70 milhões de brasileiros estão com o nome restrito (BernardaSv/Thinkstock)
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Publicado em 28 de março de 2023 às 09h30.
Uma movimentação atípica nos dois primeiros meses do ano chamou a atenção. Quase R$ 15 bilhões de créditos inadimplentes foram negociados no mercado de cessão de créditos. Normalmente, vemos esse tipo de negociação aumentar nos últimos meses do ano, quando as empresas precisam melhorar seus demonstrativos de resultado do exercício (DRE). Isso mostra que os resultados das empresas no ano de 2022 ficaram abaixo do esperado, e existe uma certa urgência em melhorar o fluxo de caixa. Um dos motivos para isso pode ser atribuído aos altos índices de inadimplência.
Segundo dados da Serasa, 70 milhões de brasileiros estão com o nome restrito, não à toa o próprio governo está se preparando para intervir nesta dinâmica via o programa “Desenrola”. No entanto, a estimativa de mercado é que o montante de dívidas inadimplentes a ser transacionado ao longo do ano chegue à marca de R$ 75 bilhões, mas com real potencial de que esse montante seja até quatro vezes maior, se comparado ao índice de transações em mercados onde essa prática é mais desenvolvida. Só pra se ter uma ideia, o total de dívida vencida que pode ser transacionada no país chega a casa de trilhão de reais, segundo estimativas.
Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 77,9% das famílias declararam ter dívidas no ano passado em 2022. Como mais gente tem dívida, os solavancos na economia fazem com que mais gente deixe de pagar seus compromissos em dia. Percentualmente, o número aplicado a um valor maior dará um valor maior no final do dia. O comprometimento da renda também está cada vez maior, tornando cada vez mais difícil as pessoas se ajustarem a condições econômicas diferentes e imprevistas, que é um dos principais motivos de levá-las à inadimplência. O consumidor, seja pessoas física ou jurídica, que contraiu dívida mas está conseguindo honrar seus compromissos não é inadimplente. Salvo quando passa a não conseguir mais honrá-los.
É nesse cenário que a venda de créditos pode ser uma verdadeira salvação para as organizações credoras. Não só para quem deseja mitigar o risco de não receber o valor devido, mas pela possibilidade de criar uma receita extraordinária no DRE. Isso sem falar no benefício que a dinâmica gera para o mercado.
Quando, por exemplo, uma carteira de crédito de clientes negativados em um banco é vendida para uma recuperadora de crédito a um valor muito inferior ao original, alguém que devia R$ 1.000 à instituição financeira pode conseguir limpar o nome com um desconto de 50%, ou mais, sobre o valor devido. O comprador daquela carteira de crédito pode oferecer mais flexibilidade de negociação da dívida. Com ela quitada e o nome limpo, essa pessoa ou empresa volta a ter crédito, a inadimplência do país cai, e o valor do crédito se torna mais acessível. Essa é uma ferramenta de funding para as empresas.
Nesse processo, uma recomendação é que os credores façam essas vendas de créditos inadimplentes e ativos por meio de plataformas digitais confiáveis, de preferência alguma que não apenas disponibilize o ambiente, mas que também ofereça suporte com relação ao valor da carteira, aos tipos de investidores mais interessantes e a forma mais segura de comercialização.
Existe um alto custo para as organizações manterem áreas de cobrança visando recuperar esses valores. Vender créditos é uma iniciativa bastante comum por parte das organizações financeiras, incluindo bancos digitais e do varejo. Mas ela é útil para toda empresa que comercializa produtos e serviços, e não tem a área de cobrança como o core business. É mais interessante melhorar o caixa a curto prazo e concentrar sua energia no core business do que ter um custo operacional de cobrança onerando a empresa com o objetivo de recuperar mais. São pouquíssimas as empresas onde o VPL deste modelo é superior ao de uma venda
*Marcel Souza é diretor comercial da DebitumX
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