Steve McCurry: “Fishermen at Weligama”, Siri Lanka, 1995. (Reprodu;áo/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 8 de maio de 2021 às 09h30.
Por Alexis Fonteyne*
Uma máxima entre especialistas e formuladores de políticas públicas diz que educação básica e formação profissionalizante são fundamentais para fazer uma inclusão social produtiva efetiva. O ensino é o caminho para fazer com que todos sejam capazes de gerar riqueza por meio de sua própria força de trabalho.
“Ensinar a pescar” é capacitar uma pessoa para um ofício, treinar, imergir no conhecimento, seja ele o tradicional repassado a um jovem aprendiz, o técnico, o científico, até o altamente especializado que detém um cientista de dados.
No Brasil, apesar dos pesados investimentos em educação básica, ainda temos baixos resultados no índice PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nossa força de trabalho segue desqualificada e os incentivos para qualificação partem muito mais da iniciativa privada (empresas e Sistema S) para atender a sua própria demanda, do que de uma política nacional estruturada de formação.
Uma política de ensino mais bem elaborada e maiores incentivos para que as pessoas tenham acesso ao estudo e possam se desenvolver plenamente já teria a sua importância e diminuiria nossas perdas de talentos, que não chegam a ser revelados em função das falhas no ensino.
“Ensinar a pescar” é necessário. Mas será suficiente?
Certamente não é! Para não perdermos a oportunidade de revelar e de reter talentos, será preciso mais do que ensino. Investir exclusivamente na formação, com rigor, alta performance e disciplina revela talentos, desperta o interesse, cria fundações e transmite conhecimento, mas se não houver ambiente para desenvolver todo esse potencial, perdemos essa riqueza.
“Tem que ter ambiente de pescaria”
Curiosamente, é sempre o Estado quem atrapalha o ambiente de negócios, seja por causas ideológicas, como no caso de países com regime socialista, nos quais a iniciativa privada era tolhida e restrita, ou seja por excesso de burocracia, regulamentações, reservas de mercado, cartórios, restrições de importações e outros, como é o caso do Brasil.
Pelo índice do Doing Business do Banco Mundial, que utiliza dez critérios para avaliar a facilidade para se fazer negócios, o Brasil, a 12ª economia do mundo, ocupa a posição 124 entre os países mais difíceis para se fazer negócios. Quando falamos do sistema tributário, estamos ainda piores, na posição 186 entre 190 países que compõem o ranking.
As dificuldades relacionadas com o excesso de obrigações acessórias, falta de governo digital, excesso de exigências desnecessárias, normas regulamentadoras que tratam de forma igual uma empresa de fundo de quintal e uma grande empresa, jogam a produtividade brasileira para baixo e criam um ambiente de negócios ruim.
Fuga de capital humano
Por mais absurdo que pareça, o Brasil tem se assemelhado ao exemplo de outros países que foram exportadores de mentes brilhantes e de grandes talentos devido à ausência ou dificuldade de ambiente de negócios. Esses foram os casos da antiga União Soviética, da Alemanha Oriental e de boa parte dos países socialistas logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
Segundo dados de 2017, estudo realizado pela OCDE mostrou que o Brasil subiu nove posições no ranking de países que mais enviam imigrantes para economias ricas, os brasileiros passaram a ocupar a 17ª posição em uma lista de 50 principais nacionalidades que emigram para os países da OCDE.
A fuga de capital humano, fenômeno também conhecido como “fuga de cérebros”, é a emigração significativa de indivíduos com aptidões técnicas ou conhecimento, motivada por fatores como a falta de oportunidades em seu país de origem. As pessoas que deixam o Brasil nessas condições são qualificadas e resilientes e tendem a se adaptar bem no exterior por estarem já acostumadas a sobreviver no péssimo ambiente de negócios brasileiro.
Essa perda de profissionais capacitados tem custos sociais altos para o Brasil, nos afasta das principais inovações e acarreta perda de competitividade global. Estamos desperdiçando talentos pela falta de um ambiente propício para retê-los
O outro lado da moeda é que as nações com um profícuo ambiente de pescaria conseguem “sequestrar” e se aproveitar dos cérebros que os países como o nosso perdem. Estudo publicado pela New American Economy em 2019 revelou que quase metade (45%) das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, que registraram uma receita de US$ 6,1 trilhões no ano anterior, foram fundadas por imigrantes ou filhos de imigrantes
Brasil Competitivo
Por todos esses motivos, devemos lutar para criar e manter um ambiente de negócios bom e capaz de reter nossos talentos. Isso pode ser feito a partir da redução do custo Brasil, retirada de reservas de mercado e adoção de medidas de simplificação. Com a melhora do “ambiente de pescaria”, teremos um Brasil mais competitivo, com mais oportunidade, com melhor ambiente de negócios e mais preparado para unir os seus talentos no enfrentamento dos próximos desafios econômicos e sociais.
*Alexis Fonteyne é engenheiro, empresário e Deputado Federal do Partido NOVO, por São Paulo.
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