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Marcio de Freitas: Canibalismo político devora tucanos para 2022

A tragédia tucana é o retrato da terceira via no plano nacional, porque tudo parece ser isolado no partido

Alguns parlamentares apontam solução, mas não conseguem avançar em diálogo nacional (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Alguns parlamentares apontam solução, mas não conseguem avançar em diálogo nacional (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Publicado em 22 de julho de 2021 às 16h41.

Por Marcio de Freitas*

O Bispo Sardinha deveria ser nomeado patrono histórico do PSDB. A antropofagia autofágica é uma celebração da legenda aos adversários, gratos pelo movimento derrotista interno movido pelo partido desde 2002 e mantido ativo desde então, com projeções sólidas para o futuro. É um projeto político bem realizado, iniciado com ações surgidas da negação do passado, seja recente, seja remoto.

No passado remoto, os tucanos canibalizaram FHC três vezes: 2002, 2006 e 2010. Nessas eleições, ignoraram a herança positiva das gestões do ex-presidente tucano que conseguiu estabilizar a economia, reformulou o país e avançou na agenda liberal, estabelecendo os parâmetros daquilo que viria a ser a base para o crescimento no governo Lula. Petistas agradeceram com o slogan da herança maldita.

A autodegustação atual é o esqueçam em quem votei, inculta atualização do “esqueçam o que escrevi”. Explica-se: os tucanos foram aves migratórias em 2018, quando abandonaram Geraldo Alckmin e pousaram na urna eletrônica no número 17 de Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições. O erro de associação entre imagem e sobrenomes para ganhar disputas regionais é hoje pago com muitas justificativas, nenhuma delas convincente além do conveniente oportunismo eleitoral.

A agenda social-democrata nunca passou perto da agenda de Jair Bolsonaro. O PSDB tinha ciência disso, até por conhecer bem a atuação parlamentar do então candidato do PSL. A falta de conexão intelectual ou de ação empírica foi ignorada em nome do interesse em surfar na onda antipetista — antes representada pelos próprios tucanos, mas perdida por Alckmin em 2018 pelo usucapião eleitoral de Bolsonaro, que verbalizou com naturalidade calculada o espanto de um popular diante dos escândalos da era petista.

As penas atiradas de uns contra os outros, só mostram que não há conchavo que salve os tucanos da busca pela autoextinção. Sem uma ideia para chamar de sua na praça, o partido que esteve no segundo turno em seis eleições presidenciais, lança agora como plataforma política o sedutor projeto de não ter candidato em 2022. As disputas internas aparentemente já consomem todas as forças do PSDB para entrar em concorrências com outras legendas. Melhor mesmo nem entrar em campo…

A tragédia tucana é o retrato da terceira via no plano nacional, com espaços ocupados por Lula de um lado, Bolsonaro de outro. Lideranças do partido omitem intencionalmente alguns nomes quando instados a relacionar eventuais candidatos do próprio partido. Ataques e adjetivos belicosos revoam em resposta. Os bicos afiados sangram internamente um partido com poucos parlamentares em Brasília, com forte identidade paulista, alguma novidade sulista, mas nenhum traço nacional de unidade.

O PSDB liderou, pelo governador de São Paulo, João Doria, o processo de vacinação contra a covid-19 no país. Esteve à frente desse processo e empurrou o governo federal para o mesmo caminho. Nem isso capitalizou. São Paulo cresce seu PIB a taxas melhores que o país, e puxa indicadores, mas parece estar na rabeira da política.

No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite é outro tucano que conseguiu avançar na agenda de reformas num Estado falido e que resistia há décadas a mudar. Mudou com diálogo, melhorou a gestão e não cria crises. Aponta soluções. Mas também não consegue avançar num diálogo nacional que vá além dos pampas.

O retrato do PSDB é de um partido com bons parlamentares em Brasília, como Tasso Jereissati (CE), respeitado senador que conseguiu a proeza de fazer avançar o marco regulatório do Saneamento, que vai transformar o setor no país. Mas não "parla" fora do parlamento.

Tudo parece ser isolado no partido. Ilhas que não se comunicam e que atiram umas contra as outras, numa intransigência improdutiva que só produz derrotas. E o partido insiste em exibir seus defeitos em público, escondendo qualidades só mostradas a pequenos grupos de paleontólogos. É um naufrágio anunciado em que os índios caetés (que comeram o Bispo Sardinha) observam de dentro de outros partidos, salivando com a oportunidade de saborear um pedaço dos emplumados adversários nas próximas eleições.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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