. Foi um sinal importante para retomarmos a estrutura básica de organização para o nosso dia e lembrar que viver em modo emergencial, totalmente dependente do algoritmos, não é nem um pouco saudável.

Quando prioridades e emergências passam a ser a maior parte do trabalho, vivemos em estado de alerta e essa é a porta para crises de ansiedade e problemas com desatenção e esquecimento. Não é um problema de uma pessoa, de uma empresa, nem só com a gente. É geral e o cansaço emocional das pessoas é notório.

Viver em modo emergencial faz com que tudo que é rotineiro e passível de cuidado e atenção seja atropelado pelo que precisa ser resolvido no agora. E talvez a dependência algorítmica não esteja te deixando perceber isso.

E sem os algoritmos, você tá bem?

*Ana Paula Passarelli é CCO da BRUNCH, fundadora da TOAST agência de influência, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, TEDx speaker, creator e mãe da Emma

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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