Maio Amarelo chama a atenção para número de acidentes no trânsito (Instagram Shurastey/Reprodução)
Bússola
Publicado em 27 de maio de 2022 às 14h42.
Última atualização em 27 de maio de 2022 às 16h05.
Por Roberta Busch*
Na última segunda-feira, o Fusca branco do influenciador brasileiro Jesse Kozechen colidiu de frente contra um Ford Escape em uma rodovia nos Estados Unidos. Ele e seu cão Shurastey morreram na hora. A notícia comoveu as redes sociais, virou assunto nos jornais e nas rodas de conversa: como um jovem cheio de sonhos teve sua história inacabada.
Casos parecidos com esse acontecem a cada hora no Brasil. Em 31 de março, o ex-BBB Rodrigo Mussi voltava do estádio do Morumbi, em São Paulo, quando o carro do aplicativo em que ele estava bateu na traseira de um caminhão. Depois de passar por uma série de cirurgias, ele ainda se recupera. Em 5 de maio, o cantor Aleksandro, da dupla com Conrado, morreu em um grave acidente de ônibus na rodovia Regis Bittencourt, que matou outras cinco pessoas.
Poderia continuar essa lista e preencher páginas e páginas. Em 2021, foram registrados no Brasil 882.218 acidentes de trânsito, segundo dados do Registro Nacional de Acidentes, do Ministério da Infraestrutura. Pelo menos 15 mil pessoas morreram e 68 mil sofreram ferimentos graves — números bastante subestimados, considerando que outros 680 mil casos foram registrados como estado desconhecido ou não informado.
Dentre as campanhas dos meses coloridos, o movimento Maio Amarelo quer chamar a atenção justamente para o alto número de mortos e feridos no trânsito. E quero pegar uma carona para tratar das consequências disso para o sistema de saúde e para as famílias.
Uma de minhas especialidades na fonoaudiologia é o tratamento dos pacientes que chamamos de pouco responsivos. São aqueles que, por motivos diversos, respondem pouco ou quase nada aos comandos do terapeuta e aos tratamentos propostos. Nos meus quase 25 anos de prática clínica, venho estudando maneiras de tornar mais eficiente a terapia com esses pacientes.
Em grande parte dos casos, os pacientes pouco responsivos foram acometidos por doenças degenerativas graves que lhes tiram a capacidade de resposta ou por quadros demenciais. Assim, muitas vezes são pacientes já com mais idade — a maioria dos que atendo no consultório, no ambulatório ou em home care.
Mas atendo pacientes mais jovens que se enquadram nessa definição, ou seja, que por algum motivo, além das sequelas motoras e cognitivas, também podem se tornar pouco alertas. E aqui voltamos para o nosso tema principal. Boa parte desses casos se deve a traumas cranioencefálicos provocados por acidentes de trânsito.
O tratamento exige uma equipe multidisciplinar, e a recuperação pode ser bastante lenta. E envolve também um atendimento à família, cuja rotina certamente será duramente impactada.
Nesse caso, não se trata de uma predisposição genética ou da consequência de uma doença preexistente. Estamos falando das vidas de motoristas, passageiros, motociclistas, pedestres, ciclistas. E os principais causadores dessa epidemia para a qual não existem máscaras são excesso de velocidade, uso do celular ao dirigir, falta de cinto de segurança e ingestão de álcool. Aqui, o verdadeiro remédio parece ser civilizatório.
*Roberta Busch é fonoaudióloga clínica, mestre em neurociências pela Universidade Federal de São Paulo e sócia-diretora do Centro de Atendimento Avançado em Disfagia (CAAD)
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