(Porto Sudeste/Reprodução)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 17 de março de 2025 às 07h00.
Por Ulisses Oliveira*
É um fato que o aumento da temperatura da Terra irá afetar profundamente a rotina das pessoas, a saúde da população e diversos setores da economia. O setor portuário não é uma exceção, principalmente quando consideramos um possível acréscimo de um metro no nível do mar. E ignorar as previsões científicas pode custar caro às operações no futuro.
De acordo com um relatório recente da Iniciativa da Internacional de Clima da Criosfera (ICCI), 13 portos, incluindo os portos de Houston e Galveston, sofrerão graves danos caso o cenário se concretize. Outros empreendimentos da Arábia Saudita, China, Cingapura e Países Baixos também correm este risco. O Brasil, ainda que não esteja listado no estudo, está igualmente sujeito aos impactos causados pelas mudanças climáticas, mesmo que indiretamente. Lembremos que o Porto de Rio Grande teve suas operações paralisadas pelos efeitos da tragédia climática no Rio Grande do Sul.
O aumento do nível do mar é um risco estratégico, com potencial de causar impacto crítico à continuidade das operações, especialmente até 2050. Em um estudo realizado pela área de Sustentabilidade do Porto Sudeste, Terminal de Uso Privado situado em Itaguaí com foco na movimentação de granéis sólidos e líquidos, foram identificados efeitos crônicos a eventos agudos que uma vez concretizadas e não tratados poderiam futuramente afetar áreas críticas, como os trilhos de trem, essenciais para o escoamento de cargas e reduzir áreas de armazenagem.
De maneira mais ampla como risco a outros terminais portuários, a expansão térmica dos oceanos e derretimento de geleiras poderá acarretar na obstrução do acesso às zonas operacionais em pátios devido a inundações, perda funcional dos cabeços de amarração e das defensas marítimas, danos às estruturas e equipamentos causados por inundações e/ou corrosão e a submersão das estacas de sustentação de pontes e píeres.
Esses são apenas alguns possíveis efeitos das mudanças climáticas, que poderão ser mais ou menos graves a depender da configuração de cada porto. Logo, o primeiro passo de um terminal que deseja se blindar dos riscos citados e diminuir seu impacto ambiental é conduzir um estudo aprofundado de como será afetado pelas mudanças climáticas e o quanto ele está contribuindo para esse cenário, contabilizando seu papel nas emissões de gases de efeito estufa e tomando ação para reduzi-las.
No Porto Sudeste, por exemplo, fomos pioneiros no setor a encomendar um Estudo de Riscos Climáticos, concluído em 2023, para avaliar quais seriam os principais desafios que as mudanças climáticas trarão para a operação portuária e quais medidas adotar desde já. A partir dos resultados, foi possível traçar metas mais efetivas para minimizar os impactos ambientais.
Com esses dados em mãos, somados às informações dos Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), estabelecemos um compromisso público: reduzir em 50,4% as emissões de GEE de escopos 1 e 2 (GHG Protocol) até 2033 em relação ao ano base 2021. Para isso, adquirimos energia renovável exclusivamente de um fornecedor certificado, usamos água de reuso em nossas operações e fazemos o tratamento de 100% de nossos efluentes dentro do próprio terminal, dentre outras iniciativas em andamento.
Mesmo que as metas ainda estejam voltadas para os escopos 1 e 2, o Porto Sudeste trabalha para que o escopo 3 esteja sob gestão de redução em breve. Fomos o primeiro porto no país a implementar uma ferramenta que calcula as emissões de GEE dos navios atracados em nosso terminal (Rightship). E com o uso de uma ferramenta Capex, somos capazes de calcular a redução de emissão dos projetos que ainda serão implementados, que vão desde a construção de estacionamento, obras de melhoria para eficiência operacional à troca de combustível dos veículos da empresa.
A ANTAQ, em clara demonstração de atenção e diligência com a pauta climática, deu passo importante com o lançamento do 1º Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Setor Aquaviário. Além de fornecer base sólida e disponibilidade de dados sobre as emissões do setor, a Agência contribui sobremaneira com o estímulo para que terminais portuários, companhias de navegação, empresas de apoio marítimo e portuário e demais prestadores de serviços trabalhem em seus próprios relatórios, fazendo desse setor, antes de qualquer coisa, um exemplar conhecedor de suas emissões para que as contribuições de redução possam ser efetivamente dadas.
Estamos diante de uma ameaça crescente para o setor portuário, que afeta não apenas a infraestrutura, mas também a continuidade das operações essenciais para o comércio global. Portanto, a adaptação e a prevenção, por meio de estudos aprofundados e planejamento estratégico, são fundamentais para mitigar esses riscos. É imperativo que outros portos adotem abordagens nesse sentido. Mais que calcular o possível estrago, é essencial que trabalhemos para reduzir drasticamente as emissões dos gases de efeito estufa. Ao investir na compreensão dos impactos climáticos e implementar medidas adequadas, o setor portuário pode se proteger e, principalmente, contribuir para a resiliência das comunidades e da economia global frente aos desafios impostos por uma nova realidade ambiental.
*Ulisses Oliveira é diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade no Porto Sudeste
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube