Mulher em uma posição de liderança mostra o poder de transformação do mercado de trabalho (foto/Getty Images)
Bússola
Publicado em 17 de março de 2022 às 14h22.
Por Sônia Norões*
O mês das mulheres é carregado de reflexões. Se no passado a data tinha um viés comercial, hoje ela representa, entre outras coisas, a conquista de novos espaços no mercado de trabalho e cargos de liderança. Quando direcionamos a conversa para o público feminino acima dos 50 anos, os questionamentos são ainda mais sensíveis, uma vez que a carreira profissional escolhida por cada uma de nós parece ter prazo de validade. E esse é apenas um dos nossos mais profundos dilemas.
Sou diretora de Recursos Humanos e Customer Experience de umas das maiores startups de saúde do país, com mais de 60% do time formado por mulheres. No meu guarda-chuva, lidero uma equipe jovem, composta por cerca de 800 colaboradores que, na maior parte, ou está no primeiro emprego ou vivencia a primeira experiência em gestão.
Eu poderia me sentir mais confortável coordenando uma equipe com mais tempo de estrada. Por outro lado, acho extremamente prazeroso poder acompanhar e contribuir com o desenvolvimento de profissionais e líderes tão jovens que vem trazendo resultados tão positivos.
Quando me perguntam como eu faço para estar inserida em um ambiente de tecnologia e inovação, digo que a sede pelo conhecimento e a humildade precisam falar mais alto sempre. Em reuniões ou conversas informais, constantemente registro termos e informações menos familiares para depois pesquisar. Sabe esse “incômodo” que aparece quando nos sentimos “por fora” dos assuntos? Ele é fundamental para nos provocar a ampliar nosso repertório.
Nos dias atuais, ser gestor acima dos cinquenta traz desafios ainda maiores do que somente desenvolver e capacitar pessoas com autonomia. É mostrar fragilidades – e isso não tem nada a ver com a ideia de “sexo frágil”. Mostrar fragilidade é deixar claro que não sabemos tudo, que temos dificuldades, que somos feitas de carne e osso, suscetíveis a falhas. É apresentar o nosso currículo para além do que está descrito no LinkedIn. Parece contraditório, mas quem eu sou por trás do crachá me conecta melhor ao grupo de colaboradores da empresa. Sou casada, adoro cozinhar, tenho dois filhos, fui atleta, gosto de corrida de rua, faço musculação e dança. Essa sou eu.
Vejo mulheres com 40, 50, 60 anos dizerem que ficaram para trás, alegando que o tempo passou e que agora é tarde demais para se destacarem e conseguirem uma posição de prestígio. A meu ver, sair deste lugar é o primeiro passo para uma revolução. É sim um grande desafio dividir o dia a dia de uma companhia com pessoas de outra geração, mas — aqui entre nós — se a gente quiser, as diferenças podem ser complementares e isso só tem a agregar no ambiente de trabalho. Ter disposição para ensinar e humildade para aprender é uma troca inexplicável.
As mulheres são fantásticas na liderança. Sabem fazer gestão, são organizadas, observadoras e se posicionam com maestria. Por isso, para as nem tão jovens, diria para continuarem correndo atrás dos seus objetivos profissionais sem medo dos desafios que possam surgir. Já para as mulheres iniciando a carreira, aconselho que sejam persistentes na busca do conhecimento. Ser líder não é fácil. E a mulher em uma posição de liderança mostra o poder de transformação do mercado de trabalho. Mulheres, brilhem!
*Sônia Norões é diretora de RH e Customer Experience da Beep Saúde
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