Cemitérios constituem parte da paisagem de todas as cidades (Bússola/Reprodução)
Bússola
Publicado em 3 de novembro de 2022 às 16h00.
Última atualização em 4 de novembro de 2022 às 10h15.
Há mais de 300 mil anos, na Espanha, foram realizados os primeiros ritos funerários que se tem notícia. Com a constatação de que a morte era uma certeza, o homem foi criando rituais de acordo com a sua cultura e religião para se despedir daqueles que se foram. Alguns enterravam os mortos em cavernas, outros construíam catacumbas ou templos e mumificavam os corpos sem vida. Muito depois, entre os séculos 11 e 8 a.C. surgiu a prática de incinerar os finados e guardar suas cinzas em urnas. E por volta do século 7 surgiu o costume de sepultar corpos dentro das igrejas, uma prática que se perpetuou por séculos e acabou gerando contaminações de solo e entre a população.
No Brasil, até meados do século 19, esse era um costume. Em São Paulo, por exemplo, só em 1850 o poder público decidiu pela construção de um cemitério secular, o Consolação. Os cemitérios trouxeram ganhos importantes para as cidades. Se antes eram construídos em locais mais isolados, com o crescimento urbano, aos poucos eles foram se misturando à paisagem, principalmente nos grandes centros. Ao redor do mundo, existem cemitérios famosos, que parecem museus a céu aberto, e atraem milhares de visitantes todos os anos. É o caso do Cemitério da Recoleta, na nossa vizinha Buenos Aires.
O tempo parece passar diferente dentro de um cemitério. Muitas necrópoles se destacam, ainda, pelos espaços de área verde, o silêncio e a tranquilidade. Ao longo dos séculos, os campos-santos foram evoluindo e incorporando o conceito de arquitetura emocional, ajudando a criar novas conexões e experiências nesses locais. Vejo os cemitérios como espaços para perpetuar a memória afetiva e lembrar da vida. Eles devem ser planejados para que as famílias e visitantes possam se sentir acolhidos no momento do luto e, por isso, temos buscado adaptar a infraestrutura desses locais para atender a essa realidade do acolhimento.
Estudos mostram que o ambiente pode impactar diretamente o bem-estar das pessoas. Por isso, no setor funerário, tudo é pensado e projetado especialmente para atenuar a dor do luto. Hoje, administramos 12 cemitérios no Brasil, localizados em seis estados diferentes. Cada um com sua particularidade e respeitando a cultura regional onde está inserido, mas tendo em comum um padrão de acolhimento e respeito às famílias e seus entes falecidos. Entre as práticas que adotamos, destaco, por exemplo, o fornecimento de kit lanche nos velórios, para que as famílias e seus convidados tenham mais comodidade no momento da despedida.
Para citar alguns exemplos, no Cemitério Memorial da Paz, localizado no Ceará, oferecemos ônibus para as famílias a partir de Fortaleza e região metropolitana até o município de Maracanaú. São realizadas, em média, 90 viagens por mês. Nos Cemitérios e Crematórios Parque da Colina, em Belo Horizonte e Niterói, criamos uma estrutura de café com um bufê gratuito, disponível durante todo o dia. Na Praça de Velórios da necrópole da capital mineira, temos a presença diária de um músico tocando violino e reforçando o clima de serenidade que queremos transmitir aos visitantes. Nas instalações dos velórios o mobiliário também faz a diferença com poltronas confortáveis e bancos de madeira que ajudam a criar a sensação de aconchego.
Nosso padrão arquitetônico tem foco na harmonia e sobriedade das cores e texturas, iluminação natural e utilização de formas geométricas, que ampliam a sensação de tranquilidade e conforto para que as famílias possam vivenciar o momento da melhor forma possível. Esta é uma tendência que vem sendo incorporada pelo segmento de death care no Brasil e no mundo.
Somado a isso, temos ainda a humanização e empatia praticadas pelos funcionários, desde a portaria até a área administrativa. A experiência de acolhimento e respeito precisa ser completa. Só assim os cemitérios podem deixar para trás a imagem e o tabu de um local sombrio, impessoal, frio e triste que veio se consolidando ao longo de tantos séculos.
*Lucas Provenza é CEO do Grupo Zelo
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