O que é autêntico e o que é apenas uma projeção dos outros? Essa é uma reflexão que leva ao autoconhecimento (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Bússola
Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 16h07.
Por Alice Salvo Sosnowski*
Você já assistiu ao filme Zelig de Woody Allen? É um pseudo-documentário de 1983 sobre a vida de um homem que alcança notoriedade por sua capacidade de imitar qualquer pessoa que encontra. Com seu talento único para o mimetismo, Zelig tem o dom de assumir a personalidade e as características de seus interlocutores. Sua capacidade de metamorfosear rapidamente se transforma em interesse midiático e Zelig é considerado um herói, um “homem-camaleão” com habilidade natural como a do réptil que se adapta ao meio para sobreviver.
O filme Zelig, na verdade, é uma metáfora do anseio mais profundo do ser humano: conseguir a aceitação das outras pessoas. De uma forma exagerada, a ficção de Woody Allen mostra a verdade por trás da vontade de ser amado: esta é uma patologia que pode asfixiar nossa individualidade.
Você já parou para refletir que isso também acontece na vida real? Pensa na carreira que escolhemos, nos filmes que assistimos, nas músicas que escutamos, nas opiniões que replicamos, nas celebridades que seguimos nas mídias sociais. Nossas escolhas também não são pautadas pela vontade de ser aceito? Saiba que essa busca pode ser bem perigosa para o bem-estar e anular a nossa verdadeira essência.
Quanto mais nos parecemos com os outros, mais nos perdemos de nós mesmos. E a autorrealização está justamente no sentido contrário: ser você mesmo. “Torna-te quem és ”, já dizia Nietzsche em uma reflexão a respeito da própria identidade. E isso passa por descobrir “o que dentro de você é você?”, ou seja, quem é você de verdade e o que é apenas cópia de outras pessoas.
Vou propor um exercício. Observe o que que você consome, como se veste, do que se alimenta, para onde viaja, o que lê. Preste atenção nas suas opiniões e comportamentos e responda: o que é autêntico e o que é apenas uma projeção dos outros? Essa é uma reflexão que leva ao autoconhecimento e garanto que é uma atividade libertadora para nossa autenticidade.
Quanto mais você descobre sua forma autêntica de ser, mais se abre um universo à sua frente. Tem sempre o que desvendar, descobrir, desabrochar. Comparo isso a um mergulho para o fundo do oceano com seus desafios e prazeres, mas uma viagem que você não vai querer parar de fazer, um exercício contínuo de auto observação.
Descobrir quem é você traz também compreensão sobre suas emoções, ideias, limites e possibilidades e te posiciona de uma forma mais assertiva diante da vida. As fichas começam a cair a cada escolha, cada caminho que você decide seguir e te dá poder para colaborar de verdade com o mundo a partir de seus verdadeiros valores e talentos.
E, aqui para nós, estamos precisando disso, não acha?! De seres humanos únicos, com dons inigualáveis que possam somar a outras individualidades e construir uma nova realidade, mais criativa, diversa e natural. Precisamos cada vez de menos cópias e mais autenticidade!
*Alice Salvo Sosnowski é jornalista, consultora de negócios e especialista em empreendedorismo e soft skills. Foi eleita em 2019 uma das Top Voices no Linkedin. Criadora da metodologia O Pulo do Gato Empreendedor, que desenvolve habilidades para os desafios da nova economia. Atua como mentora de empreendedores, startups e empresas.
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