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No jogo do poder, quem errar menos leva

Com o retorno de Lula em agenda paz e amor e Bolsonaro abraçado ao Centrão, próxima eleição deve ter candidatos ambidestros

Montagem Exame - fotos: Bloomberg via Getty Images (Bloomberg via Getty Images/Getty Images)

Montagem Exame - fotos: Bloomberg via Getty Images (Bloomberg via Getty Images/Getty Images)

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André Martins

Publicado em 11 de março de 2021 às 19h34.

O jogo pela conquista do poder pressupõe alguém para exercer o papel de líder, que preferencialmente tenha carisma para conduzir os seguidores e sorte para estar no lugar certo na hora exata. É o maquiavelismo da virtude e da fortuna. Foi esse líder que a direita encontrou, em 2018, para derrotar o Partido dos Trabalhadores e tomar o governo federal, que nas quatro eleições anteriores havia ficado nas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O nome corporificado foi Jair Bolsonaro.

A mudança do eleitorado na última eleição presidencial não foi por fadiga de material. Afinal houve um tempo com Michel Temer para novos ares. Mas havia ainda a insatisfação com os resultados apresentados pelo governo de Dilma. Após cinco anos de gestão, ela jogou o PIB nacional ladeira abaixo, com uma recessão superior a 7% entre 2015 e 2016. Com as investigações de escândalos de dirigentes da Petrobras, a resultante foi o encolhimento dos votos de Fernando Haddad na eleição de 2018.

Bolsonaro teve a sorte de se lançar no momento certo, e capacidade de incorporar o personagem buscado pelo eleitor em oposição ao PT.

Depois de conquistado, o poder cobra adaptações para mantê-lo. E na democracia, é preciso não falhar ao preencher as expectativas populares. É de Bolsonaro que se cobra agora o desempenho eficiente. A pressão que o retorno de Lula trouxe vai crescer nos próximos meses. Há um concorrente postado, mirando em cada erro do presidente.

O governo Bolsonaro enfrenta muitos problemas herdados. E padece de certa desorganização ao se deparar com a pior pandemia da história nacional. Governos de toda parte do mundo têm registrado demanda maior por vacinas que a capacidade de produção. Mas outros obstáculos são criações próprias, como o negacionismo diante da pandemia, a recusa em comandar o combate  nacional ao vírus, mesmo com medidas paliativas, como defesa de isolamento social, redução do funcionamento da economia. E até recentemente, o hábito de não usar a máscara em ambientes com aglomeração. É um patrimônio que será apresentado em forma de campanha negativa na próxima eleição.

Há também peculiaridades ao gerir o país. Exemplo: alguns ministros somem (e isso talvez até ajude o governo), enquanto outros se movem demais em posições nem sempre naturais à atividade que deveriam exercer. O exemplo do ministro da Economia, Paulo Guedes, talvez seja mais saliente desse malabarismo administrativo.

Nesta semana, Guedes sentou-se ao lado do presidente Bolsonaro para cuidar da compra de vacinas da Pfizer. O ministro já tem sob seu controle direto os ex-ministérios da Fazenda, Planejamento, Trabalho, Previdência e Indústria. É quase um especulador imobiliário de prédios na Esplanada dos Ministérios.

Ao tratar da compra de imunizante, Guedes ainda acumulou momentaneamente a Saúde, com pitadas de Casa Civil – a pasta que naturalmente deveria coordenar ações interministeriais do governo. E isso sem deixar de participar da articulação política pela aprovação da PEC Emergencial, que divide com o general Luiz Eduardo Ramos.

Na divisão de trabalho do governo, Guedes acumula muitas partes de outros. Sorte do cidadão que ele recebe um só vencimento mensal.

Mas essa forma de operação não tem se traduzido em resultados, com algumas peças caindo da mão do malabarista, até porque ele é subtraído pelo próprio governo em certos temas. E assim, a inflação subiu, com combustíveis cada vez mais incomodando o cidadão que ainda se move pelas cidades e campos. O dólar também seguiu ao céu. Os juros de curto prazo se preparam para seguir os juros de longo prazo, que já estão mais altos. Adeus, Selic de 2%!

E o PIB cairá, com revisões sequenciais projetando menos crescimento este ano e em 2022, o tal da eleição. Além disso, o auxílio emergencial está programado para apenas quatro meses. Será mesmo? Enquanto o desemprego cresce com as cidades impactadas pela necessidade de diminuir encontros e aglomerações do povo.

A pressão para garantir a fortuna vai crescer a cada dia. Se o governo errar, a sorte pode mudar de lado. E Lula está lá, torcendo para o governo tropeçar.

Bolsonaro, que chegou ao poder como liberal, pode abandonar as privatizações para não perder votos. Abraçou o Centrão para evitar riscos de interrupção de mandato. Sua popularidade talvez esteja diretamente atrelada a programas de transferência de renda tipicamente da esquerda, na verdade implantados pela dupla PT/PSDB.

E Lula vem se lançando candidato com uma agenda de paz e amor aos empresários, à área de segurança pública, à imprensa e aos políticos. Tudo parece sinalizar que, em 2022, não teremos candidatos de esquerda, nem de direita. Serão ambidestros.

* Márcio de Freitas é analista Político da FSB Comunicação

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