A ciência avançou tanto e a complexidade dos casos cresceu exponencialmente que o tratamento de alta performance exige um time de médicos especialistas atuando juntos (Getty Images/Getty Images)
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Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 15h00.
*Por Victor Piana, CEO do A.C.Camargo Cancer Center
Há três frentes em que devemos nos concentrar para transformar o enorme desafio do câncer em um problema gerenciado e com impacto controlado em nossas vidas:
Desde o fim de 2023, o Brasil tem uma Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer. Também foi lançado pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC/OMS) o Código Latino-Americano e Caribenho Contra o Câncer. Esses documentos resumem os avanços da ciência no câncer e apontam a direção para sairmos da situação atual, em que a doença avança em frequência, mortalidade, custo e sofrimento.
Há conhecimento suficiente para organizar melhor os agentes dedicados à oncologia no país, oferecendo um cuidado digno, com mais sucesso e menor custo.
Sucesso na oncologia é ver o indivíduo retornar produtivo à sua vida, livre de preconceitos. Mas, reconhecendo que ninguém é imortal, também podemos chamar de sucesso uma morte por câncer com dignidade, permitindo que pacientes e familiares compreendam o momento da doença e a fragilidade do paciente, quando tratar mais significa mais sofrimento e não mais esperança.
Os dados científicos indicam que é possível evitar cerca de 40% dos casos de câncer e, nos outros 60%, antecipar o diagnóstico, tornando a doença gerenciável com até 90% de sucesso .
Além disso, no cenário de diagnóstico precoce, pacientes do SUS ou da saúde suplementar, em qualquer nível social, receberão tratamentos similares, com iguais taxas de cura, a um custo muito mais aceitável para a sociedade. Doenças avançadas consomem medicamentos de alto custo, com sucesso variável. A verdadeira equidade e sustentabilidade na oncologia dependem da prevenção e da antecipação diagnóstica.
O mercado oncológico no Brasil é altamente fragmentado e personalista. Quando recebe um diagnóstico de câncer, o paciente geralmente segue a jornada com um único médico, seja ele cirurgião ou oncologista. No entanto, a ciência avançou tanto e a complexidade dos casos cresceu exponencialmente que o tratamento de alta performance exige um time de médicos especialistas atuando juntos e, o mais importante, de forma orquestrada.
“A lógica se assemelha à de uma orquestra sinfônica: por mais talentosos que sejam os músicos individualmente, sem alinhamento e ensaios constantes, o resultado não será sinfonia, e sim ruído.”
Para alcançar harmonia e melhores desfechos, é fundamental um "maestro", que promova organização, comunicação eficiente e engajamento da equipe. Esse profissional é chamado de navegador, alguém que conhece o protocolo, os especialistas e coordena a jornada do paciente na direção e velocidade ideais para obter os melhores desfechos, com maior eficiência e menor custo.
A navegação do paciente oncológico é lei em outros países e está reconhecida na Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, mas, no Brasil, ainda é uma prática exceção e não é formalmente reconhecida ou remunerada pelo sistema de saúde. Navegar é preciso.
Desde o início do tratamento, o foco no retorno à vida produtiva deve estar nos planos. Hoje, os tratamentos são mais precisos, permitindo que muitos pacientes mantenham suas atividades ao longo do processo. Se forem incentivados a continuar produtivos e se houver apoio das famílias e empresas, muitos conseguirão retornar, ainda que com adaptações.
Cuidados paliativos não são sinônimo de cuidados de fim de vida. O câncer exige tratamentos intensivos, que podem ter alta toxicidade. Além disso, ocorre majoritariamente em pessoas acima de 50 anos, que frequentemente acumulam outras doenças crônicas. Como resultado, é comum que esses pacientes enfrentem sintomas de difícil controle ao longo do tratamento.
Quanto mais avançado o câncer e quanto mais frágil o paciente, maior a probabilidade de sintomas graves. A equipe de cuidados paliativos é especialista no controle desses sintomas físicos, mentais e espirituais e deve acompanhar o paciente desde cedo, mesmo quando há chance de cura.
“Cuidado paliativo não significa parar de tratar, mas cuidar mais e melhor.”
Sim, os cuidados paliativos fazem parte do fim da vida, mas não apenas disso. Um paciente oncológico assistido por essa equipe tem um fim de vida com grande alívio do sofrimento físico e mental.
Fica o convite para formarmos nossa orquestra social e reduzirmos o impacto do câncer no Brasil.
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