Bússola

Um conteúdo Bússola

Monique Marcone: I-SRM inaugura era da gestão ESG de fornecedores

Gestão de compras e fornecedores planeja a estratégia para reduzir os custos com serviços de terceiros e manter a organização competitiva

Campanha da Coca-Cola foca em sustentabilidade (Coca-Cola/Reprodução)

Campanha da Coca-Cola foca em sustentabilidade (Coca-Cola/Reprodução)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 19 de abril de 2023 às 14h00.

Por Monique Marcone*

Todo consumo gera um impacto, seja nas finanças da empresa, na economia, no meio ambiente ou até na própria sociedade. No âmbito empresarial, a diligência no setor de compras passou a incluir, recentemente, uma responsabilidade para com todos aqueles que podem ser afetados por esse consumo, seja positiva ou negativamente.

O fato é que a gestão de compras e fornecedores é uma área estratégica dentro da empresa que tem a responsabilidade de equilibrar as contas dos serviços prestados por terceiros, reduzindo custos e mantendo a organização competitiva no mercado.

Nunca foi tão importante para a área de compras investigar o fornecedor, para, a partir disso, tomar a decisão mais assertiva no que diz respeito ao esforço versus impacto.

Um estudo da ONU, que teve como principal objetivo orientar empresas no processo de integração de sustentabilidade em suas cadeias, apontou a adoção de critérios ESG como um dos caminhos para essa mudança. O material ainda indica práticas como engajar-se com fornecedores sobre tópicos de sustentabilidade e direitos humanos, destacando a importância e influência de grandes empresas na promoção de práticas sustentáveis de compras.

Com a difusão das práticas ESG e a valorização da responsabilidade social empresarial, as organizações que ainda não tinham o setor de Compras alinhado às questões sociais, ambientais e de governança precisaram se adaptar. Em outras palavras, tiveram que se planejar e executar a adoção de estratégias para atender as necessidades da sociedade por Compras sustentáveis, uma modalidade de aquisição que prevê o uso eficiente de recursos materiais e a diminuição do desperdício com o objetivo de reduzir o impacto negativo.

Longe de ser uma tendência passageira de alguns setores no universo corporativo, a agenda ESG é uma temática cada vez mais determinante em várias frentes de negócios, inclusive para investidores optarem ou não por companhias.

De acordo com o Gartner, 70% dos líderes de compras e gerenciamento de fornecedores terão objetivos de desempenho alinhados à sustentabilidade ambiental até 2026. Os analistas acreditam que a sustentabilidade será um driver totalmente operacionalizado no processo de tomada de decisão por padrão.

Os parâmetros de compra sustentável estão estabelecidos na ISO 20400, que é aplicada em âmbito internacional e recomenda as melhores práticas para organizações garantirem aquisições ambiental e socialmente responsáveis, integrando a sustentabilidade em seus processos de compras.

No entanto, para ser considerada uma legítima praticante do ESG, as empresas devem ir além da autopromoção e realizar iniciativas que impactem o social, ambiental e a governança e que não sejam apenas ações isoladas.

A Unilever, por exemplo, terceira maior empresa de bens de consumo do mundo e referência em inovação no Brasil, anunciou recentemente o início da geração de energia renovável com biomassa de eucalipto para a produção do seu detergente em pó.

Em gestão de compras e fornecedores, uma das soluções que vem se mostrando eficiente ao alinhar a prática ao discurso ESG é a transformação de processos, por meio da reformulação ou criação de políticas de fornecimento sustentável, que irão nortear os principais pilares das negociações e homologação de determinado fornecedor na empresa.

A criação de uma política voltada ao tema pode não apenas ser o primeiro passo para um modelo de negócio realmente sustentável, como também ser a principal base pela qual uma empresa passará a medir dentro de sua cadeia a aderência de fornecedores utilizando sistemas de I-SRM – gestão de relacionamento com fornecedores inteligente – para aplicação e aceite dessa premissa.

Por meio de uma plataforma inteligente, robusta e segura, a empresa passa a ter um sistema integrado e automatizado que a possibilita realizar medições com os dados disponibilizados em relatórios, facilitando a investigação dos números e, assim. viabilizando a montagem de um plano de ação para aplicar em processos de homologação nas áreas de qualidade.

Sem essas ferramentas, dificilmente os responsáveis pela área de compras conseguiriam mitigar com sucesso os riscos ESG e analisar métricas que ajudam a mensurar quais Compras se transformam realmente em consumo sustentável.

Se pesquisarmos no mercado de supply chain, vamos perceber que, atualmente, há poucas plataformas inteligentes de gestão de fornecedores para incorporação de critérios avaliativos. E, entre as que existem, um número menor ainda é flexível o bastante para se adaptar às necessidades de diferentes empresas. A maioria das soluções que conhecemos oferece um workflow genérico ou com poucos recursos.

Digitalização do processo de homologação de fornecedores

Como uma líder de implantação de produtos com mais de 10 anos de experiência na área e inúmeros projetos de transição em gestão de fornecedores no currículo, percebo que o que mais impacta o amadurecimento de um processo de Compras para sustentabilidade é o nível de adaptabilidade ou flexibilidade do software utilizado para intermediar as avaliações da cadeia de valor e de fornecedores.

Com a evolução das plataformas de gestão de compras e fornecedores, atualmente é possível extrair relatórios de risco completos, acessíveis com apenas um clique. Essas ferramentas se tornaram cada vez mais atraentes à medida que o mercado passou a levar em consideração o impacto das cadeias de fornecimento em toda operação dos serviços e produtos oferecidos, ou como é composto o custo ou o esforço dessa prestação de serviços.

Estou me referindo desde indústrias têxteis, que possuem risco de trabalho escravo ou condições análogas à escravidão, até indústrias que podem sujeitar os colaboradores a condições precárias de trabalho. Quem não se recorda da polêmica em torno da construção dos estádios da Copa do Mundo no Catar?

O fato é que ter uma estratégia ESG e integrar aspectos de sustentabilidade no processo de compras e gestão de fornecedores tornou-se o que o mercado chama de BAU (sigla em inglês para business as usual).

A exigência das normas e políticas públicas traz às indústrias a necessidade de uma análise ESG de fornecedores mais robusta, atenta a questões antes não tão esperadas e cobradas pelo mercado e pelas regulamentações.

O futuro da gestão de Compras e fornecedores é sustentável

Para que as compras sustentáveis possam realmente ser implantadas em uma organização é imperativo criar processos para avaliação de fornecedores. Questionários de avaliação de maturidade em temas ESG, métricas e gerenciamento de indicadores de sustentabilidade são algumas das práticas que contribuem para uma cadeia de fornecedores mais alinhada a esses critérios.

Também devem ser pensadas estratégias que não apenas evitem impactos negativos, mas também promovam impactos positivos. Um exemplo recente é o caso da Mondelez, que implementou um plano para promover fornecedores locais e diversos.

Para avaliarmos um caso do cenário público, trazemos o seguinte exemplo: Recentemente, o Brasil realizou mudanças no regramento que envolve mineração e extração de madeira. Essa alteração necessariamente precisaria estar contemplada em um questionário que deveria ser integrado a uma ferramenta SRM. O problema, no entanto, é que a maioria dos sistemas não permitem criar condicionantes ou novas ramificações ao processo simplesmente porque na sua concepção a ferramenta só precisava ser rápida e prática, até mesmo para poder ser oferecida a preços acessíveis. Assim, ser um sistema amplamente configurável não estava planejado.

Entretanto, o universo que envolve uma supply chain evoluiu e me parece que esse modelo padrão chegou ao estresse ao ponto de eventuais novas condicionantes reais do processo de homologação em si precisarem se adaptar à rigidez da ferramenta. A solução? Plataformas inteligentes que permitam que a empresa atualize ramificações e condições no fluxo conforme vê necessidade, adequando seu gerenciamento às operações e às mudanças pelas quais passa e mantendo-se em dia com novas demandas do mercado e das regulamentações.

*Monique Marcone é Product Implementation Lead na CIAL Dun & Bradstreet no Brasil

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

4Equity - Media Ventures lança fundo de investimento em media for equity

E a confiança nos bancos digitais? Continua crescendo, obrigado!

Danilo Maeda: Pensamento sistêmico e economia circular

Acompanhe tudo sobre:Comprasgestao-de-negociosestrategias-de-marketingGestão

Mais de Bússola

Entidades alertam STF para risco jurídico em caso sobre Lei das S.A

Regina Monge: o que é a Economia da Atenção?

Brasil fica na 57ª posição entre 67 países analisados no Ranking Mundial de Competitividade Digital 

Gilson Faust: governança corporativa evolui no Brasil, mas precisa de mais