Com uma educação de qualidade, o PIB do Brasil poderia subir em até 16% (Max Mumby/Indigo / Colaborador/Getty Images)
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Publicado em 18 de abril de 2023 às 19h00.
Última atualização em 18 de abril de 2023 às 19h14.
Pensar e tratar a educação como um fator fundamental para o crescimento econômico do Brasil é entender que o desenvolvimento está condicionado a um ensino de qualidade. Um país que não investe em educação, deve esperar pouco além de uma economia vulnerável.
Além dos aspectos financeiros, o crescimento sustentável gera um ciclo virtuoso, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Quanto mais alto é o nível da educação de um país, maiores são suas taxas de crescimento.
Uma educação de qualidade influencia diretamente indicadores sociais, como nível de criminalidade, emprego, promoção da saúde pública e incentivo à ciência e à inovação. Estudos mostram que a correlação é nítida nos países em desenvolvimento. Entre as nações com renda média, como o Brasil, o produto interno bruto poderia subir em até 16%.
Na última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), os jovens brasileiros não atingiram nem a nota média de estudantes de países desenvolvidos. Isso representa para o país uma perda de 2 pontos percentuais no PIB por ano.
O Brasil é um dos últimos colocados em rankings internacionais de avaliação e seu PIB médio na última década foi de 0,26%. O mais alarmante é a reação tímida do Estado brasileiro, que pouco consegue planejar para mudar esse cenário. A miséria educacional tem consequências para todo país que considera a educação um assunto secundário.
Com escolas públicas ruins e ensino insuficiente, o Brasil compromete seu futuro. Concordo com o economista Eduardo Gianetti quando disse que “a formação de capital humano é o que define a vida de um país”.
A educação brasileira precisa de mudanças para o país crescer
A falta de profissionais qualificados no Brasil, em diversos segmentos, é o reflexo direto de uma educação deficiente. Sem ensino público de qualidade, os jovens de famílias de renda mais baixa têm uma trajetória profissional comprometida. Chegam ao mercado de trabalho só em posições de baixa qualificação e remuneração.
A defasagem que já era histórica no país se agravou com a pandemia. De acordo com o último levantamento do Inep, apenas 5% dos frequentadores do ensino público conquistam um nível adequado em matemática. Cerca de 1,9 milhão não conseguem fazer operações consideradas mais simples, como porcentagem.
Se os alunos têm todo o direito de se sentirem abandonados pelo sistema, o que dizer então dos professores da educação pública? Como parte ativa no processo ensino-aprendizagem, não é preciso muita análise para saber que eles também precisam de desenvolvimento profissional continuado.
Entretanto, em um cenário em que estão em um número bem aquém do que o necessário para suprir a demanda educacional do país, os educadores muitas vezes se sentem despreparados para o novo ensino, que, na maioria das vezes, utiliza recursos tecnológicos que requerem habilidades digitais.
Além do investimento em pessoas, é preciso um olhar para a escola, que requer infraestrutura para desenvolver atividades que exigem conectividade. Infelizmente, não é a realidade da maioria das instituições brasileiras. Atualmente, mais de 30% das escolas públicas do Brasil não têm acesso à internet.
E tudo isso provoca efeito cascata na cadeia educacional. Pesquisa do Inep mostrou que a parcela de estudantes do 2º ano do ensino fundamental com dificuldade para ler e escrever passou de 15,5%, em 2019, para 33,8% em 2021.
O ensino raso e pouco eficiente no Brasil, apesar de gerar dados alarmantes, não parece ser tratado com a devida urgência.
Políticas públicas educacionais: qual é a importância para a economia?
Mesmo quando se fala em políticas públicas para o setor, os debates mais dividem do que geram consensos. Caso típico ocorre com a discussão sobre a reforma do Novo Ensino Médio (NEM).
Além de ampliar o tempo mínimo do estudante na escola de 800 para 1.000 horas anuais, o novo sistema define uma organização curricular mais flexível e adota uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece uma série de conhecimentos, habilidades e competências que os estudantes têm o direito de aprender em cada etapa da educação básica.
Na teoria, a reforma, com seus itinerários formativos — que são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas e estudos que os estudantes poderão escolher no ensino médio —, tem como propósito assegurar uma educação de qualidade que visa a formação humana integral e a construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva e justa, buscando preparar os estudantes para o exercício pleno da cidadania e para o progresso social do país.
Na prática, o processo de implementação precária do NEM levou muitos alunos, professores, especialistas e representantes da sociedade civil a desacreditarem na reforma. A pressão para a revogação foi tão grande, que, no início de abril, defendendo que a pauta precisaria ser mais discutida pela sociedade, Lula decidiu suspender o calendário de implementação e adiar a reforma, para que ela seja aprimorada. Dessa forma, a educação vai ter de esperar… mais uma vez.
E se a educação vai mal, a economia vai pelo mesmo caminho. Na opinião do economista Alberto Ramos, "o país tem pouco tempo para mudar o quadro econômico e social, sob risco de perder governabilidade”. Segundo o diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, segundo maior banco de investimento do mundo, é preciso encontrar um crescimento mais robusto e socialmente inclusivo. E de forma rápida, porque o quadro econômico e social do país pode se agravar ainda mais.
Comparado com outros países, a educação brasileira está em último lugar em ranking de competitividade. O Brasil não investe pouco. Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que o país investiu uma média de 5,6% de seu PIB na área, uma porcentagem acima da média de 4,4% das nações da OCDE. O problema está na qualidade e na execução dos gastos.
O resultado desses números todos são estudantes que deixam os bancos escolares sem capacidade de pensamento reflexivo e o espírito crítico. Não basta destinar uma verba, estipulada por um percentual do PIB, para a educação; é preciso garantir formação educacional de qualidade, desde a base até a ponta.
Pensar em estratégias para melhorar a educação é investir no desenvolvimento econômico. É criar bases fortes para um crescimento sustentável e, principalmente, oferecer possibilidades de um país com mais qualidade de vida para todos os brasileiros.
*Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis
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