(Cris Faga/Getty Images)
Bússola
Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 21h36.
Última atualização em 1 de novembro de 2022 às 20h38.
Por que a crise parece não atingir o mercado de produtos e serviços para animais de estimação? Em 2020, ano em que a economia brasileira encolheu pelo menos 4% e diferentes atividades econômicas amargaram perdas expressivas, o setor pet teve um crescimento estimado de 13,5% em relação a 2019, com faturamento acima dos R$ 40 bilhões, de acordo o Instituto Pet Brasil. Para Nelo Marraccini, presidente-executivo do Pet Brasil, profissionalização, pioneirismo e inovação são alguns dos fatores que explicam o vigor do mercado pet brasileiro, que nunca parou de crescer e já é o terceiro maior do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
“A indústria vem se comportando de uma forma vigorosa, com lançamento frequente de produtos, benefícios e soluções para os animais e tutores. E a classe veterinária tem evoluído bastante. Percebemos um desenvolvimento de setor de forma muito alinhada. E não podemos deixar de destacar, claro, as superpets, que ajudaram a puxar o mercado para cima,” declarou Marraccini em live promovida pela Bússola nesta quarta-feira, 24 de fevereiro, sobre a expansão do setor pet no país. O webinar reuniu ainda Marcio Waldman, CEO e fundador da Petlove; Carla Alice Berl, fundadora da Rede de Hospitais Veterinários Pet Care; e Aline Prado, influenciadora digital responsável pelo perfil pet @golden.terriever, que conta as aventuras dos seus cães Golden Retriever e reúne quase 60 mil seguidores.
Na opinião dos debatedores, a mudança na relação das pessoas com os animais foi decisiva nas transformações do setor ao longo das últimas décadas. Os consumidores tornaram-se cada vez mais exigentes na busca de melhores produtos e serviços para seus bichos. E, com o isolamento social provocado pelo coronavírus, os indivíduos se aproximaram mais dos seus animais, o que ajudou a alavancar o mercado mesmo durante a pandemia.
“Quando as pessoas passaram a ficar em casa sozinhas, muitas resolveram adotar um pet. E as pessoas que já tinham animais passaram a cuidar melhor deles, por conta do tempo mais disponível em casa. O convívio mais frequente com os animais faz com que os tutores percebam melhor as condições deles e aumentem os cuidados”, afirmou o presidente-executivo do Instituto Pet Brasil. Marraccini destacou ainda o efeito da verticalização das cidades no aumento da população pet, que chega a quase 142 milhões de animais no Brasil. “A verticalização levou muitas pessoas a morarem sozinhas em apartamento e a buscarem em pets seus companheiros diários. É o grande companheiro de casais jovens sem filhos ou pessoas que moram sozinhas. São muitos fatores que impulsionam o mercado, com engrenagens que só evoluem, o que nos faz crer que é um mercado ainda em franca expansão”, disse.
Fundador e CEO da Petlove, o maior pet shop on-line do Brasil, Marcio Waldman vê uma mudança “da água para o vinho” do setor nos últimos 30 anos. Para o empreendedor, que criou o primeiro e-commerce pet do país em 1999, a transformação digital foi fundamental para a evolução do mercado e para o desenvolvimento da sua empresa. “Para além da migração do universo off para o on-line que tivemos no final dos anos 90, observamos também uma questão de humanização dos pets e aumento dos cuidados diários com os animais de estimação. Além disso, o consumidor deste setor percebeu que pode confiar em comprar seus produtos pela internet, com todos os produtos e serviços em um só lugar”, afirmou Waldman
A Petlove sintetiza dois mercados que não deixaram de crescer na crise do coronavírus: o pet e o e-commerce. Por sua natureza digital, a empresa viu suas vendas aumentarem três dígitos em relação ao projetado nos primeiros dias de pandemia. “Percebemos que talvez tivéssemos um gargalo de operação, de armazenagem e de operação importante nos próximos meses. Por isso, projetamos um novo budget para o ano e investimos para aumentar nossa capacidade logística. Passado quase um mês, voltamos a ter um crescimento de 2 dígitos de vendas, que se mantém até agora”, explicou. O executivo ressaltou ainda que a fusão com a DogHero, maior marketplace de serviços pet do Brasil, durante o período de pandemia, foi mais uma alavanca para o crescimento da empresa. “Passamos a oferecer, para além de produtos, serviços como petsitter, dogwalking e veterinários em domicílio”, completou Waldman. A Petlove fechou 2020 com mais de R$ 500 milhões de faturamento.
Para Carla Berl, fundadora da Rede de Hospitais Veterinários Pet Care, a pandemia trouxe uma mudança importante de comportamento que impactou o setor. “As pessoas passaram a valorizar coisas que antes não eram muito valorizadas. E entendo que essa mudança de pensamento do brasileiro passa pela busca de uma melhor qualidade de vida, de manter uma vida melhor. Se eu quero viver melhor, a vida dos meus pets também vai melhorar”, afirmou a médica veterinária.
Os debatedores concordaram que futuro do mercado pet no Brasil é promissor. E, para isso, contribuem a busca constante dos players do setor por inovação e a paixão do brasileiro por animais. Segundo a Dra. Carla, o desenvolvimento da medicina veterinária no país é mais um elemento de expansão e qualificação do mercado. “Começaram a ter mais faculdades, movimentos de residência e especialização. Há a preocupação cada vez maior com a promoção do bem-estar dos animais. Quanto mais hospitais veterinários, serviços de excelência, mão de obra especializada, melhor para todos: animais, tutores e profissionais”, disse.
Para Aline Prado, responsável pelo perfil @golden.terriever, a evolução do mercado se deu também por meio dos novos canais digitais. Não apenas as plataformas de vendas de produtos e serviços para os bichos, mas também as redes sociais, onde se compartilham fotos e histórias dos animais de estimação. Ali os tutores trocam experiências e participam de comunidades gigantescas de pet lovers. Foi assim que a história do seu cão Troy, com as patas traseiras paralisadas depois de um acidente, passou a inspirar outros animais especiais e a atrair o interesse de marcas pela causa. “Começamos com um propósito e o nosso reconhecimento veio de um trabalho muito maior do que somente expor fotos de um cachorro lindo nas redes. O Troy era um cachorro muito diferente, de uma raça que é muito querida, o Golden. E aquilo chamava muito a atenção. A partir daí, começamos a ser convidados por marcas para fazer ações e contar histórias para mostrar às pessoas que é possível ter uma vida normal com um cachorro especial”, concluiu.
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