(Maskot/Getty Images)
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Publicado em 30 de setembro de 2024 às 15h00.
Por Alessandra Borelli*
A facilidade de acesso e o imediatismo promovido pelas tecnologias digitais estão moldando uma geração que encontra dificuldades para lidar com tarefas que exigem concentração, paciência e resiliência – características essenciais no ambiente profissional.
Estamos falando da geração “Plug and Play”, que se destaca pela familiaridade com dispositivos tecnológicos que, uma vez conectados, estão prontos para uso imediato.
Com smartphones, tablets e consoles de videogame como parte da sua vida desde cedo, eles se tornaram hábeis consumidores de tecnologia, que não se traduz necessariamente em uma compreensão crítica de como usá-las de forma segura, ética e produtiva, especialmente no contexto profissional.
Não de hoje, especialistas em neurociência e psicologia comportamental têm alertado que a hiperexposição à tecnologia pode comprometer a capacidade de concentração e o desenvolvimento de habilidades mais profundas, essenciais no mercado de trabalho.
Essa observação é apoiada por pesquisas de instituições acadêmicas que mostram como a gratificação instantânea, característica das interações digitais, pode prejudicar a resiliência e a capacidade dos jovens de lidar com tarefas de longo prazo que exigem esforço contínuo e paciência.
As empresas já começam a sentir os impactos da entrada dessa geração no mercado de trabalho. Embora muitos jovens apresentem grande familiaridade com a tecnologia, essa habilidade raramente se converte em uma consciência adequada acerca dos riscos relacionados a segurança digital.
Diversos estudos na área de cibersegurança apontam que a falta de atenção a questões como a proteção de dados e informações confidenciais é um problema crescente e que representa importante porta de entrada para ataques e vazamentos.
O imediatismo também molda a mentalidade dessa geração em relação ao sucesso profissional. Jovens entram no mercado de trabalho esperando resultados rápidos, reconhecimento imediato e promoções aceleradas, contrário daquilo que o mercado valoriza, paciência e o desenvolvimento gradual de habilidades.
O lado negativo de tudo isso é que essa ansiedade gerada pela falta de gratificação instantânea pode levar à frustração e, em alguns casos, a uma alta rotatividade de empregos, com jovens mudando frequentemente de posições em busca de satisfação imediata.
Adicionalmente, a habilidade de analisar problemas complexos e encontrar soluções inovadoras está se tornando um dos requisitos mais valorizados pelos empregadores, contudo, o consumo passivo de conteúdo digital pode inibir a capacidade de raciocínio crítico, levando os jovens a buscar respostas rápidas e fáceis, sem aprofundar a análise e essa superficialidade pode impedi-los de desenvolver estratégias eficazes e inovadoras.
O ambiente corporativo é desafiador e competitivo, e os profissionais precisam ser resilientes para lidar com fracassos e obstáculos. A vida profissional exige foco a longo prazo, capacidade de aprender com os erros e perseverar diante das dificuldades.
Apesar da facilidade com que interagem virtualmente, a comunicação eficaz e a colaboração no ambiente de trabalho muitas vezes requerem habilidades interpessoais que não podem ser replicadas por meio de interações digitais superficiais.
Outro importante desafio, que aliás não se restringe às novas gerações, está relacionada com a melhor gestão do tempo e de tarefas frente às diversas fontes de demandas. O fluxo contínuo de distrações digitais pode comprometer a capacidade de planejar e executar projetos com autonomia. Destacam-se, portanto, profissionais que sabem estabelecer limites para o uso da tecnologia e organizar suas prioridades.
Os desafios são muitos, mas não podemos negar que a geração “Plug and Play” tem também um grande potencial no mercado de trabalho digital. As habilidades naturais de adaptação a novas tecnologias podem ser um diferencial, desde que acompanhadas por uma educação mais profunda e crítica sobre o uso dessas ferramentas, daí a importância de empresas investirem em treinamentos que ajudem os jovens a desenvolverem não apenas competências técnicas, mas também habilidades comportamentais e emocionais.
Para além disso, o uso responsável da tecnologia no ambiente de trabalho pode otimizar a produtividade e a inovação. O desenvolvimento de soluções de Inteligência Artificial (IA) e automação, por exemplo, depende de profissionais que não apenas entendam a tecnologia, mas que também saibam utilizá-la de maneira ética e segura.
Inseridos em um mundo digital que oferece inúmeras oportunidades, mas também desafios complexos para a segurança e saúde mental, o preparo para o mercado de trabalho é uma tarefa que exige esforço conjunto de educadores, pais e empregadores. Com a orientação correta, é possível transformar o potencial tecnológico dessa geração em uma força produtiva e inovadora, garantindo que ela seja capaz de lidar com os desafios do futuro de maneira ética, crítica e resiliente.
*Alessandra Borelli é sócia do Opice Blum Advogados e head da área de Desenvolvimento, Atualização e Capacitação em Ética, Direito Digital e Proteção de Dados. Sócia e CEO da Opice Blum Academy.
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