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Novo ataque: ESG premia empresas predatórias e mundo seria melhor sem ele

Depois da bordoada da BlackRock, professor da Universidade de Nova York coloca investimento ESG novamente em xeque

O mundo ficaria melhor sem ESG? (Adam Gault/Getty Images)

O mundo ficaria melhor sem ESG? (Adam Gault/Getty Images)

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Publicado em 29 de julho de 2021 às 11h59.

Por Renato Krausz

Depois das bordoadas desferidas pelo ex-diretor de investimentos sustentáveis da BlackRock Tariq Fancy, o ESG está novamente sob duros ataques, desta vez vindos de um eminente acadêmico. O título do artigo publicado na Stanford Social Innovation Review pelo professor Hans Taparia, da Universidade de Nova York, dá logo de cara a dimensão do estardalhaço: “O mundo pode ficar melhor sem investimentos ESG”.

O ESG, só para lembrar, cria critérios para o setor financeiro analisar os riscos ambientais, sociais e de governança nas empresas. E onde está, na opinião de Taparia, o problema? Nos critérios.

“A razão é simples. A barreira para o que constitui uma boa corporação é abissalmente baixa e pode ter tornado o investimento ESG uma força maior para desestabilizar a sociedade e o planeta do que se não existisse”, escreve o professor.

Ele apregoa a ideia de que os ratings ESG oferecidos pelas empresas de classificação induzem as pessoas ao erro. “Ao contrário do que muitos investidores pensam, a maioria das classificações não tem nada a ver com a responsabilidade corporativa real no que se refere a fatores ESG. Em vez disso, o que eles medem é o grau em que o valor econômico de uma empresa está em risco devido a fatores ESG”, explica. Faz toda a diferença.

Taparia recheia o artigo com exemplos de empresas que conquistaram boas notas de ESG, embora causem, na opinião dele, estragos diversos à sociedade. E o poder dessas empresas aumenta a partir do momento em que passam a receber um fluxo muito maior de capitais e a obter crédito a taxas camaradas. Qual seria a solução? O professor defende a necessidade de um sistema de classificação inteiramente novo, “que meça os custos econômicos, humanos e ambientais das falhas de mercado causadas pelas corporações”. Nesse sistema, uma empresa não obteria uma pontuação agregada alta caso tivesse um desempenho pífio em um único fator com custos sociais e/ou ambientais relevantes.

E a consequência disso, segundo Taparia, dado que as tais falhas de mercado pululam em tudo quanto é lugar, é que boa parte das companhias em todo o planeta receberia nota baixa, limitando muito o número de oportunidades de investimento ESG. Todo o sistema poderia ser paralisado, acredita o professor.

“Talvez seja exatamente isso de que precisamos. Por muito tempo, os CEOs seguiram uma mentalidade de crescimento a todo custo para maximizar o valor aos acionistas. Apesar das catástrofes e injustiças em curso, eles estão sendo colocados sob uma luz positiva por meio de um sistema de classificação ESG que ofusca a natureza de sua cidadania corporativa. Para serem verdadeiros líderes ESG, eles terão que pagar mais aos trabalhadores, fazer produtos que sejam menos viciantes e aumentar seus custos para proteger o meio ambiente. Em outras palavras, eles podem ter que sacrificar os lucros. Ser fiel ao ESG não será tão fácil”, conclui Taparia.

Lendo o artigo, é difícil discordar totalmente dele. Mas sempre há um contraponto a ser feito. O rigor nos critérios de classificação tem aumentado, mesmo que lentamente. E não dá para negar que existe um efeito salutar causado pelo tsunami ESG no ambiente de negócios. Hordas de empresas têm olhado com mais preocupação para sua pegada de carbono, para a diversidade em seus quadros, para a cadeia de suprimentos e para o rigor anticorrupção, entre outros tantos aspectos.

Os profissionais de sustentabilidade têm sido cada vez mais procurados e as consultorias, inclusive esta de onde batuco este texto, estão reforçando os seus times e a sua atuação na área para ajudar as corporações nas transformações necessárias. Tem muito discurso vazio nisso tudo? Ô, se tem. Mas estes cedo ou tarde serão desmascarados.

Se é verdade que o mercado ainda tem uma postura, chamemos assim, “coração de mãe” para avaliar as empresas sob a ótica ESG, é hora de apertar esse cerco. E se Wall Street não o fizer, a pressão seguramente virá de outras paragens.

*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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