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Mercado mira na agilidade do recrutamento para enfrentar déficit de TI

Executivo explica que a morosidade de alguns processos seletivos faz com que o Brasil perca bons profissionais para o exterior

Atualmente, o país tem o maior déficit de profissionais de TI do mundo (Maskot/Getty Images)

Atualmente, o país tem o maior déficit de profissionais de TI do mundo (Maskot/Getty Images)

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Publicado em 23 de março de 2022 às 17h40.

Última atualização em 24 de março de 2022 às 16h05.

O assunto é antigo, mas o problema ainda persiste. A grande dificuldade de empresas brasileiras em recrutar profissionais de tecnologia de alto nível só piora. De acordo com um levantamento da Robert Half, 63% dos CIOs (Chief Information Officer) têm dificuldade em encontrar profissionais de TI de alto nível, e 49% estão muito preocupados com a capacidade da empresa em reter profissionais de TI.

E os números não mentem: o Brasil é o 10º maior mercado do mundo no setor, e a transformação digital acelerou o déficit de profissionais de tecnologia. Atualmente, o país tem o maior déficit de profissionais de TI do mundo, com 408 mil vagas que precisam ser ocupadas imediatamente.

Tantas discussões atribuem o problema ao assédio de empresas internacionais que recrutam profissionais com salários atraentes atrelados à possibilidade de trabalhar remotamente. No entanto, o problema não é tão simples assim.

“Não dá para descartar a possibilidade de que receber cinco vezes o que o mercado brasileiro paga é tentador. Estamos em uma fase de ascensão de muitas empresas de tecnologia. Se o salário fosse o único problema, já teria sido resolvido”, afirma Pedro Luiz Pezoa, CEO da Pointer, HR Tech especializada em contratação de profissionais de tecnologia de alto nível.

O executivo alerta que o problema tem diversas camadas além do salário — o trabalho remoto, por exemplo é um grande fator decisório para o profissional migrar para o mercado gringo. A pandemia intensificou o modelo já muito usado por empresas de tecnologia, e quem adota o anywhere office já sai na frente para reter os melhores talentos do mercado.

Ainda de acordo com a Robert Half, 76% dos profissionais vêem o trabalho à distância como um modelo de operação e não como um benefício. Além disso, 38% afirmam estar dispostos a procurar um novo emprego caso a empresa na qual trabalham não esteja disposta a permitir, ao menos de forma parcial, o trabalho remoto.

Outro gargalo encontrado no setor são os modelos de recrutamento, que são longos e contraproducentes. “O profissional de tecnologia, que está em um mercado borbulhando, não vai querer participar de um processo seletivo demorado, com provas densas, complexas e entrevistas com diversos gestores”, diz Pezoa.

Dessa forma, a Pointer vem tentando mudar este cenário de recrutamento de profissionais de tecnologia, tornando o processo mais rápido e com qualidade.

Para o executivo, para resolver o problema, a primeira fase do processo seletivo não deve passar de sete dias. “É dentro deste prazo que encontramos quatro profissionais de alto nível para que os decisores concluam o processo. Além disso, alinhados com o desejo dos profissionais fora da curva, trabalhamos apenas com vagas remotas, pois percebemos que não há negociação quando o assunto é voltar para o escritório”, afirma.

A Pointer começou a operar no ano passado e já coleciona grandes players do mercado de inovação em seu portfólio: iFood, Tok&Stok, Cora, Jusbrasil, Rede ampm, bxblue, Pipefy, Gama Academy, Eureka, Pier Seguros e Promobit buscaram ajuda na RH Tech para recrutar pessoal de alta performance e agilizar o crescimento das empresas.

A startup já possui clientes internacionais que apostam no modelo de recrutamento assertivo, sinal de que o mercado norte-americano continua de olho nos profissionais brasileiros - a plataforma de ensino novaiorquina Branching Minds e a startup de aluguel de trailers Rvezy contaram com apoio da Pointer para recrutar profissionais de tecnologia.

Déficit

O mercado de startups, especialmente, sente o déficit com mais intensidade: após rodadas de investimento — principalmente aquelas que entram após a aprovação do pitch —, o crescimento precisa ser acelerado. Para isso, é preciso reter um time que faça isso acontecer.

É nesse momento que a agilidade no processo faz toda a diferença: além de não ser uma “perda de tempo” para o candidato e para a empresa, entregar um colaborador de excelência em pouco tempo é fundamental para o desenvolvimento da startup, que precisa ser exponencial aos olhos dos investidores.

De acordo com Amure Pinho, fundador do Investidores.vc, no momento de receber um aporte, uma startup apresentar um time comprometido, ágil e fora da curva é um fator importante na avaliação dos investidores.

“Ter um bom time, com habilidades e a expertise necessária para o negócio é fundamental aos olhos de investidores, e isso inclui ter profissionais de tecnologia no time”, declara Pinho.

A primeira marmoraria online do Brasil tem sentido isso na pele. A Nanoprice, startup que nasceu com o propósito de conectar arquitetos, decoradores, construtores e clientes finais, com marmorarias, vive a dificuldade em encontrar desenvolvedores e programadores.

“Quem está em fase de crescimento não consegue avançar com rapidez e competir com grandes empresas quando não possui um quadro de colaboradores completo e eficiente. O desafio, então, é reter um bom time de forma rápida para que consigamos avançar com projetos e não sobrecarregar a equipe atual”, diz Gustavo Belizário, CEO da startup.

Como resolver?

Para muitos executivos, a resposta do problema está na qualidade dos profissionais. 70% dos executivos entrevistados na pesquisa afirmaram que neste ano terão mais dificuldade para encontrar talentos no mercado e 49% deles temem perder seus profissionais de destaque.

Em 2020, já notando sinais de que esse apagão tecnológico ainda seria um problema por um bom tempo, a Sambatech, edtech que leva conhecimento a todos os cantos do país, criou a Samba Digital, unidade de negócios focada em transformação digital e que tem como objetivo ajudar outras empresas a transformar seus negócios por meio da inovação.

“Nosso foco principal é proporcionar mais agilidade e gerar resultados qualificados para os nossos clientes. Para isso, disponibilizamos times de desenvolvimento altamente capacitados que podem ser alocados em empresas de qualquer segmento de atuação, para que consigam resolver questões pontuais e que necessitam de rapidez e muito conhecimento tecnológico”, diz Mateus Magno, Co-CEO da companhia.

Nadando contra a corrente de empresas que já querem profissionais prontos, a Group Software, empresa especializada em sistemas de gestão para condomínios, shoppings e imobiliárias, tem solucionado o superaquecimento do mercado de TI com treinamento interno. Com o projeto Dev Academy, a organização contrata profissionais juniores e trabalha a evolução deles dentro de casa.

Segundo Erika Parreiras, analista de Gente e Gestão da empresa, procurar por quem ainda não é sênior reduz drasticamente o tempo de busca. Longos períodos com baixa na equipe prejudicam a produtividade do time e, em decorrência de alta sobrecarga, podem causar cancelamento de contrato com clientes e turnover com os colaboradores.

Além disso, para a analista, é missão da empresa educar o mercado e formar bons profissionais, fato que valoriza a cultura institucional e atrai trabalhadores engajados para as vagas, “pois percebem que na Group Software terão oportunidades de ascensão de cargo e um ambiente com constantes trocas de conhecimento”, diz.

Para Eduardo Menegatti, CEO da Vivalisto, primeira e maior plataforma de gestão transacional para compra e venda de imóveis, que facilita o trabalho das imobiliárias, clientes e corretores, o cenário tende a mudar somente a médio prazo, mas em uma perspectiva diferente do que o mercado tem dito.

“A solução do problema não está no aumento de profissionais treinados, o que já está acontecendo, mas em uma velocidade inferior à demanda. A tendência é a percepção de que os milhões investidos no desenvolvimento de tecnologia proprietária não trouxeram os resultados esperados”, afirma Menegatti.

Segundo ele, isso acontecerá quando surgirem cada vez mais ferramentas de desenvolvimento no code — aqueles que não demandam codificação e desenvolvimento interno. Dessa forma, as empresas poderão reduzir investimentos em tecnologia e terão soluções prontas em um prazo menor, com menos custo e mais eficiência.

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