Trabalhar sempre foi uma dessas coisas que definem nossa identidade (Freepik/Reprodução)
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Publicado em 27 de fevereiro de 2025 às 15h00.
Por Stéfano Venturato*
Imagine que você acorda em 2030 e descobre que um terço do trabalho do mundo é feito por Inteligência Artificial, um terço por tecnologia + humanos e outra parte apenas pelos homens? Agora respire fundo e segure o impulso e corra para as montanhas onde ainda há trabalho para nós, meros mortais.
O Fórum Econômico Mundial jogou essa “bomba” com sua pesquisa sobre o Futuro do Trabalho 2030. Hoje, 47% do trabalho é puramente humano. Em seis anos, esse número cairá para 33%. Enquanto isso, a IA quase dobrará sua fatia, passando de 22% para 34%. Parece uma redistribuição tranquila? Nem tanto.
Trabalhar sempre foi uma dessas coisas que definem nossa identidade. Pergunte a alguém “quem é você?” e a resposta raramente será “um ser humano em busca de sentido e conexão”. Em vez disso, ouvimos: “sou advogado”, “sou engenheiro”, “sou designer”. Mas e quando o advogado tiver um algoritmo que lê jurisprudências em segundos? O engenheiro um modelo que otimiza cálculos? O designer é um gerador de imagens que faz 500 variações em cinco segundos? A mudança não é só tecnológica, mas existencial. Precisamos redefinir “o que significa trabalhar?”e, mais do que isso, “o que significa ser relevante?”.
Mas o que esperar de fato diante dessas e outras pesquisas sobre o futuro do trabalho? O apocalipse do desemprego? Nem tanto. O problema não é o desaparecimento de vagas, mas a transformação delas. Algumas funções vão sumir (adeus, tarefas repetitivas), outras vão nascer, como o caso dos especialistas em IA generativa, designers de prompts, auditores de decisões algorítmicas. A diferença? Um mercado que não precisará mais de “executores de tarefas”, mas de pensadores estratégicos, criativos e adaptáveis.
É aí que vem o desafio. Muitos profissionais serão “jogados” nesse novo mundo sem manual de instruções, e as empresas que se prepararem para a reskilling (requalificação) vão sobreviver. As que não, seria recomendado alguém avisar
o RH que demissões em massa não serão uma boa estratégia de longo prazo.
Antes de sair comprando um bunker e estocando comida enlatada, é melhor respirar e encarar os fatos. A IA não está vindo para acabar com o trabalho, mas para mudar nossa essência. Quem entender isso vai “surfar a onda”, em vez de ser levado por ela. O primeiro passo é parar de ver a tecnologia como inimiga e começar a trabalhar com ou em favor dela. Em 2030, as maiores oportunidades estarão na interseção entre humanos e a IA, afinal, se a máquina faz o trabalho bruto, o diferencial será quem sabe direcioná-la. O jogo não é "humano vs IA", mas será "humano + IA vs humano sem IA".
É isso! Quem quiser permanecer e se manter relevante precisa focar no que as máquinas ainda não fazem bem, como pensamento crítico, criatividade, empatia e comunicação estratégica. Algoritmos podem gerar ideias, mas não sabem quais fazem sentido. Podem escrever e-mails, mas não sabem persuadir. A diferença entre quem será substituído e quem será indispensável está em quem sabe tomar decisões.
Por fim, vale a velha máxima do aprendizado contínuo, ou seja, empresas e profissionais precisam parar de ver a educação como algo opcional e entender como algo fundamental. O futuro exigirá constante adaptação: hoje você aprende para um cargo, amanhã aprende para continuar empregado.
Bem-vindo ao hoje. Não espere 2030. A IA está aqui e veio para ficar. A pergunta é: você está pronto para isso?
*Head de inovação e novos negócios da TalentX Digital.
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